A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Estevâo Peixoto - 4º Almoxarife da Ribeira de Muge

Alguma especificidades deste almoxarifado: Era escudeiro da Casa del rei. Passou a receber 10.000 reis de ordenado, que recebeu como retroactivo.  Era obrigado a ter um cavalo, para guardar a coutada, tal como o seu sogro e antecessor, Luis da Mota.  Foi dono de moinhos na ribeira de Muge. Neste período é por vezes o Paço da Ribeira de Muge designado, simultaneamente, por Paços da Serra. Era muito religioso e das relações da Rainha D. Catarina. Fez-se sepultar no Convento da Serra tendo deixado um legado em testamento, para que os frades rezassem 50 missas por ano.


trecho de alvará de nomeação,ch D. João III, liv 33, 176v.

Dom João etc. a quantos esta minha carta virem faço saber que confiando eu de Estêvão Peixoto escudeiro de minha casa que me praz mandar e como a meu serviço cumpre tenho por bem e lhe faço mercê do ofício de almoxarife dos meus Paços da Ribeira de Muge, assim e pela maneira que o foi Luís da Mota seu sogro, por cujo falecimento vagou e com o qual ofício ele terá e arrecadará de mantimento do dia que o dito seu sogro faleceu e ele começou de essa era em diante que fora a três do mês de Agosto do ano passado de 545 e que fez por esta procuração que tirou dante o Juiz de Fora desta vila de Santarém dez mil réis em dinheiro e dois moios de trigo e dois móis de cevada que é outro tanto como o dito seu sogro tinha e havia por minhas cartas e os 10 mil réis lhe serão pagos no almoxarifado desta dita vila de Santarém e dois moios de trigo e dois móis de cevada lhe serão pagos nas Jugadas desta dita vila, os quais dois moios de cevada serão para mantimento de um cavalo que será obrigado ter continuadamente para guardar a coutada da dita ribeira como o dito seu sogro o tinha e era obrigado. Contudo oficio e mando aos almoxarifes ou recebedores do dito almoxarifado e Jugadas que lhe pagueis o dito dinheiro e cevada por esta só carta e sem mais tirar outra de minha Fazenda e pelo traslado dela que os escrivães destes almoxarifados registarão em seus livros e seu conhecimento mando aos contadores que lhe levem em conta e despesa e aos contadores destes almoxarifados e Jugadas lhe façam fazer o dito pagamento presente e sem quebra alguma e assim haverá o dito Estêvão Peixoto os prós e percalços como dito e ordenados por meu Regimento ... a fez a 30 de Setembro de 1546.


Entrega do "Banco do Rei Preto" em 1-7-2005, que estivera em Almeirim durante 50 anos.


sábado, 28 de novembro de 2009

A Rainha D. Catarina e o Paço da Ribeira de Muge

Contrariando os Bárbaros de Almeirim, os tais do poderoso lóbi do Restopórtico, o Paço da Ribeira de Muge, o único que se mantém teimosa e orgulhosamente de pé, no concelho, foi um dos locais preferidos da Rainha D. Catarina que, em meados de 500 passava longas temporadas em Almeirim.


trecho do doc, CC, 1, mac 84, fol.87

64.380 réis que fizeram de custo e despesa dos pastores das vacas e cabras da Rainha nossa senhora de 550.

Eu a Rainha, mando a vós Lucas Datença, que tendes carrego de meu tesoureiro, e a qualquer outro que ao diante tiver o dito carrego, que de dia de S. Miguel, que passou a 29 de Setembro deste ano presente de 1550 em diante, deis em cada um ano, a Estêvão Peixoto, almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja, o dinheiro e coisas abaixo declaradas que lhe mando dar pela guarda e criação das minhas vacas e cabras que andam na dita Ribeira de Muja e de que ele tem carrego:

