A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Cancioneiro da Ribeira de Muge

Na senda de fazer o registo de “todo?” (o mais possível) o património cultural da ribeira de Muge, desta vez numa homenagem às mulheres da minha terra, do património oral,  pensamos publicar antes do Natal o Cancioneiro da Ribeira de Muge.

Estando todos os cancioneiros muito interligados, pensamos ainda assim revelar neste cancioneiro algo da criatividade local: Algumas (4) canções de remotos “escravos” negros, os “casares” da ribeira de Muge, o cancioneiro das tabernas, as “salgadas e queimosas”, tal como as mulheres referem os despiques entre elas, e mesmo as largas dezenas de canções e modas que vindas de outras regiões, as mulheres (e homens) sempre acrescentavam algo de seu, da sua cultura rude e simples:

Aos interessados em adquirir este naco da nossa cultura, devem contactar o “autor”. CPM_EVANGELISTA@HOTMAIL.COM . Serão impressos tantos livros quantas as encomendas. Não vai estar à venda ao público. Custo 5 euros.

cancioneiro_capa_livro

Prefácio5

Cancioneiro religioso 7

Natal dos Gagos 7

Nome de Maria 7

Entrai pastores entrai 8

Senhora do Carmo-8

Senhora da Nazaré-9

Magnifa de Nossa Senhora-9

Santa Bárbara e S. Jerolmo-10

Lá se vai o sol escondendo-10

O lavrador d’ Aurora-10

Quinta-feira de Endoenças-11

Numa triste noite escura-12

Pedindo p’ras almas-13

Bendito e louvado seja-13

Bendito e louvado-13

As doze excelências-14

As doze excelências-14

Oração de pedir esmola-15

Cancioneiro Profano-17

Mulatinha-17

Mulatinha chiapá-17

Canção das escravas-18

A partida da Rainha-19

A morte de D. Pedro V-19

Albertina era a filha do rei-20

Ó Albertina, Albertina-20

Ó Virgem da mãe candura-20

Vira da Tira-21

Vai de roda-21

Ó Catarina, o que tem, tem, tem-21

Menina vai à fonte-22

O sítio dos caracóis-22

Ó Elvas, ó Elvas I-22

Ó Elvas, ó Elvas II-23

À entrada de Elvas [III]-23

A chita da ‘nha blusa-24

Tenho uma saia nova-25

Latruca, meu bem latruca-25

O corridinho-26

Cantiga do gás-26

Esta noite na avenida-27

As cerejinhas-27

Alícia dá cá um beijo-27

A minha aldeia-27

O baile da maldição-28

Verdegaio-28

Amor se me escreveres-28

Fandango-29

Os carreirinhos da serra-29

Meu bem bi à bá-29

Se eu me chegar a casar-30

Tu é que és o meu rapaz-30

Ó mirosca-31

Sacode o saco Leonor-31

As mulheres do norte-32

O gafanhoto-32

O ladrão-32

O nó da gravatinha I-32

O nó da gravatinha II-33

Ó Branquinha-33

Ó pavão, ó real pavão-34

A moda do rique truque-34

Ó Delaide, ó Delaidinha I-34

Ó Delaide, ó Delaidinha II-35

A gaita do Zé-35

Saias da Lamarosa-35

Saias velhas da Parreira-36

A moda do zuque-truque-36

Bailarico da ribeira-37

A marcha de Paços dos Negros-37

Passarinho castanho-38

Passo largo-38

Ó verdegaio, verdegaio-38

Funho lavar à ribeira-38

Se eu fosse um rato-39

As mulas-39

O pipó-39

Valverde limão-40

O José larilolé-40

Compadre José Parola-40

Pedi-te um beijo ó menina-40

Sou tua-41

Ai que chita tão bonita-42

Ainda ontem comi tremoços-43

O tremoço rechonchudo-43

Os piais da minha sogra-44

Olha as sogras-44

Ó Maria tu tens tu tens-45

Amor boieiro-45

Vira viradinho-46

Minha querida Gabriela-46

Já o circo vem aí-46

Ó cara linda, cara de jóia-46

Baguinho, baguinho, baguinho-47

Menina que sabe ler-47

A Quinta da Laranjinha-48

Venho d’arraia da Espanha-49

O Aiveca-49

A criada e o patrão-50

Caramba Marianita-52

Se o mar tivesse varandas-53

A lua é branca-53

Ó Manuel das Cancelas-54

A moda da perna alçada-54

Linda bassoirinha-54

O vira de quatro-54

As cachopas de Marianos-55

Ai Zumba, ai zumba olaré I-55

Ai zumba, ai zumba, olaré II-56

Eu vou para a marinha-56

Sant’Antóino entre as vinhas-56

Passa vai passando-57

Loureiro, verde loureiro-57

Pica, pic’ó pau-57

Cá na minha terra-58

Tu dantes eras linda agora és feia-58

Menina no laranjal-58

