A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

2015: O ano em que assinalam os 500 anos de Antão Fernandes como almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge


Assinatura de Antão Fernandes

Depois de em 2014 ter assinalado os 500 anos da finalização do Paço Real da Ribeira de Muge, em 2015 irá a Academia assumir como efeméride do ano a tomada de Antão Fernandes como almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge. 

Não temos conhecimento da data exata da sua nomeação, se é que teve uma nomeação oficial. No final de 1514 o cargo de almoxarife ainda era exercido por Diogo Rodrigues. Datado de 13 de junho de 1515, num documento em que Antão Fernandes assume receber 300$000 da Casa da Mina para pagamento de obras nos paços de Almeirim e da Ribeira de Muge, surge referido pela primeira vez como titular do almoxarifado do Paço Real da Ribeira de Muge, cargo para o qual houvera sido nomeado por Pedro Matela, Contador Mor de Santarém e Abrantes e Corregedor perpétuo da Vila de Almeirim. Talvez por ter sido nomeado por Pedro Matela, Antão Fernandes nunca teve um alvará de nomeação régia, como os restantes almoxarifes. Ou pelo menos é esta a razão mais plausível que podemos apontar para o facto de o desconhecermos.

Reprodução do documento onde Antão Fernandes é designado pela primeira vez como almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge



Antão Fernandes foi nomeado em maio de 1504 como escrivão do Almoxarifado de Almeirim. Enquanto exerceu o cargo no Paço Real da Ribeira de Muge, onde estava obrigado a viver em permanência, obteve autorização do rei para construir um moinho no Vale João Viegas, que acreditamos que seja um dos que chegou ao início do séc. XX. Morreu no exercício deste cargo, por volta de 1522 (é neste ano que é nomeado Luís Mota como almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge, por morte de Antão Fernandes). 

domingo, 4 de janeiro de 2015

A arte da caça no Paço Real da Ribeira de Muge

Nove moios de milho anuais para as aves do Paço da ribeira de Muge. Nove moios perfariam cerca de oito mil quilos.

Sendo o Paço erguido para o "desenfadamento" do rei, estas aves eram certamente os falcões tanto de Alto-voo como de Baixo-voo, usadas nas caçadas reais: duas técnicas de caça.

«Alto-voo
A ave é largada do punho para o ar para que “remonte”,
isto é, para que ascenda sobre o terreno de caça até se colocar
alto, onde aguardará, descrevendo círculos, ou “tornos”, que a
peça de caça seja levantada pelo falcoeiro, normalmente com a
ajuda de cães.
É também designado lance de “altanaria”, ou “voo de espera”.
O ataque é realizado em rapidíssimo voo descendente, no
qual o falcão intercepta a presa, “ preando” no ar, ou derribando
a presa ao chão.
Os lances de altanaria praticam-se em grandes espaços
abertos e caçam-se voláteis, ou espécies de pena (patos, sisões,
faisões, perdizes, pombos, etc.)

Baixo-voo
Modalidade de caça na qual se utilizam açores, gaviões e
algumas espécies do género aquila.
A ave é lançada do punho enluvado do falcoeiro no encalço
da peça de caça, quando esta já se encontra em voo, ou em corrida.
A ave caçadora realiza um voo de sprint, descrevendo uma
trajectória recta da luva até à presa, de pelo, ou de pena, sendo
por isso também chamado “lance à vista”, ou ainda “lance a
braço-tornado”?». (Cetraria, uma arte medieval, arquivo histórico municipal, torre de almedina)


«Sejam certos os que este conhecimento virem como é verdade que Antão Fernandes almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge recebeu de Afonso Monteiro almoxarife das Jugadas de Santarém os nove moios de milho que era ciente recebesse para despesa das aves dos ditos Paços os quais nove moios de milho são do ano passado de 518 e porque é verdade que os dele recebeu lhe dei este por ele assinado. Feito por mim Cristóvão Dias escrivão dos ditos paços que os sobre ele dito almoxarife carreguei em receita. Feito aos III dias do mês de Maio de mil 519 anos.

