A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

domingo, 16 de abril de 2023

MOINHOS ABERTOS 2023

Desde 2014 que a Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge tem participado no Dia dos Moinhos, inscrevendo o Moinho do Fidalgo nesta iniciativa. Neste ano de 2023 decidimos não o fazer, e ir participar no Dia dos Moinhos Abertos noutros locais, relativamente próximos de nós. Assim sendo, ontem, dia 16 de abril, estivemos no Moinho da Parreira (UF Parreira-Chouto, Chamusca) , e hoje, 17 de abril, estivemos novamente no Moinho da Parreira e também no Moinho dos Foros do Arrão (Concelho da Ponte de Sor). 

Foi com muito agrado que encontrámos as portas abertas nestes dois locais, e com dois engenhos plenamente funcionais, valorizados, e sobretudo vividos. Não faz sentido hoje fazer-se uma recuperação e não a viver – tem de se assumir como um fator identitário e foi bom ver as suas gentes em clima de convívio junto aos engenhos. Ficamos de ânimo cheio, e com vontade de para o ano voltarmos aos Moinhos Abertos no Moinho do Fidalgo.


Fotos da nossa participação: 



























quinta-feira, 9 de abril de 2020

N.º 1 Boletim Novo Caminho: A Ponte Romana


Sobre este Boletim

1. Na senda da defesa da história do património de Paço dos Negros e da Ribeira de Muge, a Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge assume o desafio da criação deste boletim. Este não é um boletim informativo com as nossas últimas novidades, ainda que as possamos divulgar por esta via. Na verdade, pretendemos que com o “Novo Caminho XIV” sejam divulgados alguns aspetos da nossa cultura e da nossa história local. A defesa da memória pode e deve ser uma constante aqui. Este boletim, que neste primeiro ano de 2020 será quadrimestral, tal como a academia, não pretende “fechar-se na sua capela”. Os textos aqui apresentados poderão ser escritos por elementos da academia ou por convidados. Caiba a referência que o boletim será disponibilizado online, nas redes sociais e no nosso blog, com a versão para impressão para aqueles que não dominarem as novas tecnologias.

2. Este primeiro número é escrito por Manuel Evangelista, um dos fundadores da academia e que participou na descoberta da dita Ponta Romana que o boletim aborda. A apresentação do “Novo Caminho XIV” esteve para acontecer durante o Dia dos Moinhos Abertos 2020 (que esteve marcado para o primeiro fim de semana de abril). Devido à pandemia do COVID19, o evento foi alterado, mas uma vez que conseguimos fazer este lançamento sem reunir pessoas, decidimos lançar o boletim na mesma, e apresentarmos nos Moinhos Abertos aquele que já será o terceiro boletim (os Moinhos Abertos foram alterados para o fim de semana de 19 e 20 de setembro). O tema abordado prende-se, precisamente, com as pontes sobre a Ribeira de Muge em Paço dos Negros, para assinalar os 40 anos da construção da atual ponte que liga este lugar ao Arneiro da Volta.

3. Caiba ainda a referência ao novo livro de Manuel Evangelista, “A vida na Herdade dos Gagos contada e vivida por Manuela dos Gagos”. Uma obra que pretende não só homenagear uma das maiores fontes orais que o autor mais tem tratado nas suas várias publicações, como também deixar registado, para a posteridade, um vasto património.


A Ponte Romana

I. A Via Romana 
A via Santarém-Évora é pouco referenciada pelos vários estudiosos do tema. Alarcão, 1988, diz: «Não é de excluir inteiramente a hipótese de uma ligação directa de Ebora com Scalabis e com Tubucci.», e afirma a possibilidade desta via, na passagem do Sorraia, junto à foz do rio Divor-Pé da Erra.

Mário Saa, idem, que afirma a via XIV do Itinerarium de Antonino Pio assente na ribeira de Muge, teria considerado Tacubis a sudeste de Scalabis.

O estudo de Mário Saa, afirmando a via XIV e localizando de algum modo Tacubis na ribeira de Muge, bem como a recente descoberta de vestígios de ponte, “romana”, torna a actual Paço dos Negros local de confluência da via Lisboa-Mérida com a via Santarém-Évora-Beja; a cidade ribatejana e a baixo-alentejana, ambas importantes capitais de Conventus.
(Para aprofundamento deste tema consultar EVANGELISTA, Manuel (2011), Paço dos Negros da Ribeira de Muge - A Tacubis Romana, Paço dos Negros, Edição de autor, pp. 19 a 46.)


II. A Ponte do Bispo
No século XVI era esta ponte, na ribeira de Muge, local de passagem referenciado como a “Ponte do Bispo”. Ponte porventura refeita sobre estrutura milenar.

Na Carta de Aforamento de um moinho … a Estevão Peixoto, almoxarife dos Paços da Ribeira de Muge.../... por estrada que vai de Santarém para a ponte do Bispo, da banda de noroeste parte com a minha estrada que vai para a vila de Muja, e charneca…, e da banda de sueste parte para a minha ribeira… (Juízo Tombo Real Coroa de Santarém.)

