A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Cultura ancestral

Do concelho de Almeirim é talvez Paço dos Negros a única que conseguiu conservar vivo, algo das suas mais fundas raízes.
Local isolado, privilégio de reis e cortesãos no século 16,  manteve a memória das pavanas, das galhardas e das mouriscas, com que na Sintra de Inverno se desenfadavam.

Deana Barroqueiro, magistralmente, dá-nos uma visão desses folguedos no tempo de D. Sebastião e de sua avó a rainha D. Catarina. (Leia D. Sebastião e o Vidente).

Será esta música, conservada em Paço dos Negros, uma herdeira desses tempos gloriosos da realenga Almeirim e do Paço da Ribeira de Muge? Pensamos que sim.

E hoje? Quando sabemos que houve gente aqui na terra que tinha vergonha de mostrar esta dança?

Clique para ouvir:       Dança dos Fidalgos

Carta onde a Rainha D. Catarina faz mercê aos bailadores que em Almeirim bailaram a Mourisca.


quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Paço real e o Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Atestando o que outros documentos já nos tinham revelado, como de que o Paço foi construído para "desenfado" do rei, de que o próprio escolheu e "divisou" o local, de que os escaravos eram "escravos do rei", também a capela foi mantida pela Casa Real durante mais de trezentos anos.


«O Prior e Religiosos do Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Por se haver perdido o alvará de que este assento faz menção se passou outro com “salva”? o dito prior e religiosos que vai registado no livro próprio da rainha nossa senhora a pág. 284 como dele se verá.

retirado

(RGM, 1, 192v)

E hoje, o que é que os (ir) responsáveis fazem por este monumento?

O Paço real e o Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Atestando o que outros documentos já nos tinham revelado, como de que o Paço foi construído para "desenfado" do rei, de que o próprio escolheu e "divisou" o local, de que os escaravos eram "escravos do rei", também a capela foi mantida pela Casa Real durante mais de trezentos anos.


«O Prior e Religiosos do Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Por se haver perdido o alvará de que este assento faz menção se passou outro com “salva”? o dito prior e religiosos que vai registado no livro próprio da rainha nossa senhora a pág. 284 como dele se verá.

Houve Magestade por bem fazer mercê ao Prior e religiosos de Nª Sª da Serra junto de Almeirim de 25$ooo rs para compra de um macho para nele irem os religiosos do dito mosteiro aos Paços de Muja dizer na capela deles as missas que neles se dizem todos os domingos e dias santos de cada um ano por tenção dos srs reis seus antecessores que a instituíram e lhe serão pagos pelo almoxarifado das Jugadas da vila de Santarém do dinheiro que lhe ficar por despender o qual macho lhe costuma dar para o dito efeito e com certidões de como lhe morreu e que para isso tenham que apresentar no Conselho da Fazenda se mandará dar os ditos 25$000 rs para a compra de outro de que lhe faz. Passado alvará em 13 de Junho de 1658.
Assinatura indecifrada»

(RGM, 1, 192v)

E hoje, o que é que os (ir) responsáveis fazem por este monumento?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Academia da Ribeira de Muge - Tu dantes era linda...

Não passes com ela à minha rua

Letra de Carlos Conde e música de Miguel Ramos – 1968 (da Internet)

Ao fim de tantos anos de ser tua
Amaste outra, casaste, foste ingrato;
Vi-te passar com ela à minha rua,
E abracei-me a chorar ao teu retrato!

Podia insultar-te quando te vi,
Ferida neste amor supremo e farto,
Mas vinguei-me a chorar, chorei por ti
Por entre as persianas do meu quarto!

Casaste, sê feliz, Deus te proteja,
Não te desejo mal, e tanto assim,
Que não tenho ciúme, nem inveja,
Como a tua mulher teve de mim!

Mas olha, meu amor, eu não me importa,
Antes que fosses dela eu já fui tua,
Podes sempre bater à minha porta,
Mas não passes com ela à minha rua!


Compare com a letra e música recolhidas em Paço dos Negros, junto de uma mulher nascida em 1924. Pelo tema tratado, uns desamores e ciúmes à mistura, será esta canção, (mais rude, tal como o povo), a parente mais velha dessa outra muito divulgada a partir de meados do século XX, na rádio? Contudo esta canção, segundo a nossa informante, era cantada já nos anos 30.

Tu dantes eras linda agora és feia,
Perdeste toda a beleza e toda a graça,
Devia-te ter ódio, mas não tenho,
Ainda tenho pena da desgraça.

Tu assim que chegaste à tua casa,
Apenas foste dizer mal de mim,
Nunca tive ciúmes nem inveja,
Como a tua mulher teve de mim.

Paciência meu amor, eu não me importa,
Namoraste outra casaste, foste um ingrato,
Foste passar com ela à minha porta,
Eu abracei-me a chorar ao teu retrato.

Paciência meu amor, eu não me importa,
Primeiro que fosses dela eu já fui tua,
Podes passar sozinho à minha porta,
Mas não passes é com ela à minha rua.

Podes passar por mim quando quiseres,
Que eu contigo nunca mais faço as pazes,
Podes amar centenas de mulheres,
Que eu para mim nunca mais quero rapazes.



quinta-feira, 17 de junho de 2010

O Convento de Nossa Senhora da Serra de Almeirim

Dois documentos nos falam da doação deste mosteiro aos frades dominicanos de Santarém, em 1501.

Original, Ch. D. Manuel I, Liv. 37, fol. 40.





Transcrição do original, LN, Liv. 11 da Estremadura, fol. 151, rolo 997. (trecho).



«Ao mosteiro de S. Domingos mercê da casa de Nossa Senhora da Serra de junto com Almeirim com todas suas pertenças e ornamentos e cousas que nela estão.


D. Manuel e etc., a todos quantos esta carta virem fazemos saber que confiando nós como a casa de Nossa Senhora da Serra de junto de Almeirim pudesse ser melhor provida e nela as cousas do serviço de Nosso Senhor pudessem ser melhor feitas e acerca delas pudesse haver quem melhor e mais combinadamente as tivesse e administrasse determinamos fazer da dita casa esmola ao mosteiro da Ordem de S. Domingos da nossa vila de Santarém. Porém por esta presente carta por fazermos graça e mercê ao prior e frades do convento do dito mosteiro e lhe fazemos pura e irrevogável doação deste dia para todo o sempre da dita casa de Nossa Senhora da Serra com todo o seu assento e com todas as cousas e ornamentos e quaisquer outros que até o presente nela estão e tínhamos dado para serviço da dita casa e assim inteiramente como nela todo o que a ela é decretado e ordenado nos pertence e por qualquer maneira que ao diante nos pertencer possa com obrigação que o dito prior e frades e convento do dito mosteiro que são obrigados para todo o sempre ter continuadamente na dita casa para serviço dela e para os ofícios divinos e cousas do serviço de Nosso Senhor três frades dos quais um ao menos seja de missa e que cada dia se diga uma missa ao menos de qualquer devoção santo ou santa que eles mais quiserem porque nesta parte não queremos que tenham obrigação alguma …/… Dante em a nossa cidade de Lisboa a 20? dias do mês de Abril, do ano do nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos e um.»