A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

COMUNICADO Moinhos Abertos 2016 no Moinho do Fidalgo foram um sucesso

Descerramento do Cartaz Oficial dos Moinhos Abertos 2016

A cerimónia de Abertura contou com a presença da Sr.ª Vereadora Sónia Colaço e do Sr. Deputado Municipal António Cruz Martins, que aqui pousaram connosco para a foto. 

Iniciativa nacional, em que a Academia Itinerarium XIV participa pela terceira vez, contou este ano com um total 55 visitantes ao Moinho do Fidalgo (Paço dos Negros - Almeirim), apesar das condições adversas do tempo. Aqui esteve patente durante o fim-de-semana a exposição temática “Cereais da Ribeira de Muge: do canteiro à mesa”, que mostrava o percurso do cereal, desde que é cultivado, passando pela sua transformação no moinho, até às confeções gastronómicas.

Já no domingo tivemos uma tertúlia designada “Conversas no moinho com… Sónia Colaço, sobre «A Valorização do Património Ambiental Ribeirinho»”. Foi sem dúvida um momento apreciado pela plateia, em que todos os presentes aprenderam e interiorizaram um pouco mais a necessidade da valorização ambiental dos cursos de água, ao nível da flora, fauna e do seu papel não só no ambiente como também na sua integração no dia-a-dia de todos nós, e o quão importante e fonte de riqueza podem ser os recursos aquíferos.
Tertúlia com Sónia Colaço sobre a valorização do património ambiental ribeirinho. 

Além disto, há ainda a salientar o anúncio feito na cerimónia de abertura de um colóquio a decorrer no próximo dia 21 de maio, na Casa da Cultura da Raposa, em parceria com a Junta de Freguesia daquela localidade. Este colóquio irá incidir sobre os moinhos de vento, tendo como um dos objetivos trazer a esta zona uma realidade diferente daquela que conhecemos. O painel de oradores será constituído por um conjunto de personalidades com um percurso de investigação notável na área da molinologia e da arqueologia. Será sem dúvida um evento que marcará a forma de estar na cultura do concelho, e será um potenciador do turismo cultural. Já estão disponíveis algumas informações aqui no blog da academia sobre este colóquio, assim como um botão de acesso a um formulário para inscrição no mesmo aqui ao lado.

sábado, 9 de abril de 2016

COMUNICADO Realização do Colóquio “Sobre a Realidade dos Moinhos de Vento Portugueses”

A Academia Itinerarium XIV, em co-organização com a Junta de Freguesia da Raposa, tem o prazer de anunciar hoje, no Dia dos Moinhos Abertos, a realização de um colóquio no próximo dia 21 de maio, na Casa da Cultura da Raposa (Almeirim).

Dentro do grande tema da molinologia, este coloquio estará direcionado sobretudo para a temática dos moinhos tocados pela força do vento. Um dos objetivos passa por precisamente trazer a outra face da atividade moageira a uma região onde predominou a moagem tocadas maioritariamente pela força da água, ao longo das margens da Ribeira de Muge, ainda que com algumas exceções.

O colóquio terá um painel composto por quatro intervenções, uma das quais estará centrada na realidade da excecionalidade dos moinhos de vento da zona da Ribeira de Muge. As restantes três intervenções versarão a diversidade geográfica e pluridisciplinar da abordagem dos moinhos de vento. Assim, ser-nos-á trazida uma realidade do Distrito de Aveiro (com Armando Carvalho Ferreira), os Moinhos de Vento do Oeste (com Fátima Nunes) e ainda a Glória do Ribatejo (com Sílvia Casimiro e Rodrigo Garnelo), por oradores que são uma referência na área da molinologia e arqueologia.

