A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Moinhos, caminhos, e descaminhos da Ribeira de Muge

Teve a Ribeira de Muge ao longo de seis séculos cerca de 20 moinhos, os quais foram recebendo designações diversas. Tiveram como construtores, donatários ou arrendatários, as mais diversas personagens, desde moleiros, criados, clérigos, frades, escudeiros, almoxarifes, desembargadores, fidalgos.
De entre outros, as referências ao moinho do Paço, do Pinheiro e da Ponte Velha, remontam a finais do século XV, inícios de XVI, anterior à construção do Paço. Era seu titular Vasco Palha, contador-mor de Santarém e almoxarife no Paul da Serra, na ribeira de Muge. Moinhos estes, e terrenos, que cedeu em escambo ao rei D. Manuel para a construção do Paço.
São contudo, três moinhos a sul de Raposa, aqueles cujas referências são as mais precoces.
Vemos em uma carta de D. Duarte, de 1434, na qual, por mor de uma contenda, foi ordenado fazer a demarcação dos concelhos de Muge e Santarém, pela estrada que vai para Coruche, pelo moinho da Riguefeira: «…as terras e termos daqui em diante sobre que a dita contenda é, será partida e declarada por esta guisa que se segue: e assim como vai da estrada pelos moinhos da Riguefeira para Coruche, e que da estrada para fora da contra Muja fique por seu termo e desce pelas outras divisões de uma e outra contra parte segundo ao que o concelho é divisado e demarcado e o concelho de Santarém haverá por seu termo da dita estrada para cima e em tal guisa que os moinhos que se chamam da Riguefeira fiquem em sua terra e seu termo». (ficaria este no concelho de Santarém e dois no de Muge).
Termo este, Regueifeira, que delimita a montante o paul de Muge, como confirmam várias cartas de D. Duarte, em que o dito paul vai desde a Ponte da vila até à Regueifeira, ou vice-versa.
Termo este que tomaria, ainda no século XV, o nome de Moinho de Vasco Velho, designação que manteria durante vários séculos e que aparece na delimitação da mata e coutada da Ribeira de Muge, até ao século XVIII, onde sempre diz: desde o moinho de Vasco Velho; com o tempo alternando a montante até: Mem Fernandes, Pego da Curva, Marmeleira…
Outros moinhos e outras designações se foram construindo e tomando.
O Porto da Regueifeira em 1459 era designado de Porto de Lançarote, do nome do seu titular, grada figura, morador em Muge. Teve outros titulares como, Aires de Sousa Coutinho e sua mulher, Filipa da Cunha, quando em 1568, sob a designação de “Moinho junto do Pontão”, foi feita esmola aos frades do convento de Nossa Senhora da Serra. Doação que durou até ao século XIX.
Este Porto da Regueifeira, em 1434 Lançarote, e Pontão desde meados do século XVI, vem confirmar sulcos ancestrais, bem racionais por sinal, já que evitavam penosos declives e encurtavam distâncias, como se pode hoje confirmar no terreno. no mapa anexo pode ver-se a estrada do Convento da Serra ao Pontão.)
O Porto da Corte dos Pegos (actual estrada da Raposa), aparece no século XVI, a encimar a Coutada das Éguas que vai desde o Porto da Regueifeira, até ao Porto das Cortes dos Pegos. Pegos das Ferrarias que ainda hoje são conhecidos e cantados, na Raposa.




Moinho da Ponte Velha



Hoje os caminhos da Ribeira de Muge são outros. São descaminhos. São caminhos de interesses. São caminhos de ignorância. A ribeira está a saque. Poluída. Abandonada há mais de 30 anos. Indivíduos que deveriam ser responsáveis, enchem a boca na sua defesa e ignoram-na. Baseando-se em conhecimentos que não têm, sem qualquer estudo científico que sustente a sua decisão, alguns sem conhecerem sequer onde fica a Ribeira, além da incúria que patenteiam para com os monumentos ainda de pé, agem como mercenários em terra alheia, preparando-se para lhe dar a machadada final. Será legítima a indignação dos cidadãos conscientes? Será que não é legítimo a um cidadão interrogar-se: Porquê?

Ribeira de Muge entulhada e poluída






terça-feira, 17 de novembro de 2009

Campinos da Ribeira de Muge


«Manuel de Abreu nós el-rei vos enviamos muito saudar encomendamos-vos e mandamos que tanto que esta virdes compres doze vacas muito pequenas e as mais formosas e remendadas que puderdes haver e dois touros isso mesmo pequenos e formosos e tanto que os tiverdes comprados os envieis por um homem que para isso tomamos com este nosso moço de estribeira que a isso enviamos que os traga aos nossos Paços da Ribeira de Muge para aí andarem e o dito homem vos levará conta de Diogo Rodrigues almoxarife dos ditos Paços que declarará que os recebeu de nós e ficam sobres eles carregados em receita e por ele mandamos que aos nossos contadores que vos levem em conta o que custaram e isto cumpri assim com toda a diligência e brevidade por que cumpre assim o nosso serviço. Escrita em Lisboa aos 20 dias de Agosto André Pires o fez de 1513. E assim comprais também dois bois para andarem com um carro. Rei.» (CC, 1, maço 13, fol. 43).

(Em recibo, de 30 de Setembro, assinado pelo Almoxarife das Obras, Diogo Rodrigues, diz o custo de cada uma das 16 peças.)

Temos ouvido, por vezes, opinião de que na Ribeira de Muge nunca houve campinos. Manda a verdade dizer que na Ribeira de Muge haverá pelo menos 500 anos que existe a actividade ligada aos toiros, como se pode ver na carta acima, em que nos anos da construção do Paço da Ribeira de Muge, logo vieram 12 vacas, 2 bois e dois toiros.
Várias herdades na Ribeira de Muge, como os Gagos e a Ponte Velha, os tiveram, e outras como nas Talasnas parece que mantêm ainda a criação de toiros bravos.

“Último” campino da Ribeira de Muge” que morreu em Maio de 2007 e, até morrer, o víamos passar na sua bicicleta, a fazer o percurso Várzea Redonda – Paço dos Negros, sempre fardado a rigor.

A nossa homenagem a António Simões.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Paço dos Negros romano - Ponte Romana

Pegão de ponte; romana?, na ribeira de Muge, no sítio do Arco, lugar de Ponte Velha, junto a Paço dos Negros. (descoberta pelo Mestre Eurico Henriques)
Serviria a via Santarem-Évora
(consultar: http://www2.ipa.min-cultura.pt/pls/dipa/wsearch2.psitio



Antigo Mapa da estrutura viária da peninsula Ibérica

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Paço dos Negros da Ribeira de Muge Romano


Cerâmicas encontradas no Paço dos Negros da Ribeira de Muge



(Associação de defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim)

terça-feira, 10 de novembro de 2009

O Paço dos Negros da Ribeira de Muge, romano


Moeda romana – AEZ – de Valentinianus, século V – Paço dos Negros
(Associação de defesa do Património Histórico do concelho de Almeirim)