A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

sábado, 18 de outubro de 2014

Os Azulejos do Paço Real da Ribeira de Muge – nos 500 anos da sua conclusão

O azulejo é um elemento que nos chega por herança árabe. Surge na segunda metade do séc. XV dois tipos de azulejos, que foram designados por “mudéjares” ou “hispano-mouriscos”, devido à sua origem no Reino de Granada, último reduto árabe na Península Ibérica. Foram produzidos em várias cidades andaluzes, com especial destaque para Sevilha e Málaga. O primeiro tipo designa-se por azulejo de corda seca, em que “os desenhos eram limitados por sulcos preenchidos com uma mistura de óleo de linhaça e manganês que, após a cozedura, funcionavam como uma barreira que impedia a separação das cores” (Santos, 2009: 19). Já nos azulejos de arestas “o isolamento das cores era obtido por arestas salientes, moldadas no próprio barro antes da cozedura” (idem). As primeiras aplicações em Portugal foram feitas no início do séc. XVI, com azulejos hispano-mouriscos importados de Sevilha. A este facto não terá sido estranha a visita de D. Manuel I à Alhambra, em Granada, onde terá contactado com este tipo de revestimento.

Azulejo do tipo "Corda Seca" originário do Paço Real da Ribeira de Muge.
Em exposição no Museu Municipal de Almeirim.

Azulejo do tipo "Aresta" originário do Paço Real da Ribeira de Muge.
Em exposição no Museu Municipal de Almeirim.

Sendo construído no início do séc. XVI, foi com toda a certeza profusamente decorado o Paço Real da Ribeira de Muge com estes azulejos. Contudo, não chegaram aos nossos dias. Com efeito, quando Vasconcellos (1926), visita este local relata que já existiam poucos, existindo ainda um banco revestido deles. Levou alguns para o Museu do Carmo, oferta de Manuel Francisco Fidalgo, à época proprietário do paço. Evangelista (2011), alude à possibilidade dos azulejos que se encontram na exposição do Museu Arqueológico do Carmo, identificados com “proveniência desconhecida”, serem originários daqui.




O dito banco que Frazão de Vasconcellos menciona ainda hoje existe, e é o das fotos acima. Está revestido na sua grande maioria por azulejos com um padrão verde, azul e amarelo. Tem outros azulejos que cremos terem-lhe sido adicionados posteriormente. Para além destes, existem ainda mais alguns, muito fragmentados espalhados em alguns bancos exteriores. Da mesma forma, podemos encontrar seis exemplares praticamente intactos na exposição do Museu Municipal de Almeirim.


Banco no complexo das ruínas do Paço que apesar de já praticamente desprovido de azulejos, ainda tem alguns resistentes bocados a cobri-lo, como o do pormenor da segunda imagem. 

Bibliografia: 
EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.
SANTOS, Hugo Miguel Aguiar (2009). Azulejo não é crime! Prova final de licenciatura apresentada ao departamento de Arquitetura da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra.
VASCONCELLOS, Frazão de (1926). “O Paço dos Negros da Ribeira de Muge e os seus almoxarifes”, separata da publicação Brasões e Genealogias. Lisboa: Tipografia do Comércio.

http://embuscadopatrimonio.blogspot.pt/2014/04/contemplo-estas-ruinas-seculares-restos.html#gpluscomments


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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Registos Paroquiais e a Paróquia de Santo António da Raposa

Os assentos paroquiais em Portugal datam do séc. XIV, quando em 1352 D. Afonso IV ordena em carta enviada aos bispos portugueses que os recebimentos (casamentos) fossem arrolados perante tabelião e registados em livro. Já em 1536, no Sínodo de Lisboa, é publicada a Constituição do Arcebispo de Lisboa (ao qual a Paróquia de Santo António da Raposa pertencia), onde ser prevê que em cada paróquia se registasse os óbitos e os batismos num livro (o mesmo, mas em duas partes diferentes). 

Em 1563, no Concílio de Trento, estende-se a todo o mundo católico a obrigatoriedade de registar todos os casamentos e batismos. Contudo, nem todos o fizeram de imediato. Em 1614 o Papa Paulo V torna obrigatório o registo dos óbitos. Em maio de 1640 determina-se que cada igreja do Arcebispado de Lisboa tivesse os livros determinados pelo concílio.

