A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

sábado, 9 de abril de 2011

na Praça - Moda a dois passos (dos cabreiros)

Esta Moda a dois passos, cantada, recolhida em Marianos, pela sua rudeza, reflecte bem a influência cultural dos antigos cabreiros, arroteadores, tiradores de cortiça, do ambiente das tabernas, nesta região de Entre Muge e Sorraia, fronteira com a terra alentejana.
Derivada das valsas e das mazurcas, que, dizem os entendidos terá origem na Europa central, Polaca, e outras, dançadas pela alta sociedade no século XIX, definitivamente se afasta das influências palacianas.

Tenho uma concertina
De marca ladina
Feita de encomenda
Na vila de cima

E de marca boa
É de ronca forte
Que na roncou
Foi o Zé do Norte

Chega porca aqui
Chega porca ali
Ela aqui na ‘tá
Eu nunca a vi

Está nas chaparricas
Está nos chaparrais
Está nas malhadinhas
Está nos malhadais

Truz balharus
Trás balharás
Putas e cabrões
Cada vez há mais


Na Praça - Tenho uma saia nova

"Tenho uma saia nova", recolhida em Paço dos Negros, dizem as informantes ser cantada e dançada, em finais da primeira metade do século XX.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Na Praça - A criada e o patrão

Esta "A criada e o patrão", que as mulheres da Ribeira de Muge denominam de "Ó criada tu mal sabes", pela estrutura em tudo semelhante, parece tratar-se de uma versão de "A criada e o soldado" que aparece no Cancioneiro de Cesar das Neves. Diz ter aparecido, "A criada e o soldado",no Porto no ano de 1892.
eis a versão da ribeira de Muge, em que os intervenientes são uma criada e o seu patrão, um lavrador ricaço. Ricaço e abusador.

Na Praça - Troncha-la-moncha - Achita da 'nha blusa

A troncha-la-moncha, é um jogo de destreza e força, que pelo nome nos sugere ser um jogo muito antigo, quiçá remontando à dominação espanhola, mesmo a épocas medievas, um homem de joelhos e com as mãos no chão, era ladeado por outros dois, curvados, um de cada lado, semi-sentados, nas costas do primeiro; todos os outros, cada um por sua vez, em fila e em corrida, gritando bem alto: “troncha-la-moncha!”, punha as mãos nas costas do que estava de joelhos, saltava e, em cambalhota, caía de pé do lado da frente; a correr, de modo a não se atropelarem, regressavam ao ponto inicial e repetiam o salto. Esse que não conseguisse realizar com êxito o salto, ou se esquecesse de gritar “troncha-la-moncha!”, ia ocupar o lugar do que estava de joelhos. Deveriam ser lestos no salto, bem como fortes para aguentar a pressão que era exigida quando em posição de joelhos.



Na Praça - Ó Preto, ó Preto

Na taberna, os homens, já grossos, cantam o "Ó Preto, ó Preto".