A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Comunicado - A Academia Itinerarium XIV em 2014 e 2015


A Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge nasceu com o objetivo de valorizar, promover, estudar e divulgar o património, a história e a cultura dos locais em torno da Ribeira de Muge, na parte que abarca essencialmente o concelho de Almeirim (os atuais lugares de Paço dos Negros, Raposa e Marianos). Neste ano de 2014, que está agora perto do fim, a academia tentou dignificar as ruínas do Paço Real da Ribeira de Muge, dotando-as de uma série de iniciativas que pretenderam elevar este espaço, no ano em que assinalaram os quinhentos anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge.

Foi um ano cheio para a academia. Em abril participámos em duas importantes iniciativas nacionais: O Dia dos Moinhos Abertos e o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Neste âmbito, promovemos visitas guiadas às ruínas do Paço Real, ou apenas ao Moinho do Fidalgo, assim como trouxemos à cena a peça “Candonga”, escrita, encenada e protagonizada pelos elementos da academia. Repetimos a dose no dia 10 de junho, com a iniciativa “Portugal em Guerras”, onde assinalamos os 100 anos do início da primeira guerra mundial, os 40 do final da Guerra Colonial, mostrando como estes eventos bélicos tiveram impacto na poesia popular. Para além disso, trouxemos ainda à cena no mesmo dia o monólogo “Tempos de Fome” e a peça “O dia prodigioso”, sobre como se viveram os tempos de guerra na Ribeira de Muge. Por fim, encerramos as nossas iniciativas com a comemoração dos 500 anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge, numa sessão onde se falou um pouco da história deste vetusto lugar, finalizado com um brinde aos 500 anos.

Posto isto, a Academia Itinerarium XIV vem pelo presente meio agradecer a todos aqueles que participaram nas nossas atividades, esperando que tenham gostado e que voltemos a ter o prazer de privar com todos em 2015. Com efeito, em 2015 iremos continuar a nossa atividade nos mesmos moldes: dedicação, voluntariado e orçamentos zero ou muito reduzidos. 2015 será também para a academia o ano em que se assinala o quingentésimo ano da nomeação de Antão Fernandes para Almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge, efeméride a que daremos o devido relevo ao longo do ano.  

Abertura do evento "Dia dos Moinhos Abertos", com a abertura do Moinho do Fidalgo a visitas.

Peça de Teatro "Candonga" - Elenco.
Iniciativa realizada no âmbito do Dia dos Moinhos Abertos

Visita temática às ruínas do paço "O Paço Real da Ribeira de Muge - um lugar de memória"
Iniciativa no âmbito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

Coro da Academia na iniciativa "Portugal em Guerras"

Peça de Teatro "O Dia Prodigioso", no âmbito da iniciativa "Portugal em Guerras"

Sessão evocativa dos 500 anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge.

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Brinde aos 500 anos do Paço Real da Ribeira de Muge.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Hoje assinalam-se 500 anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge


Sejam certos os que esta carta virem como é verdade que Diogo Rodrigues almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja recebeu de Rui Leite tesoureiro da casa del rei nosso senhor seis sacos d’irlanda …/… e assim três alcatifas de Castela, a saber: uma delas de vinte e cinco palmos que foi avaliada em três mil e seiscentos réis e outra de vinte palmos que foi avaliada em dois mil e oitocentos réis e outra de doze palmos que foi avaliada em mil e quinhentos réis as quais alcatifas são de Castela as quais coisas lhe foram entregues por Duarte Fernandes reposteiro do dito senhor e por que é verdade que do dito Rui leite recebeu as coisas sobre ditas lhe mandou fosse feita neste almoxarifado por mim Antão Fernandes escrivão que os sobre ele dito Diogo Rodrigues carreguei em receita. Feita em Almeirim aos 25 dias de Novembro de 1514. Diogo Rodrigues. Antão Fernandes

Não tendo nós conhecimento da data de inauguração do Paço Real da Ribeira de Muge (se é que houve uma inauguração oficial), podemos fixar como o dia de hoje de há 500 anos atrás o dia da conclusão deste paço. Porque é neste dia que temos conhecimento que foram entregues umas alcatifas, a que se refere o documento transcrito acima, e é este o último registo que encontramos relativo à construção/ edificação do paço. Nesta altura, estando já a receber recheio, podemos inferir que já estariam as obras concluídas e o espaço pronto a habitar. 


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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sessão evocativa


Sem dinheiros mas com muito trabalho e estudo se vai revelando e construindo a História de uma localidade: Paço dos Negros.




sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Academia Itinerarium XIV distinguida

A Academia Itinerarium XIV recebeu ontem, no âmbito das Jornadas Ecologistas Distritais d’ “Os Verdes” um “Girassol Alegre”, como reconhecimento pelo seu trabalho em prol da valorização do Paço Real da Ribeira de Muge.

Apesar de este não ser o único objeto de atenção da Academia, temos ao longo dos tempos promovido várias iniciativas neste espaço. Nenhum outro para nós se iguala, não tanto pelas questões estéticas, mas mais pelo alicerce identitário que nós, que somos antes de tudo gentes da Ribeira de Muge, aqui temos. Nada mais nos alegra que ver vir pessoas de Paço dos Negros ou de fora, para as nossas iniciativas e sentirem-se bem na nossa companhia neste espaço.