Tratar-se-à a referência ao bispo Diego Ortiz de Villegas, El Calçadilha?, frequentador assíduo do Paço de Almeirim, onde veio a morrer no ano de 1519, tendo sido sepultado no Mosteiro de Nª Sª da Serra.

Outras referências orais que encontrámos em Paço dos Negros sobre a localização desta Ponte, no ano de 2009, junto de Guilherme da Nazaré Caniço, de 83 anos, pela boca de sua avó, Jacinta Rainha, como sendo a Estrada da “Ponte do Bispo, estrada que passava a ribeira, abaixo do moinho do Pinheiro uns 200 metros.


Nos últimos séculos já se teria utilizado a madeira, de que a região é tão rica, para a manutenção da ponte. Facto que nos foi comunicado por um antigo cavador, Francisco Vital, nascido, criado e morador na Ponte Velha, que conheceu e participou no desmantelamento de grossos “prumos” em madeira de pinho verde, no lugar do Arco; onde hoje se encontram as ruínas em pedra no leito da ribeira. “Arco”, no lugar de Ponte Velha, junto a Paço dos Negros. Arco, topónimo popular vivo, que é ele sintomático, pois que hoje, devido à destruição pelo homem e ao assoreamento, não é visível qualquer arco.

De quando era jovem (c. de 1950), sobre estas ruínas, eis o que nos disse, no ano de 2009, um antigo cavador, de Paço dos Negros, nascido em 1932, José Moreira Fernandes:
«No chão, dentro da terra de arroz, estavam os prumos da ponte. A ponte saía para o lado da ribeira da Calha, (do lado esquerdo da ribeira de Muge). A estrada que saía era a direito a subir o cabeço. Não ia pela borda da ribeira, como hoje vai. (ver foto acima). Depois é que fizeram a estrada mais por dentro, pela borda da ribeira da Calha acima, e depois para a Lamarosa passou a ser pelo Arneiro Alto. Tinha dois prumos que era onde estava o tal arco. Mas o arco completo já não o conheci. Estavam dois prumos em tijolo, e eu andei lá a cavar, a arrotear a terra. Andávamos a cavar para fazer terra de arroz, e era para escangalhar os tais dois prumos.
O capataz, que era o Navalhas, dizia para o Manel Rato: – Manda a enxada! O Manuel Rato mandou a enxada, escangalhou a enxada. Partiu-se. Era dois prumos que havia dentro da terra de arroz. Devia ser coisa antiga.»




III. O achado
O achamento desta ponte, se bem que muitos já tivessem conhecimento de umas ruínas no leito da ribeira, é devido ao Mestre Eurico Henriques, no ano de 2005, o que vem não só colmatar uma grande falha sobre o conhecimento deste itinerário romano, Santarém-Évora-Santarém, como dissipar algumas dúvidas que pairavam sobre a existência desta via; talvez que seja um dos mais tardios itinerários nas vias romanas, mas vem decerto baralhar todo um conjunto de conceitos que carecem de ser reformulados.

Ainda hoje o termo de Coruche, bem como o limite da diocese de Évora, situado a cerca de dois quilómetros deste local, tocam o ponto onde assentava esta ponte. Ponte, e estrada se na margem esquerda ainda perceptível (rever foto acima), na margem direita hoje sem vestígios físicos visíveis.

Na margem direita foi levantado “o tapadão” em terra, para defender a lavra das cheias, em meados da década de 50, do séc. XX, e, segundo informações que ao autor foram prestadas por um velho tractorista, Alberto Moreira, de 80 anos, este afirma que ao lavrar a terra, na margem direita, na herdade da Ponte Velha, no encaminhamento do Tegão ora encontrado, a charrua tinha de ter menos profundidade e ainda assim raspava em empedrado.

Decerto que jazerão as ruínas dos arcos, soterradas dentro do assoreado e arenoso terreno aluvial.

 2. Tegão da Ponte Romana da Ribeira de Muge, em Ponte Velha. Foto do autor.


IV. Os topónimos
Dando nome ao lugar onde estava edificada a ponte romana, Ponte Velha, porque única por longos séculos, esta ponte foi ainda decisiva na origem da denominação de lugares que lhe estão próximos:

- O próprio topónimo de Sítio do Arco, onde se situa a ponte;

- A Nordeste, o lugar de Arneiro da Volta, que, analisando a geografia e orografia do terreno, se explica o topónimo pela “volta”que era obrigatória dar para quem, deslocando-se do Alto Alentejo pela via da ribeira da Calha do Grou ou pela antiga via, pois ao encontrar-se naquela planáltica chã, obrigatoriamente se dirigia ao local de travessia da ribeira de Muge, a Ponte Romana, e nos últimos séculos, poucas centenas de metros acima, ao Porto das Carretas.


