A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Convite da Academia da Ribeira de Muge


Num futuro que esperamos breve, quer a Academia Itinerarium XIV-Ribeira de Muge, poder receber os visitantes do Paço dos Negros da Ribeira de Muge, com quadros que recriem as várias fases da vida neste Paço, ao longo dos séculos. Desde o reinado de D. Manuel I a D. Maria I.


Recreação no Paço, de Manuel Evangelista


Pensa esta Academia poder um dia vir a presentear os visitantes e turistas, com uma exposição permanente, a recreação de uma montaria, um casamento na capela, a vida dos negros nas suas palhotas de pau a pique com as suas danças, o fabrico da farinha no moinho e do pão no forno, etc.

Para tal está empenhada a Academia a fazer as recolhas ainda possíveis, em todas estas vertentes.

Dança do Fidalgo – uma dança palaciana, que denota ser genuína, que o povo de Paço dos Negros tornou como sua, dançada em estreia, por quase imposição do homem que mais trabalhou para este evento, e minha, para a apresentação do livro D. Sebastião e o Vidente, de Deana Barroqueiro, no Paço. Um livro cuja trama, também se faz passar neste Paço.
Foto do autor

Clique para ouvir: Danca do Fidalgo

Ó preto, ó preto – uma dança, quiçá um resquício das danças de negros, que os homens dançavam em Paço dos Negros, ainda, há cerca de cem anos.

Clique para ouvir: o preto o preto


A mulatinha – uma canção recolhida na Ribeira de Muge, em dois locais distintos, no território da antiga coutada, que vai do Moinho de Vasco Velho ao Pego da Curva.

Clique para ouvir: A mulatinha


Para já, e enquanto este programa não é possível, para visitar e conhecer a história deste Paço, basta marcar a visita pelo Telm. da Academia:

934105455

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Estudo de caso na Academia - A Rainha


O principal “pecado” do folclore tem sido o notório desconhecimento e falta de respeito pela cultura do povo, a ausência de um trabalho de pesquisa sério e análise das recolhas no contexto histórico e social em que se insere, mesmo de um estudo comparativo com outros cancioneiros. Representar o passado sem mostrar empenho em conhecê-lo tem originado verdadeiras barbaridades. Em Paço dos Negros, que é ainda um manancial a descobrir, que é o caso que nos interessa tratar, mas não só.

Hoje vamos analisar uma bonita melodia, por nós recolhida em Paço dos Negros, que é dançada pelo Rancho Folclórico da Casa do Povo de Almeirim, com o título: Lá vem a rainha e que, como homem do povo, nos deixa maltratados. Consta, incompleta, das valiosíssimas recolhas de Álvaro Pina Rodrigues.

Nesta moda, é notório que as duas quadras de que originalmente seria composta relatarão um facto histórico: A partida da Família Real para o Brasil. Não serão de origem genuinamente popular.

Clique para ouvir: La vem a rainha
 Almeirim

Eu sou aquela mulher
Que do mar trouxe a rainha (2)
Lançar as velas ao vento
Leva a vela direitinha (2)

Clique para ouvir: A rainha
Paço dos Negros

Quem foi (é) aquela mulher (galera?)
Que no mar leva a rainha (2)
Deitou os olhos ao mar
Lá vai ela direitinha (2)

Almeirim:
Leva a vela direitinha
Não vá a barca encalhar (2)
Lá vem a nossa rainha
Por sobre as águas do mar (2)

Paço dos Negros:
Lá vai ela direitinha
Não vá a vela tombar (2)
Lá vai a nossa rainha
Sobre as águas do mar (2)

Num processo popular criativo e evolutivo normal, terão sido adaptadas e, introduzindo-lhe um refrão, dançadas pelo povo. Com o decurso do tempo foi-se adulterando até chegar a:
Eu sou aquela mulher
Que do mar trouxe a rainha
Ambos os casos cantam no primeiro verso, esta “mulher”: No caso de Almeirim, “Eu sou aquela mulher”, no caso de Paço dos Negros, "Quem foi aquela mulher", o que não sendo uma canção religiosa, tira todo o sentido ao verso quando, na segunda quadra, em ambas, aparece por exemplo: “Lá vai (vem) a nossa rainha/por sobre as águas do mar.”

Com pequenas diferenças entre elas, o discurso alterna, ora no passado, ora no presente, facto que nas recolhas populares é frequente, sem contudo desvirtuarem o essencial.
É manifesta a representação de factos inverosímeis (uma mulher que trouxe a rainha?) e torna ininteligíveis o que denota serem factos históricos. Sem questionamento. O que empobrece a cultura popular e por vezes deixam o folclore pelas ruas da amargura, afastando novos amantes, pois mais parecem tolinhos que estão ali numa representação circense, sem saberem a razão porquê.
Linguagem popular, sim, quanto mais melhor, mas alienação e deturpação não.