Quanto à paróquia de Santo António da Raposa, que aqui nos interessa, só temos conhecimento do seu primeiro livro de registos iniciado em 1706. Se já existiam anteriormente as obrigações de proceder a esses registos, porque razão tal não era feito? Será que não existia paróquia? Será que por ser isolada, estas “normas” foram sendo ignoradas, por incúria, por desleixo ou simplesmente por falta de informação? (a paróquia da Sé, em Lisboa, pertença do mesmo arcebispado, iniciou os registos de batismo e de óbito no ano de 1563).

O que é facto é que o primeiro registo, datado de 1706, é um óbito. O Padre era Frei Damião da Serra, religioso no Convento de Nossa Senhora da Serra. Contudo, os batismos e casamentos passam a surgir apenas a partir de 1711, quando passam a ser os assentos feitos pelo Padre Cura Manuel Ribeiro.
Igreja Paroquial de Santo António da Raposa.

Posto isto, podemos interrogar-nos: justificará esta ausência de registos anterior ao início do séc. XVIII a inexistência da paróquia, tendo sido apenas criada nesta altura? Esta paróquia já surge na “Corografia Portuguesa” do séc. XVII, da autoria do Padre António de Carvalho, como tendo 29 vizinhos. Ter-se-á iniciado um qualquer procedimento de criação da paróquia, tendo ficado pendente de alguma oficialização? Poderá ser, e estamos a entrar apenas no campo da suposição, a inexistência da igreja paroquial? Se assim fosse, esta teria sido acabada de construir em 1706, e o período decorrente entre 1706 e 1711, assumido por Frei Damião da Serra, foram apenas assentados os óbitos? (até porque os corpos eram sepultados no interior da igreja, por norma, e o assento diz o local da igreja onde foi feita a sepultura. Contudo, existem exceções, pois há assentos que mencionam enterramentos noutras paróquias ou no Convento da Serra).

Contudo, sabemos que para além da paroquial, existiam mais dois locais de culto cristão na paróquia. O primeiro seria a igreja do já falado Convento de Nossa Senhora da Serra da Ordem dos Pregadores (Dominicanos), de onde era originário Frei Damião. O outro seria a Capela de S. João Baptista dos “Passos Negros”. Teriam estes dois locais de culto livros de registos próprios, tendo-se perdido entre mudanças de donos e as convulsões políticas do início do séc. XIX? Ou teria pelo menos o Convento da Serra, visto que eram estes padres responsáveis pela Capela do Paço, como mencionamos aqui. Apesar disto, há uma questão que não podemos deixar de evidenciar: apesar de pontualmente, são mencionados assentos fora da igreja paroquial, nomeadamente casamentos na “Ermida de S. João dos Passos Negros”, em 1715, 1716 e 1719, assim como no Convento da Serra (1722). Nesta última casa foram também assentes três óbitos relativos a sepulturas que aí foram feitas (1706, 1715 e 1727). 

Posto isto, e apesar de todas as interrogações que isso nos possa causar sobre o que está para trás, o que é facto é que os registos começaram a ser contínuos a partir de 1711. Sobretudo com a entrada do Padre Cura Manuel Ribeiro, assumem uma maior uniformidade de acordo com o estabelecido pelo Concílio de Trento, em 1563.

Bibliografia e outras fontes:
ARQUIVO Nacional da Torre do Tombo (em linha). http://antt.dglab.gov.pt/
CARVALHO, António de (s.XVII). “Termo da Vila de Santarém”, Corografia Portuguesa.
FELIX, Rafael Fernandes, FARIA, Fernanda, SANTOS, Maribel Yasmina e HENRIQUES, Pedro Rangel (2002). “XML na demografia histórica : anotação de registos paroquiais”, in: Conferência da Associação Portuguesa de Sistemas e de Informação – Actas, n.º 3. Coimbra: APSI. 
GODINHO, Anabela da Silva de Deus (2007). Lisboa Pré-Pombalina: A Freguesia da Sé – Demografia e Sociedade (1563-1755). Tese de Doutoramento apresentada ao ISCTE.