O colóquio é de participação livre, contudo, pede-se inscrição para quem pretenda a pasta de documentação sobre o mesmo (resumos das comunicações, notas biográficas dos oradores, entre outros elementos). Assim, está já disponível no blog da Academia Itinerarium XIV a ligação a um formulário online de inscrição, no botão do lado esquerdo do ecrã. 

sexta-feira, 8 de abril de 2016

NOVE DE ABRIL MEU AMOR - BATALHA DE LA LYS

Perfaz amanhã, nove de Abril, 98 anos que se deu a famosa batalha de LA LYS. A nossa admiração e homenagem aos corajosos soldados portugueses. 

 Manuel António-Paço dos Negros, um dos muitos expedicionários em França.

“Verso” decerto criado, in loco, no próprio dia 9 de Abril de 1918, dia da Batalha de La Lys, retrata bem o desânimo, mas também a coragem de um soldado (que desconhecemos o nome). Foi-nos deixado por Francisco Maria, de Paço dos Negros, em manuscrito. Cedido por seu neto Samuel Tomé. (O mote é nosso, pois que está implícito nas décimas).


NOVE DE ABRIL MEU AMOR - BATALHA DE LA LYS

[Ao escrever-te estas linhas
Só chora o meu coração
Porque as palavras são minhas
Somente as letras não são.]

Nove de Abril, meu amor
Triste data em que ditei
A carta que te mandei;
Ó [minha] adorada flor
Descanso da minha dor
Fatalidades daninhas
Não pensas nem adivinhas
Quanto eu sofro minha querida
Estou entre a morte e a vida
Ao escrever-te estas linhas.

Numa horrorosa batalha
Após um grande cansaço
Fui ferido e perdi um braço
Numa chuva de metralhadora
Foi-se nossa esperança;
Falha, ou acaso maldição
Pois já por minha mão
[Era] para te [pedir] em casamento
Do meu triste sofrimento
Só chora o meu coração.

Olha leva a minha mãe
Muitos beijos e carícias
Diz que de mim tens notícias
Que estou vivo e estou bem;
Depois engana também
Minhas pobres irmãzinhas
Inocentes coitadinhas;
O sentir-te como tu te sentes
Diz-lhe [que] não és tu que mentes
Porque as palavras são minhas.

Enquanto a minha [alma] desvanece
Arranja um namorado
Que um pobre mutilado
Futuro algum te oferece;
Todo o nosso amor esquece
Fica para mim a paixão
Guarda para recordação
Esta última cartinha
Junto às outras, porque é minha,
Somente as letras não são.

Do livro Romanceiro da Ribeira de Muge.

domingo, 27 de março de 2016

COMUNICADO Programa do Dia dos Moinhos Abertos 2016 no Moinho do Fidalgo (Paço dos Negros – Almeirim)

 

A Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge vem pelo presente meio anunciar a programação do Dia dos Moinhos Abertos 2016, a desenvolver no Moinho do Fidalgo, em Paço dos Negros (Almeirim), nos próximos dias 9 e 10 de abril de 2016, das 15.00h às 18.00h. Sendo dos poucos engenhos a nível nacional, senão mesmo o único, que participa nesta iniciativa e não está funcional, e não sendo possível coloca-lo a trabalhar, haverá uma programação de atividades a desenvolver, por via a dinamizar este engenho centenário. A saber: 

  • Sessão de abertura, no sábado dia 9, às 15.00h, com o descerramento do Cartaz Oficial dos Moinhos Abertos 2016.

  • Exposição “Cereais da Ribeira de Muge – do Canteiro à Mesa”, integrada no tema anual da academia – A Cultura Popular. Aqui pretende-se mostrar todo o caminho dos cereais, nas suas três fases fundamentais: a produção agrícola, a transformação do cereal no moinho e a sua utilização na gastronomia local. A exposição versará não só objetos, como também fotografias. Esta irá estar acessível no período de abertura do moinho, referido acima. 

  • No domingo, dia 10 de abril, às 16.00h haverá no moinho uma sessão de “Conversas no Moinho com… Sónia Colaço, sobre A Valorização do Património Ambiental”. Sónia Colaço, bióloga formada pela Universidade de Aveiro, irá trazer ao Moinho do Fidalgo uma conversa ligada à temática da proteção e conservação da natureza.

