A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

sábado, 24 de outubro de 2009

A Real Montaria





A importância desta galeria de monteiros é relativa, reconhecemo-lo, comparando até com outras Montarias no país. Todavia, o interesse no caso dos monteiros do Paço Real dos Negros da Ribeira de Muge está, em que apesar de todas as destruições ali havidas, ao contrário de, por exemplo Almeirim, em que não sobrou uma pedra, os aposentos da real montaria estão de pé, e o território da coutada está «ainda» praticamente virgem, pese embora a vontade da Câmara que temos, ter declarado a sua destruição e inviabilidade económica e turística, com a destruição de montado sob sua alçada, e construção de uma prisão. Veja-se também o artigo de «O Mirante» de 8 de Fevereiro de 2006. Artigo em que o jornal, ignorantemente, faz coro com o lóbi do «restopórtico», na legenda da foto «o pórtico é o que resta do Paço», bem como a declaração do senhor presidente Sousa Gomes: «O espaço pode ser urbanizado». E reveladoramente promete: «avançar com a classificação para a zona do pórtico e da capela que são propriedade do município.» Isto é, declara-se favorável à classificação e construção (que ainda não cumpriu), mas à medida da sua ignorância temática, favorável ao aterro e entulhamento da Cerca e do Paço, salão, capela, moinho, aposentos da Real Montaria, e consequentemente à sua não preservação, nem classificação. Veja-se onde a Câmara recentemente permitiu o assentamento de um estaleiro de obras: exactamente “em cima do Paço”.

A coutada pertencia às montarias de Santarém desde o primeiro quartel do século XV. Pelo gráfico, vemos que a partir da construção do Paço, em 1511, teve um incremento no número de monteiros. Bem assim, por volta de 1640, aquando da restauração da independência.

Em 1514 foi demarcada. O seu território sofreu nesta altura uma alteração. Nos primeiros cem anos ia do Moinho de Vasco Velho (Moinho de Cima, Pontão a jusante de Raposa), até Mouta de Nuno Fernandes, (Mouta das Corvas?), depois pelos Cruzetos, na ribeira da Calha do Grou, até novamente ao Moinho de Vasco Velho. Passa a englobar o território da coutada de Vale da Lama da Ribeira de Muge, e vai até Pego da Curva (por vezes refere Marmeleira), e por Espinhaço de Cão, até ao cimo da ribeira da Calha do Grou e sempre até Vasco Velho.

Estes monteiros mantinham uma certa unidade, dentro das montarias de Santarém, pois, no alvará de nomeação, onde na minuta padrão dos monteiros, está «e aos outros seus companheiros», encontramos por vezes, «e aos outros paceiros».

Artigo que saiu em 15-10-09 n'O Almeirinense.