Menina que vai passando-59

Ó jardineiro porque está tão triste-59

Três coisas pedi a Deus-60

Ó bonequinha-60

Ó bela vem à janela-60

Erva-cidreira-61

No alto daquela serra-61

O pedreiro cheira a cal-61

Cigano lindo cigano-62

O dedo sem unha-62

A cigana e o campino-62

Sou cigana não o nego-62

Cantigas e vivas nos casamentos-63

Cantigas do Baile-64

O ladrão do negro melro-66

Os Casares da Ribeira de Muge-67

Menina do laranjal-67

Escuta ó menina-68

Olha o papagaio-68

Entrei pela Espanha adentro-68

Saringa-tinga-tinga-69

Naquela janela-69

A chita da ‘nha blusa-69

Casará olé casará I-70

Casará olé casará II-70

Ora que te dou-71

Rosa bela-72

Eu vi, eu vi-72

Ela anda a namorar-73

O derriço-73

Vira-cabra-73

Os catres talim-talim-74

Toma lá carário-74

Ó cu ricocu-74

Quinta da laranjinha-75

Toca o bombo-75

Cantigas das “Brincadeiras”-77

A Condessa-77

Rosa Verdeira-77

Brinca-Tudo-78

Ah ah minha machadinha-78

Vou calçar minhas tairocas-78

Erva cidreira-78

Dom Solidom-79

O relógio das cabaças-79

Senhora dona Anica-79

Caranguejo não é peixe-80

Que linda rosa-80

Pedi-te um beijo ó menina-80

A Biloa-80

A triste viuvinha-81

Carrasquinha sacode a saia-81

O ladrão do meio-81

Arroz com leite-82

Venho da ribeira nova-82

O Babão-82

Nos ranchos-83

Quem é que leva a gaita!-83

Ó mana vamos à monda-83

Cantigas do Manuel e da Maria-84

Cantigas da Mãe-84

Cantigas do Amor-87

Cantigas dos olhos-91

Cantigas do coração-92

Cantigas da sogra-95

Cantigas da Ribeira-96

Olari-olari-olaré-97

Cantigas da oliveira-97

Cantigas da rosa-98

Cantigas do cravo-99

Cantigas dos Paços-100

Cantigas dos astros e da natureza-101

Cantigas da mocidade-102

Cantigas dos militares e do comboio-114

Cantigas de adiafa-115

Despiques entre mulheres-116

O que fazes criancinha-118

António Domingos-118

Uma cagada-119

O compadre abegão-119

Salgadas e queimosas-122

Desafios entre homem e mulher-124

Cantigas da despega-129

Numa descamisada em Vicentinhos-129

Numa descamisada na eira Gagos-130

Numa descamisada na Caneirinha-131

Ouve lá ó Joaquim-132

Cancioneiro da taberna-133

Já ‘tás c’os copos-133

Tenho uma concertina-133

O Zé Careca-134

Ó cabalero-134

Ai minha riquinha moca-134

Da Grande-Guerra-135

Era o vinho-135

Lá em cima-135

A vida é um vale de enganos-135

Catrapuz-135

A cobra-135

Ó Maria tu tens tu tens-136

Ó meu mestre sapateiro-136

Ó fim ó fá-136

Lari-lo-lela-137

Minha rica ti Maria-137

Chucha na tola-137

Ó Lucinda vem comigo-137

Ó bela vem à janela-137

Ó menina guarde o seu melro-138

Os amigos da taberna-138

Fandango da taberna-138

Adivinhas-138

Maria lavradora-139

Parti a tola à Maria-139

Tiro-liro-tiro-lero-139

Cantiga do Saias ou do Cambeiro-139

Na nossa freguesia-140

Abóbora, menina, abóbora-140

Eu tenho um cãozinho-140

Ó preto, ó preto-140

Ó Maria Amélia-141

Conselhos-141

Na taberna do Silvino-141

No Zé da Machada-141

A ronda das tabernas-142

Áuga pisada a péis-142

Várias-142

Agradecimentos-145

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Papa e o Paço da Ribeira de Muge

 

maqueta JPG

O frade de S. Francisco referido na carta, que já ali exercia, deverá ter exercido o seu mester no Paço da Ribeira de Muge até 1551, data em que foi nomeado António Valente, de Nossa Senhora da Serra. 

Digamos que para um barracão de caça, como defende o amesandado lóbi do restopórtico de Almeirim, o pedido ao Papa pelo rei D. João III de um capelão para a capelania do Paço da Ribeira de Muge, deve tratar-se decerto de caça da grossa.

«Carta de D. João III ao Doutor Brás Neto, embaixador

em Roma, a respeito de umas suplicações a fazer ao Papa, para um

frade de S. Francisco ser capelão nos seus pacos da Ribeira do Muge.

Setúbal, 1532. — Papel. 6 folhas. Bom estado. Cópia junta.

Doutor Bras Neto amiguo.

Eu ei rei vos envio muyto saudar.