Para dois vaqueiros, de sua soldada, quatro mil e novecentos réis;
Ao maioral três mil réis, e ao rompeiro mil e novecentos;
E para seu vestido, mil e oitocentos réis, à razão de novecentos réis a cada um;
E para seu calçado mil seiscentos e oitenta réis, à razão de setenta réis por mês a cada um;
E para soldada de dois cabreiros, quatro mil e quinhentos réis:
Ao maioral, dois mil e quinhentos réis, e ao rompeiro dois mil réis;
E para seu vestido, mil e oitocentos réis, à razão de novecentos réis a cada um;
Para seu calçado mil seiscentos e oitenta réis, à razão de oitenta réis por mês a cada um;
E para mantimento dos quatro pastores e de uma escrava minha que lhe há-de amassar e lavar a roupa, cinco moios de centeio;
E para mantimento de seus cães, três moios de trigo;
E para mantimento dos ditos pastores e escrava, vinte alqueires de azeite e quatro milheiros de sardinha, e seis dúzias de peixe seco, e vinte cabos de cebolas e alhos;
E vinte e quatro varas de burel para cobertas dos ditos quatro pastores;
E vinte e quatro varas de almafega, para suas tendas;
E assim lhe dareis mais para mantimento das bestas de serviço dos ditos pastores, um moio de cevada.
E pelo treslado deste alvará geral e seu conhecimento....

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O Paço dos Negros e a Rainha D. Catarina

É ESTE UM DOCUMENTO QUE PROVA OS INTERESSE ECONÓMICOS DA RAINHA DONA CATARINA NO PAÇO DA RIBEIRA DE MUGE.

trecho do documento, CC, 1, mac 84, fol.65.

4 mil reis que deu a Estêvão Peixoto que se lhe deviam de um moio e 36 alqueires de cevada e palha e carreto em 550.


Contadores da minha casa mando-vos que por este somente sem mais outro mandado nem consentimento leveis em conta a Álvaro Lopes meu tesoureiro 4. 000 réis que por meu mandado verbal deu e pagou a Estêvão Peixoto almoxarife d’el-rei meu senhor dos seus Paços da Ribeira de Muja por outros tantos que ele despendeu em um moio e trinta e seis alqueires de cevada que comprou para as minhas vacas que traz na dita ribeira e assim no carreto da dita cevada e de certa palha que mandou levar para as ditas vacas e outras despesas miúdas que com elas fez e este não passará pela minha chancelaria. João de Seixas o fez em Lisboa a 4 de Junho de 1550. Manuel da Costa o fez escrever.
A Rainha

Que por este somente, leveis em conta a Álvaro Lopes nosso tesoureiro quatro mil réis que por mandado verbal de V. Alteza deu e pagou a Estêvão Peixoto almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja, que os despendeu com as vacas que nela traz de V. Alteza segundo acima declaradas e que este não passará pela chancelaria.

A barbárie 2009 - aspecto actual do Paço da Ribeira de Muge




terça-feira, 24 de novembro de 2009

Um casamento na capela de S. João Baptista de Paço dos Negros

São inúmeros os casamentos que se realizaram na capela de S. João Baptista de Paço dos Negros, nos séculos passados. Dedicação de Capela até há cinco anos desconhecida, desprezada, transformada em celeiro, e que após um reboco, bem ou mal feito há dois anos, aguarda, vergonhosamente, por um telhado, prometido há muito pela Câmara Municipal de Almeirim. Espera-se que caia este Inverno?
Uma câmara que em alturas de eleições, num debate na rádio, “se gabou de nadar em dinheiro” e que o esbanja em Almeirim.





Documentos paroquiais, freguesia de Santo António de Raposa, Torre do Tombo, microfilme 1506.