Texto de Samuel Tomé.
Fotografia de Manuel Evangelista.

domingo, 7 de setembro de 2014

O Rei Preto

Com a devida vénia ao blog "Em busca do património", de Samuel Tomé.

É talvez a mais emblemática figura de Paço dos Negros, na qual se  pode alicerçar a identidade desta comunidade. É a matriz comum às pessoas que aqui vivem, e que são descendentes dos escravos que para aqui vieram morar, miscigenados com os brancos. Foi já esta figura alvo de uma homenagem por Evangelista (2013), onde reúne em livro os factos históricos, as memórias orais e uma crítica social. Entrando no domínio da lenda e da cultura popular, há duas versões distintas da história do Rei Preto.
A primeira chega-nos pelo Conde da Atalaia, quando no final do séc. XIX dizia ao seu caseiro do paço que “este lugar não tem história daqui para trás, só daqui para a frente. Porque foi feito para abafar um escândalo muito grande”. Este escândalo estava ligado a um neto bastardo do rei, que seria filho de uma princesa sua filha e de um escravo negro que a houvera engravidado. Assim, o monarca mandou construir este paço, isolado no meio da charneca entre Almeirim e Coruche, para aqui ficar degradado o seu neto preto e o seu pai, porque se tinha de abafar o escândalo.

O Rei Preto nas comemorações dos 500 anos do Paço Real da Ribeira de Muge (2011)

Uma outra versão diz-nos que nos escravos que para aqui vieram, veio um que era muito mau e muito ladino. Era filho do rei lá na sua terra, em África, e aqui tinha regalias especiais, devido a essa mesma filiação. Ficou de tal forma esta figura incrementada nas memórias populares, que é recorrente ser apelidado qualquer rapaz mais travesso e moreno como “rei preto”.

Tendo a lenda presente, e indo de encontro aos factos, não menciona a documentação da época nenhuma alusão a um neto bastardo do rei preto, nem tão pouco a um escravo que era filho de um rei em África. Contudo, encontramos várias alusões a negro que são tratados de forma preferencial em relação aos demais, e que muitas vezes nem têm o estatuto de escravos.

Num documento de 1528, citado e analisado por Vasconcellos (1926) e Evangelista (2011), é mencionado um escravo para além dos outros, que receberia à parte 2$580 (enquanto os demais tinham 42$650 para cerca de 30 almas). Segundo Evangelista (2011), é possível que este outro fosse Fernão Frade, que mencionamos aqui. Ainda este mesmo documento alude a uma outra distinção: atribuiu ao almoxarife 2$580 para mantimento, vestir e calçar uma preta, com a qual casou o preto Diogo Lopes.

Seria algum destes três (Fernão Frade, Diogo Lopes ou a sua mulher), o famoso Rei Preto? Não o poderemos afirmar, contudo, é bem de salientar o seu tratamento preferencial, em relação aos demais. Por fim, convém salientar que Fernão Frade, como Evangelista (2011) menciona, é o preto responsável pela capela do Paço Real da Ribeira de Muge.

Bibliografia e fontes:

EVANGELISTA, Manuel (2004). Lendas da Ribeira de Muge. S/l: Edição Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim e Junta de Freguesia da Raposa.

EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.

EVANGELISTA, Manuel (2013). Contos do Rei Preto. S/l: Edição do autor.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Leonarda Maria, uma proprietária na Ribeira de Muge da primeira metade do séc. XVIII

Como seria a Ribeira de Muge na primeira metade do séc. XVIII? Quantas pessoas aqui viveriam e em que condições? O que faziam? O fausto da presença da corte já se tinha perdido. Contudo, a coroa continuava a ser proprietária da Coutada da Ribeira de Muge, e o almoxarifado continuava a ter sede no Paço Real da Ribeira de Muge, agora chamado “Passos dos Negros”, apesar do almoxarife já não estar obrigado a residir no paço. Ao analisar os registos paroquiais da época encontramos algumas personalidades sucessivamente referidas, o que nos faz concluir que teriam aqui alguma importância. Hoje iremos deter-nos numa delas.
Moinho da Várzea Redonda, na atualidade. Leonarda Maria foi sua proprietária na primeira metade do séc. XVIII.

