A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Poema ao paço

Com a devida vénia ao blogue, “em busca do património”, de Samuel Tomé.
Nos 96 anos do nascimento de Francisco Henriques

Em homenagem ao poeta de Almeirim, defensor da história da sua terra, ou não a deixasse escrita, sob forma de sonetos, no Cântico à Minha Terra!


O Paço dos Negros

Contemplo estas ruínas seculares,

Restos mortais de um Paço majestoso:

Muro ameado e brasão do Venturoso

Ladeado por esferas armilares.

 

Agora, estes históricos lugares,

Paraíso perdido – e tão saudoso! –

Evocam, no abandono lastimoso,

Coutada, moinhos, hortas e pomares.

 

A Ribeira de Muge já não canta

Sob a janela manuelina, à Infanta,

Nem a trompa anuncia as montarias.

 

Até que um novo almoxarife assome

E afaste o mau presságio do teu nome,

Paços dos Negros, negros são teus dias.

 

Francisco Henriques, Cântico à Minha Terra

segunda-feira, 10 de junho de 2013

À atenção da Câmara de Almeirim

 

Ao escutar hoje o discurso do senhor Presidente da República, na defesa do nosso património histórico-cultural, e pensar no que poderia ser feito para valorizar e rentabilizar este monumento, claro que senti vergonha. Vergonha pelo modo como um monumento único da história de Portugal, o Paço da Ribeira de Muge, construído para ser um espaço de lazer da Corte, no ano de 1511, o período de maior glória da História Nacional, tem sido tão maltratado pela Câmara de Almeirim.

Que pelo menos fique registada a indignação de um cidadão que conhece a história deste monumento.

 

Estado a que chegou o Paço em 2004.

vista actual do largo do paço 9-2004

 

Estaleiro de obras em cima do monumento histórico (2009).

estaleiro em cima do Paço

Vista actual do interior do pátio.paço para classificação 005

 

 

 

 

 

 

 

 

Maqueta do paço(interior).

maqueta 1

terça-feira, 28 de maio de 2013

Academia da Ribeira de Muge - Folclore genuíno

 

Paço dos Negros pode orgulha-se de ter guardado das suas raízes culturais, do século XVI?, o seu ex-libris, esta "Dança do Fidalgo", genuína, uma pérola que, segundo opiniões avalizadas, pode competir a nível mundial, com outras danças folclóricas e étnicas.

 

 

Jovens interpretando a Dança do Fidalgo           

Dança do Fidalgo  (Interpretação: Jerónimo Baptista)
(clique para ouvir)

domingo, 14 de abril de 2013

Contos do Rei Preto

Finalmente, está quase a chegar o livro que nos traz de volta o Negro fundador de Paço dos Negros.

 

Do livro de Horas de D. Manuel I.