Com esta carta vos envio duas sopricações de Diogo Pachequo frade

da Ordem de Sam Francisquo da Terceira Ordem do qual me quero serviir

na capelania da capela dos meus paços da Ribeira de Muja por ser dele

e de sua bondade bem enformado e por os vezinhos dali d'aredor estarem

dele e de seu serviço contentes e pelas ditas sopricações veres o que por

elas se soprica e requere por o que escuso de nesta mais vo lo declarar. E

soomente vos encomendo muyto que logo como esta vos for dada vos

trabalhes quanto posivel vos for por as ditas sopricações despachardes

conforme ao nelas conteudo no que muyto vos gradecerey poerdes toda

diligencia e asy de as letras diso me enviardes com os primeiros recados

que pera mym despachardes. E ey por bem que a expediçam diso façaes

a minha custa e creo que se fara niso pouqua despesa e vos asy trabalhay

porque com pouco gasto se faça. E se pela ventura comprir falardes ao

Santo Padre de minha parte na expediçam das ditas sopricações fazey o

naquele modo que virdes que pode mais aproveitar dizendo lhe que asy

pela boa enformaçam que tenho da bondade e suficiencia do dito Diogo

Pachequo como por me querer dele servir na capelania dos ditos meus

paços receberey em merce de Sua Santidade lhe querer comceder o que

por suas sopricações requere e se Tambem em outro cabo aproveitar o

falardes de minha parte a alguus cardeaes ou ofiçiaes asy o fazee e

muyto vos gradecerey de com a mais brevidade que vos for posivel me

enviardes os despachos.

Pero d'Alcaçova Carneiro a fez em Setuvel a ... O) dias de ... (2)

de 1532.

Rey»

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Pequenas histórias da História

As pequenas histórias da História também podem e devem ser contadas. É um dever do Historiador.

Como pesquisador e historiador local, espaçadamente, vou tentar manter aqui estas pequenas mas não menos interessantes e reveladoras histórias.

Eis uma pequena história:

Em finais de 2009, um grupo de cidadão e cidadãs de Paço dos Negros resolveu honrar a sua História e comemorar os 500 anos do seu Paço que aconteceria em Maio do ano de 2011.

Para tal, nos meses antecedentes prepararam, e nos seis meses anteriores à data exibiram, no Paço, um programa cultural, mensal, baseado na cultura e na História local. Pode dizer-se que o programa foi um sucesso.

Nada disto mereceria figurar nesta colecção de “pequenas histórias” se não fosse dar-se um caso que deve ser único em todo o país, e que revela bem o que se passa em Almeirim.

Convidadas as forças vivas do concelho, as cerca de 60 associações do concelho de Almeirim, para estarem presentes nas comemorações, no Paço, no dia 14 de Maio de 2011, onde foi publicado um livro sobre a História deste Paço, ou fazerem-se representar, nem uma compareceu, ou sequer respondeu. (honra ao presidente da junta de Fazendas e a um vereador da oposição. Peço desculpa se alguém esteve, e não tive conhecimento). Estiveram presentes várias personalidades da vida e da cultura nacional.

Ajuíze o meu leitor do grau de caciquismo reinante neste concelho.

Abaixo, vídeo de um excerto do programa:

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

O PÔR-DO-SOL NA MINHA ALDEIA

Todos os anos, a 27/28 de Julho o sol vem beijar as ruas da minha aldeia. Um fenómeno interessante. São cinco ruas, todas com a mesma direcção, paralelas, em linha recta, com inclinação suave, algumas de cerca de 4,5 kms, da ribeira de Muge à Serra de Almeirim. Foi a povoação delimitada no ano de 1815, foram rasgadas as ruas cerca de 1900, bem mereciam que a Câmara de Almeirim olhasse para esta situação privilegiada, de modo a fazer delas futuras amplas avenidas e não meros carreiros de cabras, entregues ao belo-prazer de cada habitante que por vezes se mostra mais ganancioso e ignorante que o vizinho.

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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Poema ao paço

Com a devida vénia ao blogue, “em busca do património”, de Samuel Tomé.
Nos 96 anos do nascimento de Francisco Henriques

Em homenagem ao poeta de Almeirim, defensor da história da sua terra, ou não a deixasse escrita, sob forma de sonetos, no Cântico à Minha Terra!


O Paço dos Negros

Contemplo estas ruínas seculares,

Restos mortais de um Paço majestoso:

Muro ameado e brasão do Venturoso

Ladeado por esferas armilares.

 

Agora, estes históricos lugares,

Paraíso perdido – e tão saudoso! –

Evocam, no abandono lastimoso,

Coutada, moinhos, hortas e pomares.

 

A Ribeira de Muge já não canta

Sob a janela manuelina, à Infanta,

Nem a trompa anuncia as montarias.

 

Até que um novo almoxarife assome

E afaste o mau presságio do teu nome,

Paços dos Negros, negros são teus dias.

 

Francisco Henriques, Cântico à Minha Terra