A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

O Paço dos Negros da Ribeira de Muge, hoje um paraíso maltratado

Frazão de Vascancelos dele disse: O sítio é pitoresco e certamente o era mais, quando existiam as árvores seculares que o povoavam.
Nesta foto, é possível  adivinhar a beleza da Natureza e comparar com o horror da intervenção humana.

domingo, 23 de maio de 2010

O Paço da Ribeira de Muge - O Pomar Real

Tanque quinhentista, dentro da Cerca do Pomar Real. Foi construído aquando da construção do Paço, 1511.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Deana Barroqueiro, filha adoptiva de Paço dos Negros

Aconteceu ontem, dia 20, o lançamento de mais um livro de Deana Barroqueiro: O Romance da Bíblia.
Deana Barroqueiro, uma das maiores escritoras portuguesas da actualidade.





Um olhar feminino sobre o Antigo Testamento: obra original e polémica sobre as mulheres e os homens dos livros sagrados. Muito interessante.

Deana Barroqueiro que no seu livro D. Sebastião e o Vidente, põe o Paço da Ribeira de Muge, no centro da trama que levou D. Sebastião à derrota em Alcácer-Quibir. Um livro histórico, por maioria de razão para Paço dos Negros, uma localidade menosprezada pelos seus responsáveis maiores.

Deana Barroqueiro que quando da apresentação do livro em Paço dos Negros, não se cansa de dizer que foi um dia memorável.

Neste dia foi chamada de filha adoptiva de Paço dos Negros.
Permita-me Deana, e permitam-me os visitantes deste blog a inconfidência, mas ontem fiquei a saber que aceitou o título, pela dedicatória que teve a amabilidade de me presentear no Romance da Bíblia:


Ao ser constituída a Associação Academia Itinerarium XIV - Ribeira de Muge, peço-lhe Deana que se considere, desde logo, Sócia Honorária desta futura Academia.

Perdoe-me Deana.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Academia da ribeira de Muge - Dicionário do Rei Preto

Baseado nas falas do negro Furunando, das peças de Gil Vicente, e no livro de Paul Teyssier, la langue de Gil Vivente:

Dicionário do Rei Preto

Acordar – cordaro
Almoxarife – moxarifo
Amargurado – margurado, murgurado
Andar – andaro
Aramá que te rô – ao diabo que te dou
Assim – assi
Beber – bevê
Caçar – caçá
Carreira – carera
Casamento – casaramento
Cativo – catibo
Chover – chovere
Clérigo – crérigo
Coitada – coitaro
Comer – comê
Conhecer – conhecê
Consagrado – consabrado
Cuido – cuida
Dais – dás
Deitar – deitá
Derradeira – deradera
Deus – Reos, Deso
Diabo – riabo
Dinheiro – rinheiro
Dirá – rirá
Dormia – doromia
É, Está – sá
El-rei D. João – rei Jan Joan
Enjoada – nojara
Era – saba
Escrivão – crivam
Esmoler – moladero
Espantado – sapantaro
Espírito Santo – Prito Santo
Estava – saba
Excomungado – comungaro
Falar – falá
Feia – feo
Fernando – Furunando
Fidalgo – firalgo
Foliar – fruriá
Formosa – fermoso, foromosa
Furtar – furatá
Furtasse – frutasse
Isso – esso
Jesus – Jesu
Ladrão – ladaram
Maçã – mação
Madura – maduro
Mais – más, masa, maso
Maridada (casada) – Maruvada
Marido – marida
Matou – mató
Melhor – mior
Mim (eu) – mi
Minha – mia, meu
Missa – misa
Muito – muto
Mulher – moier, muiero
Namorada – namoraro
Não – nô
Olhar – oiai, (abre) oio
Padre-nosso – pato-nosso
Palheiro – paveiro
Parir – pariro
Pela – polo
Perguntar – purugutá, bruguntá
Pobre – prove
Poder – podê
Pois – pôs
Por – poro
Porque – poro que
Porquê – puru quê
Português – Portuguás
Pura – puro
Romã – Romão
Salmonete – saramonete
Segura – seguro
Senhor – seoro
Senhora – senhoro, seuro
Tanta – tanto
Tanto – tanta
Terra – tera
Todo – toro
Tomar – tomai
Traidor – tredora
Travessa – trabesso
Trazer – trazê
Triste – trisse
Tudo – turo
Uva – uba
Vem – bem
Vestido – besiro
Vida – vira, bida
Vindimar – vindimai
Você – boso
Vontade – votare
Vós – bó, bós
Vosso – bosso
Vou – (mi) vai, bai


Janelinha de quarto onde, segundo a tradição (ainda viva), era a casa dos gatos,
onde o Rei Preto castigava os escravos negros. 

domingo, 16 de maio de 2010

Academia da Ribeira de Muge - Aldeia de Marianos

Um "verso" recolhido em Marianos, que retrata a vida comunitária da aldeia. Pressente-se uma voz colectiva, em que a partida de um grupo de três rapazes para a Guerra de 14-18, foi cantada pelas mulheres.


Recolha efectuada junto de Jesuína Borrega, iletrada, nascida em 1927, Marianos.

Aldeia de Marianos,
Rodeada de tristeza,
Já te falta a mocidade,
Falta-te a maior riqueza.

Três separações que houve,
As três deixastes abalar,
A flor da mocidade,
Já me cá vai a faltar.

Muitas mães choram, choram,
Pelos seus queridos filhinhos,
À despedida lhe deram,
Abraços, muitos beijinhos.

Filhos do meu coração,
Quem lhes pudera valer,
Antes que eu queira não posso,
Este caso resolver.


De salientar que as raparigas da ribeira de Muge, de pobres que eram, para enviarem uma foto para os namorados, maridos, que estavam na guerra, em França, pediam o vestido emprestado ao fotógrafo.

Rapariga de Marianos