Aspecto actual da capela

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Os galegos, os barrões, os bimbos, os caramelos, os ratinhos e os gaibéus




Um conto de Entre Muge e Sorraia, esta região tão deserta e tão desconhecida, zona de muitos caseiros, boieiros, cabreiros, porqueiros, onde este conto foi recolhido:
A primeira metade do século XX foi a época do pão. Semeavam-se extensas áreas de trigo em todas estas charnecas de Entre-Muge-e-Sorraia.
Mas como nessa época não havia foices caseiras que chegassem para ceifar tanto pão, vinham segadores de outras regiões do país, das Beiras principalmente e, a esses trabalhadores os de cá alcunhavam-nos de nomes vários: galegos, barrões, bimbos, caramelos, ratinhos, gaibéus.
Uma safra, um caramelo que veio a ser alcunhado de João Aldrabão, veio lá de cima ceifar para Vicentinhos, depois casou com uma cachopa que morava na Calha do Grou e foram morar numa barraca num vale que, por isso se passou a chamar “Caramelo”; já casou por pensar que assim se livraria da fome, e resolveu cá ficar para sempre.
Uns anos depois, veio um grupo de ceifeiros da terra dele e vizinhas, para ceifar trigo no Salgueiral. Por acaso o João Aldrabão foi parar a essa ceifa. Então, alguns dos mais novos já não os conhecia, começou a perguntar sobre a sua parentela.
– Eu xou filho da ti Ana Cancaburrana e do ti Jaquim Ripolecas – respondeu-lhe um dos galegos.
O João Aldrabão ao ouvir aqueles nomes, largou a foice, abraçou-se ao outro a chorar: – Atão tu éje o meu irmão Jéi, porque eu também xou da Murteirinha e também xou filho da ti Ana Cancaburrana e do ti Jaquim Ripolecas.
– Então o noxo pai? Como está ele?
– O noxo pai está no xemitério da Murteirinha.
– Então o noxo pai morreu!
– Ele não morreu, foi Deus que o matou.
– Xó xe foi à traixão! Pois que cara a cara Deus não era homem para ele, porque o noxo pai era mui valente.
– E a noxa courela? A têm xemeado de trigo?
– Xim. Ainda o ano paxado deu o mijaneiro da noxa mana Ana, três vezes rajinho.
– E a noxa mana Rosa, deve já estar uma mulherjinha…
Está mui valente, mas danhou-xe.
– Atão ela morde na gente?
– Não, mas começa a roncar como os porcos, agarra-xe aos homens que nem com um pau cheio de zagarrunchos xe dejapega.
Nesse grupo andava um ceifeiro dos Paços, de alcunha o Até Gozas, por sinal amigo de trunfar a cachorra; ao saber do parentesco do galego com o Aldrabão, a meter a pichinha, disse para o irmão do João Aldrabão:
– Ó gaibéu, ê tenhe ouviste dezer que bocêses qande vãim ceifari p’ó Ribateijo deixum a mulher intregue ó padre.
– Nã xinhor. A gente quando vem ó Ribatejo leva a mulher ó xapatero, e ele coge-lhe a paxaxa com uma linha de xapatero. E a ponta que crexe a gente mete-lha no cu.
– Ó raio!...
E o ribatejano gozão, queimou-se, até deu dois pulos: – Vá meter a ponta no cu dos filhos da ti Ana Cancaburrana!

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O almoxarifado da Ribeira de Muge, cont.

Por mais que os que regem esta terra,  queiram fazer de conta que o Paço nunca existiu, logo não existe, ele existe mesmo.