Antão Fernandes                               Cristóvão Dias»

(cf. CC, 2, maço 84, doc.146). CC, 2, maço 81, doc.122)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Comunicado - A Academia Itinerarium XIV em 2014 e 2015


A Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge nasceu com o objetivo de valorizar, promover, estudar e divulgar o património, a história e a cultura dos locais em torno da Ribeira de Muge, na parte que abarca essencialmente o concelho de Almeirim (os atuais lugares de Paço dos Negros, Raposa e Marianos). Neste ano de 2014, que está agora perto do fim, a academia tentou dignificar as ruínas do Paço Real da Ribeira de Muge, dotando-as de uma série de iniciativas que pretenderam elevar este espaço, no ano em que assinalaram os quinhentos anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge.

Foi um ano cheio para a academia. Em abril participámos em duas importantes iniciativas nacionais: O Dia dos Moinhos Abertos e o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. Neste âmbito, promovemos visitas guiadas às ruínas do Paço Real, ou apenas ao Moinho do Fidalgo, assim como trouxemos à cena a peça “Candonga”, escrita, encenada e protagonizada pelos elementos da academia. Repetimos a dose no dia 10 de junho, com a iniciativa “Portugal em Guerras”, onde assinalamos os 100 anos do início da primeira guerra mundial, os 40 do final da Guerra Colonial, mostrando como estes eventos bélicos tiveram impacto na poesia popular. Para além disso, trouxemos ainda à cena no mesmo dia o monólogo “Tempos de Fome” e a peça “O dia prodigioso”, sobre como se viveram os tempos de guerra na Ribeira de Muge. Por fim, encerramos as nossas iniciativas com a comemoração dos 500 anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge, numa sessão onde se falou um pouco da história deste vetusto lugar, finalizado com um brinde aos 500 anos.

Posto isto, a Academia Itinerarium XIV vem pelo presente meio agradecer a todos aqueles que participaram nas nossas atividades, esperando que tenham gostado e que voltemos a ter o prazer de privar com todos em 2015. Com efeito, em 2015 iremos continuar a nossa atividade nos mesmos moldes: dedicação, voluntariado e orçamentos zero ou muito reduzidos. 2015 será também para a academia o ano em que se assinala o quingentésimo ano da nomeação de Antão Fernandes para Almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge, efeméride a que daremos o devido relevo ao longo do ano.  

Abertura do evento "Dia dos Moinhos Abertos", com a abertura do Moinho do Fidalgo a visitas.

Peça de Teatro "Candonga" - Elenco.
Iniciativa realizada no âmbito do Dia dos Moinhos Abertos

Visita temática às ruínas do paço "O Paço Real da Ribeira de Muge - um lugar de memória"
Iniciativa no âmbito do Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.

Coro da Academia na iniciativa "Portugal em Guerras"

Peça de Teatro "O Dia Prodigioso", no âmbito da iniciativa "Portugal em Guerras"

Sessão evocativa dos 500 anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge.

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Brinde aos 500 anos do Paço Real da Ribeira de Muge.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Hoje assinalam-se 500 anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge


Sejam certos os que esta carta virem como é verdade que Diogo Rodrigues almoxarife dos Paços da Ribeira de Muja recebeu de Rui Leite tesoureiro da casa del rei nosso senhor seis sacos d’irlanda …/… e assim três alcatifas de Castela, a saber: uma delas de vinte e cinco palmos que foi avaliada em três mil e seiscentos réis e outra de vinte palmos que foi avaliada em dois mil e oitocentos réis e outra de doze palmos que foi avaliada em mil e quinhentos réis as quais alcatifas são de Castela as quais coisas lhe foram entregues por Duarte Fernandes reposteiro do dito senhor e por que é verdade que do dito Rui leite recebeu as coisas sobre ditas lhe mandou fosse feita neste almoxarifado por mim Antão Fernandes escrivão que os sobre ele dito Diogo Rodrigues carreguei em receita. Feita em Almeirim aos 25 dias de Novembro de 1514. Diogo Rodrigues. Antão Fernandes

Não tendo nós conhecimento da data de inauguração do Paço Real da Ribeira de Muge (se é que houve uma inauguração oficial), podemos fixar como o dia de hoje de há 500 anos atrás o dia da conclusão deste paço. Porque é neste dia que temos conhecimento que foram entregues umas alcatifas, a que se refere o documento transcrito acima, e é este o último registo que encontramos relativo à construção/ edificação do paço. Nesta altura, estando já a receber recheio, podemos inferir que já estariam as obras concluídas e o espaço pronto a habitar. 


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segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Sessão evocativa


Sem dinheiros mas com muito trabalho e estudo se vai revelando e construindo a História de uma localidade: Paço dos Negros.