HIPÓTESE ACADÉMICA: Não será o termo GALERA que ali foi roubado?

QUEM É AQUELA GALERA/QUE NO MAR LEVA A RAINHA...O povo que todos os factos históricos cantava (que tentou embarcar), não nos levará ele ao ano de 1807, que durante dois dias viu a Corte, e dezenas de navios, ficarem a pairar no Tejo, à partida da Rainha e do príncipe regente para o Brasil?
Lá vai a nossa rainha
Por sobre as águas do mar

É uma hipótese que a Academia da Ribeira de Muge vai continuar a investigar.

Recado: um elemento desta Academia (futura) acaba de receber três chaves do Paço, do sr. Vereador da Cultura da Câmara de Almeirim, para ali poder ensaiar. Mas esta Academia que dizer ao sr. Vereador, que sendo um princípio, é insuficiente, se há alguém em Paço dos Negros que merece ser guardião das chaves da Paço, essas pessoas estão nesta Academia, todas, pois não aceita ser discriminada em relação a outros que o que têm feito pelo folclore e pela cultura de Paço dos Negros e da Ribeira de Muge, é servirem-se do trabalho de outrem. Caso das danças, recolhidas, criadas e ensaiadas, magnificamente, pela Gina, e das letras das músicas de que esta senhora é a única autora. Em próximas actuações espero ver por este grupo de dança e música popular, de autor, anunciada a autoria das letras, sob pena de estarem a cometer um possível crime de usurpação. Facto que já aflorei no post anterior.
Peço ao sr. Vereador, que está tratando este caso das chaves de modo errado, roçando a traição e a cobardia, pois bastava dar uma ordem, e as chaves que haviam sido atribuídas pela própria Câmara, decerto seriam entregues de imediato por quem as detinha. Se alguém detinha chaves “ilegalmente?”, seriam precisamente os seus favorecidos.
Sr. Vereador quer um conselho? Deixe-se de actuar fazendo rapapés à fama e às palmas fáceis e ignorantes, em detrimento do trabalho isento, do estudo e da investigação e o concelho de Almeirim ganhará e voltará a ser grande e respeitado.

domingo, 11 de abril de 2010

Mulheres da Ribeira de Muge - Baldoninha

"Verso" cantado pela mulheres de Paço dos Negros, durante anos a fio, dentro dos canteiros de arroz.

É cantado por Leonor Florêncio, uma grande cantadeira e bailadeira.

Cilque para ouvir: Baldoninha

Prepara-te ó Baldoninha
Já me estou a preparar
Ao balho da reinação
Não podemos lá faltar

Vamos embora minha mãe
Já podemos abalar
Já lá estão sete rapazes
Para comigo dançar

Ai então ó Jozesito
Ela aí vai a entrar
Vê se ma deixas em pontos
De ela ao balho não voltar

Cale-se aí ó mulherzinha
Não me esteja a apoquentar
Nó semos sete rapazes
Para a sua filha estafar

Ela assim que lá chegou
Logo se foi assentar
Eram sete balhadores
Menina venha balhar

Boas noites meus senhores
Boas noites venho a dar
As raparigas são poucas
Eu também quero dançar

Quando chegou ao meio do balho
Um grande grito atirou
Disseram uns para os outros
Baldoninha arrebentou

Quando ela saiu do balho
Do peito se ia a queixar
Ao balho da reinação
Onde eu vim a arrebentar

Os rapazes que a levavam
Choravam do coração
De ver o sangue a saltar
Para fora do seu caixão

O fato que ela levava
Era de seda amarela
Que toda a gente chorava
Por aquela linda donzela

Torradas novas torradas
Lá para trás dos olivais
Esta moça foi criada
Nos foros dos Marinhais

sábado, 10 de abril de 2010

A Escola

Turma da Escola Priméria, do ano lectivo 1952-53. Foto tirada no dia 10 de Dezembro. Professora: Maria de Jesus Borrego. A primeira professora que, de modo sistemático, veio ensinar Paço dos Negros. Esteve até ao final da década de 50.

Podem ver-se crianças descalças.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O Aforamento de Paço dos Negros

Recibo de pagamento à Casa de Atalaia, do foro de parcela de terreno, em Paço dos Negros, no ano de 1959.
terrenos que, na sua maioria haviam sido aforados em 1903-4.