Luis da Mota, terceiro almoxarife


Dom João etc. a quantos esta nossa carta virem fazemos saber que confiando nós de Luís da Mota, cavaleiro da nossa casa que neste nos servirá bem e fielmente e com todo cuidado que cumpre a nosso serviço e a boa guarda dos nossos Paços da Ribeira de Muja, e das coisas nossas que em este estão, querendo-lhe fazer graça e mercê temos por bem e o damos daqui em diante por almoxarife dos ditos Paços, assim e pela maneira que o foi Antão Fernandes que o dito ofício tinha e se finou e porém mandamos ao nosso contador de Santarém e a todos os nossos oficiais e para quem esta nossa carta for mostrada, e o conhecimento pertencer que hajam daqui em diante ao dito Luís da Mota por almoxarife dos ditos paços e o meta em posse do dito ofício e lhe faça entregar todas as coisas que em ele estão de que o dito Antão Fernandes tinha cuidado e lhe deixar o dito ofício servir e dele usar como havia por o dito regimento e provisão dele que o dito cargo tinha sem lhe nisso pôr dúvida nem embargo algum com o qual ofício queremos que haja de mantimento em cada um ano 8 mil rei e dois moios de trigo e dois moios de cevada que é outro tanto como sempre tinha o dito Antão Fernandes, segundo vimos por certidão da dita coutada de Santarém que proveu o regimento da carta (?) tinha e haverá o pagamento do dito dinheiro por esta guisa a saber: os ditos 8 mil réis no almoxarifado da dita vila de Santarém e os dois moios de trigo por a renda que tereis nos moinhos da dita ribeira e os dois moios de cevada que lhe damos para um cavalo que será obrigado a ter continuadamente para guardar a coutada da dita ribeira segundo o fazia o dito Antão Fernandes lhe pagará o nosso almoxarife d’Almeirim e mandamos os ditos almoxarifados tanto de Santarém como de Almeirim que lhe paguem o dito dinheiro trigo e cevada por esta só carta sem mais tirar outra de nossa fazenda e por o traslado dela que se registará em seus livros por os escrivães destes almoxarifados em seu livro mandamos que lhe seja levada em conta e ao dito contador que o fará assinar por o qual Luís da Mota jurou em a nossa cláusula aos santos evangelhos que bem e verdadeiramente serve o dito cargo e lhe fica registado de sua moradia e guarda que tinha em nossa casa. Dada em Lisboa a 30 de Maio, Pedro Fernandes o fez de 1522 anos.(D. João III, 51,126).

Assinatura indecifrada.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Moinhos, caminhos, e descaminhos da Ribeira de Muge

Teve a Ribeira de Muge ao longo de seis séculos cerca de 20 moinhos, os quais foram recebendo designações diversas. Tiveram como construtores, donatários ou arrendatários, as mais diversas personagens, desde moleiros, criados, clérigos, frades, escudeiros, almoxarifes, desembargadores, fidalgos.
De entre outros, as referências ao moinho do Paço, do Pinheiro e da Ponte Velha, remontam a finais do século XV, inícios de XVI, anterior à construção do Paço. Era seu titular Vasco Palha, contador-mor de Santarém e almoxarife no Paul da Serra, na ribeira de Muge. Moinhos estes, e terrenos, que cedeu em escambo ao rei D. Manuel para a construção do Paço.
São contudo, três moinhos a sul de Raposa, aqueles cujas referências são as mais precoces.
Vemos em uma carta de D. Duarte, de 1434, na qual, por mor de uma contenda, foi ordenado fazer a demarcação dos concelhos de Muge e Santarém, pela estrada que vai para Coruche, pelo moinho da Riguefeira: «…as terras e termos daqui em diante sobre que a dita contenda é, será partida e declarada por esta guisa que se segue: e assim como vai da estrada pelos moinhos da Riguefeira para Coruche, e que da estrada para fora da contra Muja fique por seu termo e desce pelas outras divisões de uma e outra contra parte segundo ao que o concelho é divisado e demarcado e o concelho de Santarém haverá por seu termo da dita estrada para cima e em tal guisa que os moinhos que se chamam da Riguefeira fiquem em sua terra e seu termo». (ficaria este no concelho de Santarém e dois no de Muge).
Termo este, Regueifeira, que delimita a montante o paul de Muge, como confirmam várias cartas de D. Duarte, em que o dito paul vai desde a Ponte da vila até à Regueifeira, ou vice-versa.
Termo este que tomaria, ainda no século XV, o nome de Moinho de Vasco Velho, designação que manteria durante vários séculos e que aparece na delimitação da mata e coutada da Ribeira de Muge, até ao século XVIII, onde sempre diz: desde o moinho de Vasco Velho; com o tempo alternando a montante até: Mem Fernandes, Pego da Curva, Marmeleira…
Outros moinhos e outras designações se foram construindo e tomando.
O Porto da Regueifeira em 1459 era designado de Porto de Lançarote, do nome do seu titular, grada figura, morador em Muge. Teve outros titulares como, Aires de Sousa Coutinho e sua mulher, Filipa da Cunha, quando em 1568, sob a designação de “Moinho junto do Pontão”, foi feita esmola aos frades do convento de Nossa Senhora da Serra. Doação que durou até ao século XIX.
Este Porto da Regueifeira, em 1434 Lançarote, e Pontão desde meados do século XVI, vem confirmar sulcos ancestrais, bem racionais por sinal, já que evitavam penosos declives e encurtavam distâncias, como se pode hoje confirmar no terreno. no mapa anexo pode ver-se a estrada do Convento da Serra ao Pontão.)
O Porto da Corte dos Pegos (actual estrada da Raposa), aparece no século XVI, a encimar a Coutada das Éguas que vai desde o Porto da Regueifeira, até ao Porto das Cortes dos Pegos. Pegos das Ferrarias que ainda hoje são conhecidos e cantados, na Raposa.