Leonarda Maria é nomeada várias vezes entre 1713 e 1728, como sendo moradora ora na Várzea Redonda ora no Moinho da Várzea Redonda. É comum aparecer nos registos paroquiais a diferença entre uma coisa e outra. A primeira menção que temos conhecimento é o batismo de sua filha, Isabel, a 19 de agosto de 1712. Foram padrinhos Josefa Maria de Seixas e Paulo Soares da Mota, moradores na Vila de Almeirim e sendo ele almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge.
 
Em 29 de outubro de 1713 Leonarda Maria fica viúva. O seu marido, José Marques, morre com todos os sacramentos e é sepultado no canto nascente do altar da Igreja Paroquial de Santo António da Raposa. Deixa um testamento onde lega à sua mulher a Ponte Velha. A cinco de maio do ano seguinte é batizado outro filho de ambos, Manuel, sendo padrinhos Manuel Lopes e Maria Nunes. Sendo os batismos feitos em crianças, podemos supor que Leonarda Maria seria ainda uma mulher nova e que ficou viúva relativamente jovem.
 
De 22 de agosto de 1716 temos conhecimento de uma provisão, onde Leonarda Maria pede para cultivar umas bicadas de terreno junto a um moinho que possuía na Ribeira de Muge. É invocado nesta que tal coisa era prática pelos donos dos outros moinhos vizinhos. Não sabemos ao certo a que moinho se referia a dita provisão, atendendo a que Leonarda Maria possuía dois moinhos (o da Várzea Redonda e o da Ponte Velha). Para além destes, entre o “Passo dos Negros” e a Raposa (sede paroquial), existiam à época os moinhos de Paulo Soares da Mota, do Pinheiro, da Parreira e da Raposa.
 
Data de 31 de maio de 1718 uma escritura de emprazamento onde Leonarda Maria apresenta um pedido à coroa para renovação do aforamento do Moinho da Ponte Velha. Seria possivelmente esta situação despoletada pela morte do seu marido, José Marques, cinco anos antes? Temos de ter presente que os aforamentos se faziam em três vidas, renováveis. Seria a de José Marques a terceira? É referido que o aforamento, em três vidas, contaria como sendo Leonarda Maria a primeira. Esta faz ainda um pedido para lhe ser baixado o foro (15 alqueires de trigo e 15 alqueires de cevada), pois o moinho, com três casais de mós, encontrava-se degradado.
 
No ano seguinte, morre um escravo que Leonarda Maria possuía – Pedro Tinoco, de morte súbita. É sepultado no corredor da igreja paroquial. Dos anos seguintes, temos conhecimento de quatro batismos em que Leonarda Maria é madrinha, a saber:
 
- Mariana, filha de Diogo Vieira e Maria Nunes, moradores no Moinho da Ponte Velha, a 14 de janeiro de 1720.
- Leonarda, filha de Pedro Fernandes e Josefa Maria, moradores no Moinho da Várzea Redonda, a 12 de janeiro de 1721. Foi madrinha com João Luís.
- Antónia, filha de Pedro Fernandes e de Josefa Maria, moradores na Várzea Redonda, a 15 de novembro de 1722. Foi madrinha com João Vaz.
- Ana, filha de Domingos Martins e Maria da Silva, moradores no Moinho da Várzea Redonda, a 26 de julho de 1723. Foi madrinha com o seu filho, José Marques.
 
A 24 de julho de 1727, morre Leonarda Maria, na Várzea Redonda. É sepultada no n.º 7 da Igreja Paroquial de Santo António da Raposa. No ano seguinte casarão dois dos seus filhos. Isabel Maria (a ser a mesma Isabel que é batizada em 1712, teria cerca de 17 anos), a 1 de julho, com António Costa, de Alpiarça, assim como as testemunhas do casamento. A 24 de agosto casa José Marques, com Tomásia Dias (de Torres Novas). São testemunhas deste casamento Diogo Vieira (morador na Raposa) e Luís Dias (morador na Várzea Redonda). Estes dois estabeleceram relações de algum modo com a família de Leonarda Maria, tendo em conta que viveram nas suas propriedades. Desconhecemos contudo os vínculos que lhe tinham.
 
