Tendo por base o “Livro
dos defuntos, dos baptizados e dos casados” da Freguesia de Santo António da
Raposa, no período que medeia 1706-1741, ou seja, a quase totalidade da
primeira metade do séc. XVIII, encontramos referência a uma série de indivíduos
que aqui viviam, e que cuja constante repetição nos registos, sobretudo como
“padrinhos” ou “testemunhas”. Hoje iremos deter-nos num casal: Diogo Vieira e
Maria Nunes.
Esquema genealógico de Diogo Vieira, construído através da tecnologia "My Heritage", com base nos assentos paroquiais.
Diogo Vieira e Maria
Nunes foram pais de seis crianças. De algumas temos o registo de óbito, doutros
o de nascimento. Apenas de uma das filhas, Mariana (a segunda que teve com este
nome), temos o assento de batismo e óbito. De destacar também o seu filho
Martinho, que apesar de termos apenas o assento de óbito, (de 25 de novembro de
1736), neste vem mencionado que morreu com cerca de dois anos, pelo que
poderemos deduzir que terá nascido em 1734. Dos seus filhos, apenas Maria,
nascida em 1717, não temos assento de óbito. Terá chegado à idade adulta? Diogo
Vieira irá morrer em a 8 de novembro de 1738, no Moinho da Raposa. Maria Nunes,
voltará a casar, alguns meses depois, com Jorge Coelho, natural de Malaqueijo
(atualmente pertencente ao concelho de Rio Maior).
Para além destes
assentos, que nos permitem reconstituir um pouco a vida familiar deste casal,
existem vários outros, que nos permitem reconstituir um pouco da sua influência
social. Com efeito, Diogo Vieira é testemunha em 10 casamentos (no total de 79
que abarca o período do livro em questão). O casal é padrinho de oito crianças
e Maria Nunes é madrinha, sem o marido, de mais três crianças.
Em relação aos
casamentos, poderá justificar-se um tão grande “apadrinhamento” de Diogo Vieira
pelo facto de saber assinar, e possivelmente ser das poucas pessoas que o sabia
fazer na altura? Seria obrigatório que as testemunhas de casamento soubessem
assinar? Quanto aos batismos, mais do que analisar de quem foi padrinho (e não
o foi de dois irmãos – todos os seus afilhados têm origens diversas), poderemos
ver a sua importância por quem foi padrinho dos seus filhos. Com efeito, da sua
filha Mariana, batizada em 1720 foram padrinhos o próprio Pároco, o padre Pedro
de Barros, juntamente com Leonarda Maria, de quem falamos aqui. Aliás,
Leonarda Maria já houvera sido madrinha em 1717 da sua filha Maria. As relações
entre o casal Diogo Vieira e Maria Nunes e a família de Leonarda Maria não eram
unidirecionais, uma vez que Maria Nunes foi madrinha em 1714 de Manuel, filho
de Leonarda Maria, e Diogo Vieira será testemunha de casamento de um outro
filho de Leonarda, José Marques. Qual o vínculo entre estas duas famílias? Diogo
Vieira e Maria Nunes foram moradores no Moinho da Ponte Velha entre 1713 e 1720
pelo menos. Moinho este que pertencia a Leonarda Maria. Cremos poder afirmar
que a relação ia além do “patrões-empregados”, mas até onde, não o sabemos.
Cabe ainda referência a
um outro assento de óbito digno de nota. Trata-se do filho de Gesuína de Jesus,
uma mãe solteira, que vivia em casa de Diogo Vieira, segundo o que diz o
assento. Seria uma criada ou uma familiar?
Moinho da Ponte Velha, em 2010.
Quanto aos locais em
que viveram Diogo Vieira e Maria Nunes, em 29 assentos, doze mencionam o local
onde viviam. Se entre 1713-1720 viveram no Moinho da Ponte Velha (ainda que
exista um registo que alude simplesmente à Ponte Velha), de 1721 até à morte de
Diogo Vieira (1738), viveram no Moinho da Raposa, ainda que surja em dois
assentos (1727, 1728) simplesmente Raposa. Já no assento do segundo casamento
de Maria Nunes, menciona que o casal houvera vivido no Moinho da Várzea Redonda
(que curiosamente também era propriedade de Leonarda Maria).
Os erros dos párocos
nestes assentos são frequentes. À distância de 300 anos, conseguimos encontrar
alguns, pelo que muitos mais haverá. Será a ausência da designação de “moinho”
um simples esquecimento do padre? E seria a referência ao Moinho da Várzea
Redonda uma confusão com o Moinho da Ponte Velha, onde Diogo Vieira
efetivamente viveu, por serem do mesmo proprietário?
Contudo, o facto
principal e que mais salta à vista é o facto de Diogo Vieira e Maria Nunes
terem vivido em moinhos. Seriam um casal de moleiros? Este é um facto que não
nos deixa de intrigar, na medida em que a vida num moinho não seria
confortável, visto que será sempre um sítio húmido, com muita poeira e
barulhento. Pouco confortável e pouco salubre. Talvez apenas a profissionalização/especialização
no ofício (que tinha regimentos vindos do século XVII) possa justificar esta
residência sempre em moinhos.
Fonte:
(1706-1741).
Livro dos defuntos, dos baptizados e dos
casados – Raposa (Sto. António).