A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

O desleixo, a ganância, a incúria e as lágrimas de crocodilo

Agora com a catástrofe que se abateu sobre a Madeira, voltaram as acusações e lágrimas de crocodilo.

O que se vê nesta foto penuncia uma futura catástrofe. Nem sequer é preciso ser profeta da desgraça para adivinhar isto. Basta conhecer este vale e o seu historial de cheias. Todo o aterro que se vê assenta sobre o leito de cheia, no Vale João Viegas, a 30-50 metros da Escola de Paço dos Negros. Ademais um óptimo exemplo para as crianças. Que têm a dizer sobre isto os responsáveis do Agrupamento escolar e da Autarquia e do Ambiente?

sábado, 20 de fevereiro de 2010

António Domingos

Do romanceiro local – Um romance "verso" nascido no período da Guerra 14-18.
Recolhido em Paço dos Negros, após persistentes dois anos de pesquisa.

António Domingos

Eu sei mesmo com certeza
Que eu a França vou morrer
Adeus mana Virgínia
Nunca mais te eu torno a ver

Adeus mana Luciana
Ó mana do coração
Eu agora vou para França
                                   Vou morrer de um alemão – recolhido à posteriori

Adeus ó mana Emilha
És minha mana real
Que alegria tinhas tu
Se eu voltasse a Portugal

Adeus ó sítio da França
Tens uma rosa encarnada
Onde morreu o António Domingos
Queimado de uma granada

Adeus ó sítio da França
Lá no meio tens uma flor
Adeus Conceição Jacinta
Já morreu o teu amor

Torradas novas torradas
A faca corta o limão
Já morreu o António Domingos
Cravo roxo em botão

Clique aqui: António Domingos


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Raposa - Um pouco da sua história

Um documento guardado no Patriarcado,  relata a visita que fez Feliciano Luís Gonzaga, visitador do Patriarcado, em 1760, a qual principiou em Raposa, no dia 1 de Junho, seguindo-se Lamarosa, Erra, Montargil, Chouto…, Torres Novas, e terminou em Alcanena e Monsanto a 4 de Agosto, num total de 30 paróquias.
Neste podemos confirmar a dedicação a S. João Baptista a tão desprezado capela real de Paço dos Negros.



Isaías da Rosa Pereira, Visitas paroquiais da região de Torres Novas, ano de 1760: 45:

Torre sineira da Igreja de Santo António de Raposa

domingo, 14 de fevereiro de 2010

D. Inês

D. INÊS (OU BRAVO FRANCO, D. FRANCO, GALLO FRANCO, RICO FRANCO, ETC.)

Teófilo Braga refere que “este admirável romance, coligido da tradição dos arquipélagos da Madeira e dos Açores, não tem sido até agora encontrado nas versões continentais”. Apresenta algumas versões com os nomes que usamos nos subtítulos, que relaciona com a lição castelhana:

En Madrid hay un palacio/Que le llaman Urabé/en el vive una señora/Que llaman Isabel.

Leite de Vasconcelos, por sua vez, dá-nos uma versão muito incompleta, recolhida em Lageosa, Oliveira do Hospital.

Tivemos o privilégio de, no Agosto de 2005, no vale da Ribeira de Muge, em Paço dos Negros, encontrar este pelos vistos perdido tema, que não direi que está desfigurado, mas sim e mais uma vez adaptado à realidade local. “Verso” antigo, de grande beleza e expressividade de linguagem, canta o rapto de uma donzela.

Clique aqui para ouvir D. Ines

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Fazendas de Almeirim - A sua génese

Fazendas de Almeirim é terra recente. Completaram-se em 2009, a 16 de Julho, os 50 anos da criação da paróquia de Fazendas de Almeirim. A criação da freguesia é anterior, 1956, todavia foi a paróquia que impulsionou a fundação da freguesia.
Eis um pouco da história desta, hoje vila, Fazendas de Almeirim.
Com o aforamento e emprazamento do território da Coutada, não só a Casas aristocráticas, mas também a populares, por todo o século XVIII, aumentou o número de populações que se vieram a fixar ali. Por todo o século XIX encontramos grande incremento de aforamentos, compras e vendas de terrenos na “Charneca de Almeirim”.
Extrapolando dos recenseamentos da época, dispersos em casais, no território que veio a tomar nome de Fazendas de Almeirim, viveriam já, em 1864, cerca de 1000 habitantes. Almeirim total (território actual), 4268. S. João Baptista 3181. (vila – 2100), Benfica 717; Raposa, 360. (com Alpiarça, no ano de 1858, 5657 habitantes).
As primeiras referências que encontrámos até agora, no cartório de Almeirim, ao termo “Fazendas”, são de cerca de 1880, numa fugaz aparição. É a partir do ano de 1921 que, simultaneamente com os termos “Charneca” e, por vezes, “Casais” (do Concelho), e até ao ano de 1939, o topónimo “Fazendas de Almeirim” alterna com os dois anteriores. A partir desta data, apenas é usada a actual designação de Fazendas de Almeirim.
Em 1960, no recenseamento, o primeiro em que aparece, tem Fazendas já 3134 habitantes. Freguesia, total: 4893 (incluindo já Paço dos Negros com 782 e Marianos 354, e isolados 603, saídos (a maioria) da freguesia de Raposa. No censo de 2001, tem a freguesia, 6251 habitantes.
Criado o vicariato em 1954, a freguesia em 1956, a paróquia em 1959, foi nos gloriosos anos de 1939-41, quando um povo inteiro, a rapaziada andava lá, e viveu a construção da Capela de S. José, que teve grandes impulsionadores: o Califa, o Guilherme Botas, o Amândio Pombas e muitos outros, e essa grande figura que foi o João Mateus, que cantava à Jesuína Botas, que ia buscar água à fonte, a cerca de 1km de distância:


Jesuína,
Tão ladina,
Vai à fonte
Com a tua cantarinha;
Vai à nora
E sem demora,
Enche a quarta,
Vem-te embora,
Quero beber,
Água fresquinha.

Em casa ou na rua,
Quero água da tua,
Para matar a mágoa;
Tens bom coração,
Virtude e condão,
Tem a tua água.

Foi pois, neste ano de 1941, ano da inauguração da Capela e seguintes, os das festas e das récitas populares, que Fazendas ganhou a unidade e a força que veio a permitir a criação da freguesia em 1956.