Moinho da Ponte Velha



Hoje os caminhos da Ribeira de Muge são outros. São descaminhos. São caminhos de interesses. São caminhos de ignorância. A ribeira está a saque. Poluída. Abandonada há mais de 30 anos. Indivíduos que deveriam ser responsáveis, enchem a boca na sua defesa e ignoram-na. Baseando-se em conhecimentos que não têm, sem qualquer estudo científico que sustente a sua decisão, alguns sem conhecerem sequer onde fica a Ribeira, além da incúria que patenteiam para com os monumentos ainda de pé, agem como mercenários em terra alheia, preparando-se para lhe dar a machadada final. Será legítima a indignação dos cidadãos conscientes? Será que não é legítimo a um cidadão interrogar-se: Porquê?

Ribeira de Muge entulhada e poluída






terça-feira, 17 de novembro de 2009

Campinos da Ribeira de Muge


«Manuel de Abreu nós el-rei vos enviamos muito saudar encomendamos-vos e mandamos que tanto que esta virdes compres doze vacas muito pequenas e as mais formosas e remendadas que puderdes haver e dois touros isso mesmo pequenos e formosos e tanto que os tiverdes comprados os envieis por um homem que para isso tomamos com este nosso moço de estribeira que a isso enviamos que os traga aos nossos Paços da Ribeira de Muge para aí andarem e o dito homem vos levará conta de Diogo Rodrigues almoxarife dos ditos Paços que declarará que os recebeu de nós e ficam sobres eles carregados em receita e por ele mandamos que aos nossos contadores que vos levem em conta o que custaram e isto cumpri assim com toda a diligência e brevidade por que cumpre assim o nosso serviço. Escrita em Lisboa aos 20 dias de Agosto André Pires o fez de 1513. E assim comprais também dois bois para andarem com um carro. Rei.» (CC, 1, maço 13, fol. 43).

(Em recibo, de 30 de Setembro, assinado pelo Almoxarife das Obras, Diogo Rodrigues, diz o custo de cada uma das 16 peças.)

Temos ouvido, por vezes, opinião de que na Ribeira de Muge nunca houve campinos. Manda a verdade dizer que na Ribeira de Muge haverá pelo menos 500 anos que existe a actividade ligada aos toiros, como se pode ver na carta acima, em que nos anos da construção do Paço da Ribeira de Muge, logo vieram 12 vacas, 2 bois e dois toiros.
Várias herdades na Ribeira de Muge, como os Gagos e a Ponte Velha, os tiveram, e outras como nas Talasnas parece que mantêm ainda a criação de toiros bravos.