PRÓXIMO NÚMERO: António Nunes Pão-Alvo ou António Domingos - uma biografia possível


FICHA TÉCNICA:
Texto: Manuel Evangelista
Montagem e Grafismo: Maria Nélia Castelo
Apresentação: Abril de 2020


Se quiser receber no seu email os próximos boletins na versão para impressão, por favor, envie-nos um email para academia.xiv@gmail.com, com a mensagem "Por favor, remetam-me o Boletim Novo Caminho XIV". 

segunda-feira, 25 de março de 2019

Dia dos Moinhos Abertos 2019 no Moinho do Fidalgo


Nos próximos dias 6 e 7 de abril (entre as 15.00h e as 18.00h) o Moinho do Fidalgo, em Paço dos Negros (Almeirim) estará aberto para poder ser visitado, no âmbito da iniciativa nacional "Dia dos Moinhos Abertos". Durante este fim de semana, estarão abertos inúmeros engenhos por todo o país, ao mesmo tempo, com animação própria. 

No Moinho do Fidalgo, além da abertura com possibilidade de conhecer a história e tecnologia deste centenário engenho, teremos ainda este ano a exposição temática "As Brincadeiras - Origens e Pioneiros". As Brincadeiras foram um evento lúdico criado em meados do séc. XX em Paço dos Negros nos "meios dias santos" (tarde de 5.ª feira Santa e manhã de 6.ª feira Santa). Consistiam em jogos, cantigas e danças feitos pelos rapazes e raparigas solteiros. A exposição será animada por alguns quadros vivos no decorrer do evento. 




Teremos ainda no moinho o lançamento do livro "As Brincadeiras de Paço dos Negros da Ribeira de Muge", de Manuel Evangelista, no sábado, dia 6, às 16.00h. Uma obra fruto de anos de recolhas que o autor leva pelas pessoas mais velhas da zona da Ribeira de Muge, e que perpetuará um costume já desaparecido do lugar de Paço dos Negros. 

terça-feira, 19 de março de 2019

As Brincadeiras

A lançar no dia 6 de Abril. No moinho do Fidalgo, Paço real da Ribeira de Muge, em Paço dos Negros.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Relatório de Atividades 2018

I. Iniciativas
a. Dia dos Moinhos Abertos (7 e 8 de abril)
Em 2018, pelo quinto ano consecutivo, a Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge inscreveu o Moinho do Fidalgo na iniciativa nacional “Dia dos Moinhos Abertos”, promovida pela Rede Portuguesa de Moinhos. Este evento, que pretende que ao mesmo tempo estejam abertos para visita em todo o país o máximo de engenhos, contou com a participação de 367 moinhos em Portugal, sendo o Moinho do Fidalgo o único participante da parte sul do Distrito de Santarém. 
Neste ano, e tendo em conta que a 9 de abril se assinalou o centenário da Batalha de La Lys, a iniciativa contou com uma exposição temática, no interior do moinho, intitulada “Influências da 1.ª Guerra Mundial da Freguesia da Raposa”, onde se deu primazia não só ao contexto da Batalha, mas também se deu a conhecer os soldados da nossa região que participaram na 1.ª Guerra Mundial e a cultura popular (cantigas e “versos”) que se criaram nesta época. 
Além da exposição, no domingo dia 8 de abril contamos com a presença de José João Pais, que proferiu uma palestra intitulada “Recordando a Batalha de La Lys. 9 de abril de 1918”. José João Pais é um historiador, com vasta bibliografia social e histórica da região de Alpiarça. 

b. Entrega de Boletins de Soldados às suas famílias (9 de abril)
A Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge não quis deixar de assinalar o centenário da Batalha de La Lys no próprio dia 9 de abril. Assim, os Boletins dos Soldados que estiveram em exposição no Moinho do Fidalgo durante o evento “Dia dos Moinhos Abertos” foram oferecidos pela academia aos familiares dos soldados, que ainda hoje vivem em Paço dos Negros, Marianos, Parreira, Monte da Vinha e Arneiro da Volta. 

c. Centenário de Custódio “dos Paios” como Feitor da Herdade dos Gagos
Custódio João Evangelista, mais conhecido como “Custódio dos Paios” entrou na Herdade dos Gagos a 22 de novembro de 1918, e revolucionou por completo a forma de exploração desta propriedade ao longo de parte do séc. XX. Para assinalar o centenário desta efeméride, Manuel Evangelista (seu neto), em associação com a Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge no dia 24 de novembro organizou um passeio pela Herdade dos Gagos, seguido de almoço, onde se recordou além da figura de “Custódio dos Paios”, D. Hermano Sobral, Dona Fanny, entre outras
De tarde, foi apresentado no Centro de Formação Agrícola dos Gagos o livro “O Feitor”, da autoria de Manuel Evangelista. Este é uma obra biográfica de Custódio João Evangelista, por um lado, e por outro uma resenha histórica da Herdade dos Gagos nos últimos cem anos. 

II.Publicações
EVANGELISTA, Manuel – O Feitor (ed. de Marcos Evangelista) 

III.Comunicações e Participação em Eventos 
Manuel Evangelista – em representação da Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge participa na 14.ª Convenção do PEV em Lisboa, no dia 17 de novembro.