Assim, a Academia Itinerarium XIV agradece a distinção dada pel’ “Os Verdes”, prometendo tudo fazer para continuar a valorizar este espaço, e sobretudo para continuar, dentro das suas limitadas possibilidades, a elevar o nome, a história e a cultura das gentes da Ribeira de Muge. 




quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Diogo Vieira e Maria Nunes, um casal de moleiros?

Tendo por base o “Livro dos defuntos, dos baptizados e dos casados” da Freguesia de Santo António da Raposa, no período que medeia 1706-1741, ou seja, a quase totalidade da primeira metade do séc. XVIII, encontramos referência a uma série de indivíduos que aqui viviam, e que cuja constante repetição nos registos, sobretudo como “padrinhos” ou “testemunhas”. Hoje iremos deter-nos num casal: Diogo Vieira e Maria Nunes.  
Esquema genealógico de Diogo Vieira, construído através da tecnologia "My Heritage", com base nos assentos paroquiais. 

Diogo Vieira e Maria Nunes foram pais de seis crianças. De algumas temos o registo de óbito, doutros o de nascimento. Apenas de uma das filhas, Mariana (a segunda que teve com este nome), temos o assento de batismo e óbito. De destacar também o seu filho Martinho, que apesar de termos apenas o assento de óbito, (de 25 de novembro de 1736), neste vem mencionado que morreu com cerca de dois anos, pelo que poderemos deduzir que terá nascido em 1734. Dos seus filhos, apenas Maria, nascida em 1717, não temos assento de óbito. Terá chegado à idade adulta? Diogo Vieira irá morrer em a 8 de novembro de 1738, no Moinho da Raposa. Maria Nunes, voltará a casar, alguns meses depois, com Jorge Coelho, natural de Malaqueijo (atualmente pertencente ao concelho de Rio Maior). 

Para além destes assentos, que nos permitem reconstituir um pouco a vida familiar deste casal, existem vários outros, que nos permitem reconstituir um pouco da sua influência social. Com efeito, Diogo Vieira é testemunha em 10 casamentos (no total de 79 que abarca o período do livro em questão). O casal é padrinho de oito crianças e Maria Nunes é madrinha, sem o marido, de mais três crianças.

Em relação aos casamentos, poderá justificar-se um tão grande “apadrinhamento” de Diogo Vieira pelo facto de saber assinar, e possivelmente ser das poucas pessoas que o sabia fazer na altura? Seria obrigatório que as testemunhas de casamento soubessem assinar? Quanto aos batismos, mais do que analisar de quem foi padrinho (e não o foi de dois irmãos – todos os seus afilhados têm origens diversas), poderemos ver a sua importância por quem foi padrinho dos seus filhos. Com efeito, da sua filha Mariana, batizada em 1720 foram padrinhos o próprio Pároco, o padre Pedro de Barros, juntamente com Leonarda Maria, de quem falamos aqui. Aliás, Leonarda Maria já houvera sido madrinha em 1717 da sua filha Maria. As relações entre o casal Diogo Vieira e Maria Nunes e a família de Leonarda Maria não eram unidirecionais, uma vez que Maria Nunes foi madrinha em 1714 de Manuel, filho de Leonarda Maria, e Diogo Vieira será testemunha de casamento de um outro filho de Leonarda, José Marques. Qual o vínculo entre estas duas famílias? Diogo Vieira e Maria Nunes foram moradores no Moinho da Ponte Velha entre 1713 e 1720 pelo menos. Moinho este que pertencia a Leonarda Maria. Cremos poder afirmar que a relação ia além do “patrões-empregados”, mas até onde, não o sabemos.

Cabe ainda referência a um outro assento de óbito digno de nota. Trata-se do filho de Gesuína de Jesus, uma mãe solteira, que vivia em casa de Diogo Vieira, segundo o que diz o assento. Seria uma criada ou uma familiar?
Moinho da Ponte Velha, em 2010.

Quanto aos locais em que viveram Diogo Vieira e Maria Nunes, em 29 assentos, doze mencionam o local onde viviam. Se entre 1713-1720 viveram no Moinho da Ponte Velha (ainda que exista um registo que alude simplesmente à Ponte Velha), de 1721 até à morte de Diogo Vieira (1738), viveram no Moinho da Raposa, ainda que surja em dois assentos (1727, 1728) simplesmente Raposa. Já no assento do segundo casamento de Maria Nunes, menciona que o casal houvera vivido no Moinho da Várzea Redonda (que curiosamente também era propriedade de Leonarda Maria).

Os erros dos párocos nestes assentos são frequentes. À distância de 300 anos, conseguimos encontrar alguns, pelo que muitos mais haverá. Será a ausência da designação de “moinho” um simples esquecimento do padre? E seria a referência ao Moinho da Várzea Redonda uma confusão com o Moinho da Ponte Velha, onde Diogo Vieira efetivamente viveu, por serem do mesmo proprietário?

Contudo, o facto principal e que mais salta à vista é o facto de Diogo Vieira e Maria Nunes terem vivido em moinhos. Seriam um casal de moleiros? Este é um facto que não nos deixa de intrigar, na medida em que a vida num moinho não seria confortável, visto que será sempre um sítio húmido, com muita poeira e barulhento. Pouco confortável e pouco salubre. Talvez apenas a profissionalização/especialização no ofício (que tinha regimentos vindos do século XVII) possa justificar esta residência sempre em moinhos.  

Fonte:
(1706-1741). Livro dos defuntos, dos baptizados e dos casados – Raposa (Sto. António).