“Último” campino da Ribeira de Muge” que morreu em Maio de 2007 e, até morrer, o víamos passar na sua bicicleta, a fazer o percurso Várzea Redonda – Paço dos Negros, sempre fardado a rigor.

A nossa homenagem a António Simões.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Paço dos Negros romano - Ponte Romana

Pegão de ponte; romana?, na ribeira de Muge, no sítio do Arco, lugar de Ponte Velha, junto a Paço dos Negros. (descoberta pelo Mestre Eurico Henriques)
Serviria a via Santarem-Évora
(consultar: http://www2.ipa.min-cultura.pt/pls/dipa/wsearch2.psitio



Antigo Mapa da estrutura viária da peninsula Ibérica

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Paço dos Negros da Ribeira de Muge Romano


Cerâmicas encontradas no Paço dos Negros da Ribeira de Muge



(Associação de defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Paço dos Negros da Ribeira de Muge, romano


Moeda romana – AEZ – de Valentinianus, século V – Paço dos Negros
(Associação de defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O almoxarifado da Ribeira de Muge, cont.

Dos 14 almoxarifes que teve o Paço da Ribeira de Muge, é Antão Fernandes o único de que não se conhece documento de nomeação. Exerceu de 1515 a 1522, e é o almoxarife que mais vezes aparece em documentação referente a este paço. Este Antão Fernandes era escrivão em Almeirim, e aparece neste documento que anexamos, «almoxarife por mandado de Pedro Matela», o que talvez explique o facto.




 «Sejam certos os que esta carta virem como Antão Fernandes almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge conheceu e confessou receber de Bastião de Vargas tesoureiro da Casa da Mina 300 mil réis por mandado de El-rei nosso senhor para despesa das obras de Almeirim e dos Paços da dita ribeira de Muge e por os ditos 300 mil réis ficaram carregados em receita sobre o dito Antão Fernandes, almoxarife por mandado do contador Pedro Matela*, e vedor das obras do dito senhor, por Francisco Dias escrivão do almoxarifado de Santarém a 13 dias de Junho. Assinaram ambos aqui. Ano de mil quinhentos e quinze. CC, 2, mac 58, fol.60.





                Antão Fernandes                                     Francisco Dias»



Assinatura de Antão Fernandes

domingo, 8 de novembro de 2009

Os almoxarifado do Paço da Ribeira de Muge

Primeiro almoxarife - Diogo Rogrigues, 1511-1515
(1511-1514 almoxarife da obras do Paço)




Ch D. Manuel, Liv. 25, fol. 137

Dom Manuel etc, fazemos saber a quantos esta carta virem que Diogo Roiz nosso moço de escudaria e querendo-lhe fazer graça e mercê temos por bem e o encarregamos ora de almoxarife dos nossos Paços da Ribeira de Muja, com o qual nos praz que ele haja de mantimento em cada um ano 5 mil réis em dinheiro e dois moios de trigo e dois moios de cevada e os ditos 8 (sic) mil reis lhe sejam assentados e pagos em o nosso almoxarifado de Santarém e o trigo e a cevada no almoxarifado desta vila de Almeirim e porém mandamos xxx e etc. em forma. Dada em Almeirim aos 9 dias de Fevereiro, Diogo Vaz a fez de 1514 e com o dito mantimento serve o conselho del rei segundo nosso regimento o qual lhe será dado.


Assinatura de Diogo Roiz


sábado, 7 de novembro de 2009

Ribeira de Muge-Fontes com História

Fonte del-Rei

Fonte próxima do Paço que, segundo a tradição, foi mandada construir por D. Manuel I.



