A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O almoxarifado da Ribeira de Muge, cont.

Dos 14 almoxarifes que teve o Paço da Ribeira de Muge, é Antão Fernandes o único de que não se conhece documento de nomeação. Exerceu de 1515 a 1522, e é o almoxarife que mais vezes aparece em documentação referente a este paço. Este Antão Fernandes era escrivão em Almeirim, e aparece neste documento que anexamos, «almoxarife por mandado de Pedro Matela», o que talvez explique o facto.




 «Sejam certos os que esta carta virem como Antão Fernandes almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge conheceu e confessou receber de Bastião de Vargas tesoureiro da Casa da Mina 300 mil réis por mandado de El-rei nosso senhor para despesa das obras de Almeirim e dos Paços da dita ribeira de Muge e por os ditos 300 mil réis ficaram carregados em receita sobre o dito Antão Fernandes, almoxarife por mandado do contador Pedro Matela*, e vedor das obras do dito senhor, por Francisco Dias escrivão do almoxarifado de Santarém a 13 dias de Junho. Assinaram ambos aqui. Ano de mil quinhentos e quinze. CC, 2, mac 58, fol.60.





                Antão Fernandes                                     Francisco Dias»



Assinatura de Antão Fernandes

domingo, 8 de novembro de 2009

Os almoxarifado do Paço da Ribeira de Muge

Primeiro almoxarife - Diogo Rogrigues, 1511-1515
(1511-1514 almoxarife da obras do Paço)




Ch D. Manuel, Liv. 25, fol. 137

Dom Manuel etc, fazemos saber a quantos esta carta virem que Diogo Roiz nosso moço de escudaria e querendo-lhe fazer graça e mercê temos por bem e o encarregamos ora de almoxarife dos nossos Paços da Ribeira de Muja, com o qual nos praz que ele haja de mantimento em cada um ano 5 mil réis em dinheiro e dois moios de trigo e dois moios de cevada e os ditos 8 (sic) mil reis lhe sejam assentados e pagos em o nosso almoxarifado de Santarém e o trigo e a cevada no almoxarifado desta vila de Almeirim e porém mandamos xxx e etc. em forma. Dada em Almeirim aos 9 dias de Fevereiro, Diogo Vaz a fez de 1514 e com o dito mantimento serve o conselho del rei segundo nosso regimento o qual lhe será dado.


Assinatura de Diogo Roiz


sábado, 7 de novembro de 2009

Ribeira de Muge-Fontes com História

Fonte del-Rei

Fonte próxima do Paço que, segundo a tradição, foi mandada construir por D. Manuel I.



Fonte del-Rei, actualmente


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Subsídios para a História do Paço dos Negros da Ribeira de Muge

Excerto de uma Carta, extraída do Corpo Cronológico, carta de Pedro Matela,  Contador mor de Santarém e Abrantes, ao rei D. Manuel I, com data de 22 de Abril de 1511.
RETIRADOS

domingo, 1 de novembro de 2009

Um conto de Entre-Muge-e-Sorraia

Um conto que me foi contado por uma velha mulher de quase 90 anos, que relembra as narrativas que os cabreiros, caseiros, boieiros,  porqueiros, desta região "desértica" de Entre-Muge-e-Sorraia, quando outrora, atrás do gado, no corte do mato, ou a segurar o rabo do charrueco, inventavam, para à noite se deliciarem, contando uns aos outros, a ver esse que fazia melhor figura.


Vista do Vale da Ribeira da Calha do Grou

O Borrifinho e o Borrifalho


Era uma vez um regimento de soldados do rei que foram fazer um acampamento. Depois uma noite saíram para o mato e três deles perderam-se, coitadinhos. Andavam perdidos na floresta, quando ao longe viram uma luzinha, ao longe, lá muito longe.
– Temos que ir até àquela luz, para ver se alguém dá a salvação à gente – resolveram.
Chegaram a essa casa e morava lá uma velhota. Bateram à porta. A velha estava ao lume a descascar alhos. Abriu o postigo e espreitou.
– Olhe lá minha senhora, você não dá abrigo à gente. Andamos perdidos. Não sabemos onde estamos.
– Eu tenho medo vocês não me façam mal, não lhes posso dar cómodo.
– Não fazemos minha senhora. Bem vê que somos soldados do rei. A gente vem cheiozinhos de frio. Andamos perdidos. Não sabemos onde estamos, o que é que vai ser de nós, que o rei vai castigar-nos.
A velha teve pena deles, deixou-os entrar.
– Então agora a senhora não arranja alguma coisa para dar de comer à gente. Vimos cheios de fome.
– Só se for uma açordinha. Tenho pão na gaveta, faço-lhes uma açordinha – decidiu a velha.
A velha chega-se ao pé deles, com uma grande malga cheia de pão migado: – Atão como é que vocês querem o tempero, querem borrifinho ou querem borrifalho?
Eles nunca tal tinham ouvido: – O que é que será borrifinho, e o que é que será borrifalho? – interrogavam-se os magalas, a olharem uns para os outros.
– Olhem, borrifinho é assim…
E a velha pôs um gole de azeite na boca e soprava, brummmmm, a fazer um borrifinho.
– Borrifalho é o alho migado com os dentes –. E como tinha ali os alhos à mão fez o jeito de fazer logo um borrifalho.
– Oh minha senhora a gente quer só borrifinho – acabaram por decidir, enojados.
A velha que tinha acabado de descascar os alhos, migou os alhos por cima do pão, sem borrifalho, vai à almotolia encheu a boca de azeite, e vai assim com a boca por cima da açorda: brrruuummm!, a fazer o borrifinho.
– Eu não quero azeite da boca da velha. Não sou capaz de comer – disse logo o primeiro.
– Pois eu como. – Disse um dos outros dois.
– Eu também. Quero lá saber da boca da velha. Com a traça com que eu venho.
Dois comeram a açorda e um não.
Sabem o que é que aconteceu a este? Lá a uma certa hora porque não tinha comido nada, estava esbarrido com fome, e disse para os outros.
– Eu vou mas é procurar alguma coisa que se coma, que eu não aguento tanta fome.
Tacteando às escuras, meteu a mão numa gaveta; lá dentro encontrou pão e uma valente talhada de toicinho que lhe soube a pouco.
De noite a velha levantou-se, desinsofrida, e vai à gaveta à procura do toicinho.
– Qual de vocês é que comeu o meu rico toicinho? – interrogava a velha toda alvoroçada. Dei-lhes guarida, até lhes fiz uma açordinha. Ai tanta falta que me faz o meu rico toicinho! Era o toicinho com que eu untava as almorródeas! Ando cheiazinha de almorródeas.
Dizem então os soldados para aquele que não tinha comido:
– Muito bem feita!
Da velha não quiseste o borrifinho,
Pois agora comeste-lhe o toicinho!