A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Academia Itinerarium XIV traz à cena “Candonga” Lar de S. José



A “Candonga”, peça de teatro escrita e encenada pela Academia Itinerarium XIV, celebra o sofrimento do povo quando o Estado Novo impôs um racionamento de géneros, como o arroz e a farinha (entre outros), enviando grande parte destes para a Espanha (durante a Guerra Civil) e a Alemanha Nazi (durante a 2.ª Guerra Mundial), votando os portugueses à fome de um pão racionado que não chegava para todos. “Candonga” quer dizer “contrabando de géneros alimentares”. Foi isso que aconteceu em Paço dos Negros, e por toda a Ribeira de Muge: os moinhos, proibidos de trabalhar, contrabandeavam a produção de farinha e o descasque de arroz que cada um ia conseguindo roubar, mas sempre pela calada da noite. Às cinco da manhã tudo, teria de estar limpo, como se nada se tivesse passado.


“Candonga” passa-se numa noite deste tempo. Um rude casal de moleiros vai recebendo os seus fregueses, que aí se dirigem para comprar os géneros contrabandeados ou já levam aqueles que conseguiram ocultar da fiscalização. Baseada em pequenos episódios relatados pelas pessoas que viveram estes tempos, esta peça, apesar do humor que a ponteia, pretende ser sobretudo um tributo e um contributo à memória destes tempos, para que desta forma este património imaterial não se perca.



Esta peça foi criada de propósito para a comemoração do Dia Nacional dos Moinhos, em Abril passado, tendo sido encenada no Moinho do Fidalgo. O convite por parte da Santa Casa da Misericórdia de Almeirim para a sua realização no Dia dos Avós, para os avós que viveram estes tempos, muito orgulha a Academia, que assim vai cumprindo o seu papel de divulgação do património da Ribeira de Muge, nas suas mais variadas vertentes. Cremos ter cumprido o nosso papel, pois os avós, no final, perguntaram por mais. 

 
 
Fotos e vídeo Jornal "O Almeirinense"