Por fim, podemos inquirir-nos: como se pode inserir Leonarda Maria na sociedade do séc. XVIII? Temos evidências bastantes para concluir que não era uma simples mulher camponesa. Contudo, cremos ser excessivo poder considera-la uma pequena fidalga ou até burguesa (este seria o caso dos Soares da Mota, que viviam na Vila de Almeirim, e não no meio da charneca).
 
Cremos ser possível que Leonarda Maria seria ao século XVIII aquilo que no século XX se chamou “uma lavradora”. O seu marido fez testamento, o que não era muito comum à época, segundo os registos paroquiais. Trazia aforadas duas propriedades, nas quais viviam várias famílias. Com efeito, entre 1717 e 1727 há nos registos paroquiais três agregados diferentes no Moinho da Ponte Velha e nove no Moinho da Várzea Redonda. Para além disto, temos ainda de ter presente que Leonarda Maria é chamada a ser madrinha de quatro crianças de pessoas que viviam nas suas propriedades.
 
Por outro lado, e tendo presente que Leonarda Maria terá ficado viúva relativamente nova (tinha filhos que ainda nem sequer eram batizados), podemos perguntar-nos a razão pela qual não terá voltado a casar. Com efeito, é comum encontrarmos registos de viúvos que voltam a casar. Contudo, Leonarda Maria não o faz. Será que ao casar esta perderia direito às propriedades que tinha, passado estas para alçada do seu marido?
 
Fontes documentais e bibliográficas:
(1706-1741). Livro dos defuntos, dos baptizados e dos casados – Raposa (Sto. António).
(1716). “Leonarda Maria, Provisão”, Chancelaria de D. João V, livro 46, folhas 318v a 319v.
(1717). “Leonarda Maria, Carta de Emprazamento”, Chancelaria de D. João V, livro ??, folhas 347 e 347v.

EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge – A Tacubis Romana. S/l: Ed. de autor. 

terça-feira, 29 de julho de 2014

Academia Itinerarium XIV traz à cena “Candonga” Lar de S. José



A “Candonga”, peça de teatro escrita e encenada pela Academia Itinerarium XIV, celebra o sofrimento do povo quando o Estado Novo impôs um racionamento de géneros, como o arroz e a farinha (entre outros), enviando grande parte destes para a Espanha (durante a Guerra Civil) e a Alemanha Nazi (durante a 2.ª Guerra Mundial), votando os portugueses à fome de um pão racionado que não chegava para todos. “Candonga” quer dizer “contrabando de géneros alimentares”. Foi isso que aconteceu em Paço dos Negros, e por toda a Ribeira de Muge: os moinhos, proibidos de trabalhar, contrabandeavam a produção de farinha e o descasque de arroz que cada um ia conseguindo roubar, mas sempre pela calada da noite. Às cinco da manhã tudo, teria de estar limpo, como se nada se tivesse passado.


“Candonga” passa-se numa noite deste tempo. Um rude casal de moleiros vai recebendo os seus fregueses, que aí se dirigem para comprar os géneros contrabandeados ou já levam aqueles que conseguiram ocultar da fiscalização. Baseada em pequenos episódios relatados pelas pessoas que viveram estes tempos, esta peça, apesar do humor que a ponteia, pretende ser sobretudo um tributo e um contributo à memória destes tempos, para que desta forma este património imaterial não se perca.



Esta peça foi criada de propósito para a comemoração do Dia Nacional dos Moinhos, em Abril passado, tendo sido encenada no Moinho do Fidalgo. O convite por parte da Santa Casa da Misericórdia de Almeirim para a sua realização no Dia dos Avós, para os avós que viveram estes tempos, muito orgulha a Academia, que assim vai cumprindo o seu papel de divulgação do património da Ribeira de Muge, nas suas mais variadas vertentes. Cremos ter cumprido o nosso papel, pois os avós, no final, perguntaram por mais. 

 
 
Fotos e vídeo Jornal "O Almeirinense"