A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

1º de Maio, e as Maias, tradições da ribeira de Muge.

O mês de Maio, a fama de bom trabalhador e a preguiça.
O primeiro de Maio tinha uma grande tradição em Paço dos Negros: No primeiro dia do mês de Maio ninguém podia ficar na cama quando o sol nascesse. Para não deixar entrar o Maio, diziam. Alguns homens se encarregavam de acordar todos os outros e, iam de madrugada, de porta em porta, a fazer barulho, tropelias e diabruras.

As Maias, ainda que as mulheres não saibam explicar o porquê destes costumes enraizados, que não são mais que a celebração do amor pela Natureza, as raparigas solteiras logo pelo Entrudo, mal chegava a Primavera, enfeitavam-se de flores:
«As cachopas, no trabalho, na cabeça transportavam chapéus enfeitados de flores. As primeiras flores que anunciavam a Primavera. Flores de entrudo (mimosas), amarelas, lindas de veludo. Passa o Manuel Preto peregrinando no seu burro. Manuel Preto, viandante, tinha um coração de poeta. Elas sabiam-no e incitavam-no:
– Ó senhor Manel, quer ir e mais a gente?
– Ó meninas, aonde?
– Beijar o cu ao conde!
O coração sonhador de Manuel Preto, perante a graça das raparigas, num rasgado e esvoaçante elogio, revelava-se:

O macaco do entrudo
É muito amigo de brincar
Acolá naqueles chapéus
Todo o dia anda a brilhar!»

*Do livro Histórias da Ribeira de Muge.


Alguns chapéus que as raparigas (e mulheres casadas) usavam:





 Chapéu mais usado pelas mulheres casadas que adaptavam chapéus de homens, usados por seus familiares.