O Dia dos Moinhos Abertos é uma iniciativa de âmbito nacional, que conta em 2016 com a sua 10.ª edição. É promovida pela Rede Portuguesa de Moinhos, e desenrola-se no fim-de-semana mais próximo ao Dia Nacional dos Moinhos (7 de abril). Tem como principal objetivo colocar abertos e visitáveis o maior número de engenhos no mesmo dia em todo o país. 

A Academia Itinerarium XIV participa nesta iniciativa pelo terceiro ano consecutivo, com o Moinho do Fidalgo, localizado no complexo do Paço Real da Ribeira de Muge. Este moinho, cuja data de construção exata desconhecemos, mas que terá cerca de cem anos, é um dos poucos da Ribeira de Muge que não se encontra totalmente abandonado, tendo sido palco de alguns eventos da academia além deste dia.


quinta-feira, 24 de março de 2016

Recordações de Quinta-feira-santa

AS BRINCADEIRAS

A Festa e o Sagrado de Transgressão

Dependentes de uma agricultura cujos métodos de exploração eram rudimentares, a mourejar do sol-fora ao sol-posto, as pessoas na aldeia vivem muito ligadas à Natureza. Existia uma sacralidade cósmica na relação das pessoas com a Natureza. A própria festa em comunidade rural, onde a agricultura de subsistência convive com o pequeno assalariato agrícola, por vezes sendo estas categorias assumidas pela mesma pessoa, decorre em função dos tempos sociais e do calendário religioso.
As Brincadeiras, ajuntamento anual, desfile de cultura popular, aparentando ser um mero encontro profano, mais não era que a criação, o reconhecimento de um tempo e um espaço diferenciados. O espaço temporal em que decorrem os festejos torna-se, para o povo, um espaço inscrito no tempo, tempo que é um tempo cíclico, inviolável, que aguardam ano após ano. O espaço físico sendo um espaço secular é para estas multidões rumorosas e festivas ocupado como um espaço simbólico sagrado. Povo habituado ao sofrimento, quando não à fome, sendo dois meios-dias de jejum, não há lugar sequer para a comida e a bebida, muito menos os seus excessos. Era assim criado um tempo e um espaço fortes em que as cantigas e os jogos campestres são claramente os elementos aglutinadores do grupo social que é a aldeia.
São pois estes rituais festivos campos de significação pelos quais a aldeia se comunica e se relaciona. O tempo da festa é vivido como um tempo mítico, o regresso a um passado primordial e imaginário, como que uma evocação e imitação de todos os que os precederam, rompem com as preocupações da vida quotidiana. As recordações de festas passadas e a expectativa das que hão-de vir, são memória e desejo, no qual as pessoas se sentem felizes.

Cantava-se e brincava-se sem parar. Um dos jogos era A Biloa.
Um grupo jovens, raparigas e rapazes, normalmente eram duas raparigas com as mãos agarradas fazem um arco. O restante grupo, em fila, agarrados pelos ombros, com a mãe à frente, vão passando, sucessivamente, por baixo do arco, enquanto cantam. Ao chegarem junto do arco, imploram, cantando:

Eu peço ao senhor barqueiro
Se me deixava passar
Tenho filhos pequeninos
Não os posso sustentar.

As duas raparigas que fazem de barqueiro, respondem enquanto a fila vai passando:

Passará não passará
Mas algum cá deixará
Se não for a mãe da frente
Há-de ser o filho de trás.

Perguntam, em segredo, ao último da fila, que impedem de passar: queres o sol ou queres a lua? Ou: queres a laranja ou o limão?, etc. Consoante a escolha, vão-se colocando, ora de um lado, ora do outro.
No final os cada grupo, agarrados, fazem o jogo da corda queimada. Ganha o grupo que conseguir arrastar o outro.