A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

sábado, 31 de outubro de 2009

Vale João Viegas

O mais antigo documento de que temos conhecimento referenciando concretamente o Vale João Viegas, vale que atravessa toda a aldeia de Paço dos Negros, e que dá nome a uma rua, é de 1518. Contudo, pensamos poder estar este nome ligado a um tal João Viegas, cavaleiro, que no século XIII-XIV, ao tempo do rei D. Dinis, adquiriu em Santarém e seu termo, um vasto património fundiário.





«A Antão Fernandes almoxarife dos paços da ribeira de muja licença para que ele possa fazer umas moendas no Vale de João de Viegas e mercê de um chão aí junto para pomar este para sempre em fatiota. Rei.


D. Manuel, a quantos esta nossa carta virem, fazemos saber por querendo nós fazer graça e mercê a Antão Fernandes, nosso almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja temos por bem e nos praz que ele possa fazer uns moinhos no Vale de João Viegas para moverem com as águas do dito vale os quais moinhos fará pelo dito vale acima dos quais Paços no lugar onde se melhor possam fazer abrindo sua levada e enxaguadoiro e açude e bem assim nos praz que mande fazer os ditos moinhos no dito vale, lhe fazemos mercê de um chão para nele fazer horta ou pomar ou que lhe bem vier o qual chão terá cento e vinte braças de comprido e de largo quinze dos quais moinhos e chão lhe fazemos mercê livremente enfiteuta com suas entradas e saídas e serventias logradouros pelos lugares onde não fizer dano sem deles nos pagar foro algum. Porém mandamos etc. em forma. Dada em a nossa vila de Almeirim aos vinte e três dias do mês de Janeiro Gaspar Gomes o fez de 1518 anos.»

trecho do Vale João Viegas actualmente entregue ao "deus-dará"



quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O Mapa de Paço dos Negros

Mapa que foi elaborado na conclusão do aforamento e venda dos terrenos do Paço dos Negros. Foi executado por Paul Pinto de Araujo e Henrique Soares Rodrigues, no ano de 1933. É pertença da Família de Manuel Francisco Fidalgo. O original, de onde foi feita esta cópia está à guarda de um seu bisneto.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Paço da Ribeira de Muge - Da Aristocracia para o Povo

Estes documentos de algum modo completam as mudanças de titular por que passou o Paço da Ribeira de Muge, desde o século XVI até ao inicio do século XX.


retirado







Paço da Ribeira de Muge - Da Aristocracia para o Povo

Estes documentos de algum modo completam as mudanças de titular por que passou o Paço da Ribeira de Muge, desde o século XVI até ao inicio do século XX.

retirados


sábado, 24 de outubro de 2009

A Real Montaria





A importância desta galeria de monteiros é relativa, reconhecemo-lo, comparando até com outras Montarias no país. Todavia, o interesse no caso dos monteiros do Paço Real dos Negros da Ribeira de Muge está, em que apesar de todas as destruições ali havidas, ao contrário de, por exemplo Almeirim, em que não sobrou uma pedra, os aposentos da real montaria estão de pé, e o território da coutada está «ainda» praticamente virgem, pese embora a vontade da Câmara que temos, ter declarado a sua destruição e inviabilidade económica e turística, com a destruição de montado sob sua alçada, e construção de uma prisão. Veja-se também o artigo de «O Mirante» de 8 de Fevereiro de 2006. Artigo em que o jornal, ignorantemente, faz coro com o lóbi do «restopórtico», na legenda da foto «o pórtico é o que resta do Paço», bem como a declaração do senhor presidente Sousa Gomes: «O espaço pode ser urbanizado». E reveladoramente promete: «avançar com a classificação para a zona do pórtico e da capela que são propriedade do município.» Isto é, declara-se favorável à classificação e construção (que ainda não cumpriu), mas à medida da sua ignorância temática, favorável ao aterro e entulhamento da Cerca e do Paço, salão, capela, moinho, aposentos da Real Montaria, e consequentemente à sua não preservação, nem classificação. Veja-se onde a Câmara recentemente permitiu o assentamento de um estaleiro de obras: exactamente “em cima do Paço”.

A coutada pertencia às montarias de Santarém desde o primeiro quartel do século XV. Pelo gráfico, vemos que a partir da construção do Paço, em 1511, teve um incremento no número de monteiros. Bem assim, por volta de 1640, aquando da restauração da independência.

Em 1514 foi demarcada. O seu território sofreu nesta altura uma alteração. Nos primeiros cem anos ia do Moinho de Vasco Velho (Moinho de Cima, Pontão a jusante de Raposa), até Mouta de Nuno Fernandes, (Mouta das Corvas?), depois pelos Cruzetos, na ribeira da Calha do Grou, até novamente ao Moinho de Vasco Velho. Passa a englobar o território da coutada de Vale da Lama da Ribeira de Muge, e vai até Pego da Curva (por vezes refere Marmeleira), e por Espinhaço de Cão, até ao cimo da ribeira da Calha do Grou e sempre até Vasco Velho.

Estes monteiros mantinham uma certa unidade, dentro das montarias de Santarém, pois, no alvará de nomeação, onde na minuta padrão dos monteiros, está «e aos outros seus companheiros», encontramos por vezes, «e aos outros paceiros».

Artigo que saiu em 15-10-09 n'O Almeirinense.