Fonte del-Rei, actualmente


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Subsídios para a História do Paço dos Negros da Ribeira de Muge

Excerto de uma Carta, extraída do Corpo Cronológico, carta de Pedro Matela,  Contador mor de Santarém e Abrantes, ao rei D. Manuel I, com data de 22 de Abril de 1511.
RETIRADOS

domingo, 1 de novembro de 2009

Um conto de Entre-Muge-e-Sorraia

Um conto que me foi contado por uma velha mulher de quase 90 anos, que relembra as narrativas que os cabreiros, caseiros, boieiros,  porqueiros, desta região "desértica" de Entre-Muge-e-Sorraia, quando outrora, atrás do gado, no corte do mato, ou a segurar o rabo do charrueco, inventavam, para à noite se deliciarem, contando uns aos outros, a ver esse que fazia melhor figura.


Vista do Vale da Ribeira da Calha do Grou

O Borrifinho e o Borrifalho


Era uma vez um regimento de soldados do rei que foram fazer um acampamento. Depois uma noite saíram para o mato e três deles perderam-se, coitadinhos. Andavam perdidos na floresta, quando ao longe viram uma luzinha, ao longe, lá muito longe.
– Temos que ir até àquela luz, para ver se alguém dá a salvação à gente – resolveram.
Chegaram a essa casa e morava lá uma velhota. Bateram à porta. A velha estava ao lume a descascar alhos. Abriu o postigo e espreitou.
– Olhe lá minha senhora, você não dá abrigo à gente. Andamos perdidos. Não sabemos onde estamos.
– Eu tenho medo vocês não me façam mal, não lhes posso dar cómodo.
– Não fazemos minha senhora. Bem vê que somos soldados do rei. A gente vem cheiozinhos de frio. Andamos perdidos. Não sabemos onde estamos, o que é que vai ser de nós, que o rei vai castigar-nos.
A velha teve pena deles, deixou-os entrar.
– Então agora a senhora não arranja alguma coisa para dar de comer à gente. Vimos cheios de fome.
– Só se for uma açordinha. Tenho pão na gaveta, faço-lhes uma açordinha – decidiu a velha.
A velha chega-se ao pé deles, com uma grande malga cheia de pão migado: – Atão como é que vocês querem o tempero, querem borrifinho ou querem borrifalho?
Eles nunca tal tinham ouvido: – O que é que será borrifinho, e o que é que será borrifalho? – interrogavam-se os magalas, a olharem uns para os outros.
– Olhem, borrifinho é assim…
E a velha pôs um gole de azeite na boca e soprava, brummmmm, a fazer um borrifinho.
– Borrifalho é o alho migado com os dentes –. E como tinha ali os alhos à mão fez o jeito de fazer logo um borrifalho.
– Oh minha senhora a gente quer só borrifinho – acabaram por decidir, enojados.
A velha que tinha acabado de descascar os alhos, migou os alhos por cima do pão, sem borrifalho, vai à almotolia encheu a boca de azeite, e vai assim com a boca por cima da açorda: brrruuummm!, a fazer o borrifinho.
– Eu não quero azeite da boca da velha. Não sou capaz de comer – disse logo o primeiro.
– Pois eu como. – Disse um dos outros dois.
– Eu também. Quero lá saber da boca da velha. Com a traça com que eu venho.
Dois comeram a açorda e um não.
Sabem o que é que aconteceu a este? Lá a uma certa hora porque não tinha comido nada, estava esbarrido com fome, e disse para os outros.
– Eu vou mas é procurar alguma coisa que se coma, que eu não aguento tanta fome.
Tacteando às escuras, meteu a mão numa gaveta; lá dentro encontrou pão e uma valente talhada de toicinho que lhe soube a pouco.
De noite a velha levantou-se, desinsofrida, e vai à gaveta à procura do toicinho.
– Qual de vocês é que comeu o meu rico toicinho? – interrogava a velha toda alvoroçada. Dei-lhes guarida, até lhes fiz uma açordinha. Ai tanta falta que me faz o meu rico toicinho! Era o toicinho com que eu untava as almorródeas! Ando cheiazinha de almorródeas.
Dizem então os soldados para aquele que não tinha comido:
– Muito bem feita!
Da velha não quiseste o borrifinho,
Pois agora comeste-lhe o toicinho!