Índice

Preâmbulo 7

O Rei Preto, D. Manuel e a cama dos gatos pretos 9

O Rei Preto e os gatos do Diabo 10

Gil Vicente e o Rei Preto 13

O Rei Preto e os negros bem martelados 16

O Rei Preto, o Real Bando e Alcácer-Quibir 18

D. Sebastião, o Rei Preto e a Corte dos bajuladores 20

O Rei Preto, a penitência e a Ponte do Bispo 21

O Rei Preto e os negros que queriam matar o moinho 22

O Rei Preto e os escravos que se julgavam mortos 23

A revolta do Rei Preto, ou o rei que ia nu 25

O Rei Preto e as argolas de atar as bestas dos fidalgos 30

O Rei Preto, as Justiças e a Fonte D’el-rei 32

O Rei Preto, o Negro boçal e a prenha 36

O Rei Preto e a branca 38

O Rei Preto, o Frade e o bacio da ‘Vó velha 41

O Rei Preto e o pretinho que gostava de molhar a sopa 44

O Rei Preto e o Capelão que media o tempo ao cesto 46

O Rei Preto, a Rainha e as botas novas 49

O Rei Preto, o Cigano e o Santo António 51

O Rei Preto e a pescaria 53

O Rei Preto, o Fidalgo arruinado e o beija-mão da rainha 54

O Rei Preto e o Moinho dos Frades 56

O Rei Preto e os carvoeiros 59

O Rei Preto, o Cura, o cuco e a gaga 61

O Rei Preto, a Rainha, e as galinhas alcoviteiras 63

O Rei Preto e o fidalgote malparido – ou a greve no Paço 65

Outros Contos do Paço 67

De como nasceu o Paço da Ribeira de Muge 69

Tomé, o conde e as condessinhas 70

A Preta Maria e o príncipe 71

Lenda do Negro Jack da Raposa 74

De como medrou a nobre fidalguia da Realenga Vila 78

Os Doze Passos das Negras 80

Lenda da Fonte dos Tanques 82

O segredo da Capela do Paço 84

O cabreiro, a rainha e o trem 85

O casamento da escrava Isabel da Ribeira 87

O ermitão do Alto Frade 90

As éguas do Muge e os Montes da Borra de Ferro 91

O segredo do Paço 94

Temos os fidalgos no Paço! 97

Memórias orais e Bibliografia 98

domingo, 24 de março de 2013

Contos do rei Preto e outros contos do Paço

Um excerto do Prefácio do livro, que tenta desvendar a figura do mítico Rei Preto de Paço dos Negros.

Paço dos Negros é terra antiga. Terra com memória: Que outro paço coetâneo, Lisboa, Sintra, Évora, Almeirim, se não o Paço da Ribeira de Muge, de aspecto chão e vivências simples, daria primado aos negros, de modo a que estes tivessem trato e honra, e ousadia, de figurar em retrato de D. Manuel I, em refeição frugal, em ambiente rústico? (cf. Página 10); Que outro paço recebeu nome dos próprios negros que o ergueram e habitaram?; Que outro paço guardou em memória, durante cinco séculos, o hábito de D. Manuel de andar pelas cozinhas, o gosto que tinha pelos gatos?; Que outro paço guardou em memória um negro supersticioso que batia nos gatos e clamava por Jesus Cristo?; Que outro paço guardou em memória um negro autoritário, mau, refilão, sábio, anedótico, supersticioso, provocador, que, revelando a sua proveniência geo-histórica, o Benim, tanto marcou a terra, que até hoje tem dado titulatura aos rapazes da terra?; Que outro paço guardou em memória a menina branca que com um preto tem um diálogo, que em tudo coincide que as falas do negro em Gil Vicente? (cf. Página 35); Que outro paço tem um negro ao qual Gil Vicente dá o nome de Furunando, se não o histórico e documentado Fernando Frade, homem preto da capela de S. João Baptista do Paço da Ribeira de Muge?; Que outro paço guardou em memória um negro ao qual Gil Vicente dá voz como tendo vindo de livre vontade conhecer Portugal, se não o comprovado Fernão Frade, um baptizado do Benim, filho de rei, que andava na capela que, por ser livre, tivera a honra de trazer a rainha D. Catarina, mi bem lá de Tordesilha, e ao qual o rei recomenda que não esqueçam de pagar o soldo?; Que outro paço tem um negro ao qual Gil Vicente pede para lhe rezar o Padre-Nosso, a Salve-Rainha, se não um negro cujo metier é andar na capela e que recita: …Papa na Roma cansera…?;Que outro paço tem um negro do qual Gil Vicente extrai um Padre-nosso, uma Salve-rainha em latim, cujo exótico vocabulário nos leva a uma viagem pelo ambiente rústico do paço da Ribeira de Muge? (cf. Página 15); Que outro paço mantém vivo o espírito crítico e mordaz de Gil Vicente; Que outro paço teve um “Rei”, preto, que marcou para sempre a idiossincrasia do povo, ao ponto de quando alguém queria meter medo a uma criança, dizia: “está lá o rei preto e agarra-te”, quando pretendia acabar um conto, declarava: “…não me lembro é o outro”; ao que o interlocutor respondia: “É o Rei Preto…”. (cf. Página 37).

capa rei preto final