A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

segunda-feira, 14 de março de 2016

COMUNICADO Academia Itinerarium XIV adere ao Dia dos Moinhos Abertos


A Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge, na senda da valorização do património local do eixo Raposa-Paço dos Negros-Marianos (Almeirim), nas suas mais variadas vertentes, procedeu pelo terceiro ano consecutivo à inscrição do Moinho do Fidalgo no Dia dos Moinhos Abertos. Esta é uma iniciativa nacional, promovida pela Rede Portuguesa de Moinhos, e que em 2016 assinala o seu 10.º ano consecutivo. Em 2015 foram 327 os engenhos que estiveram abertos para esta atividade, tendo sido o Moinho do Fidalgo o único participante da parte sul do distrito de Santarém.

A programação será divulgada oportunamente, sendo enquadrada no tema definido para 2016: o Ano da Cultura Popular. Para já, segue o cartaz nacional desta iniciativa. 

Nota ainda que o Relatório de Atividades de 2015 da Academia Itinerarium XIV foi aprovado em reunião de 13 de março, sendo relativo ao desempenho prestado por esta entidade ao longo do ano passado, nas suas mais variadas iniciativas. 

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

O Moinho de Vento de Paço dos Negros na IM-91


A revista "International Molinology" é uma publicação semestral da TIMS (The International Molinological Society). O último número, que chegou aos membros nesta semana, é a edição especial do 50.º Aniversário da TIMS, com o dobro do tamanho habitual. A revista é dividida em várias secções temáticas (artigos científicos originais, sugestões de leitura relacionadas com molinologia, pequenas notícias, entre outros). 

Foi publicada nesta edição um pequeno artigo (no capítulo "communications") com o nome "Paço dos Negros Windmill, Almeirim, Portugal", da nossa autoria, em que foi relatada a descoberta não só da tipologia como da imagem do desaparecido Moinho de Vento, que existiu em Paço dos Negros. Este, entre outras singularidades, nunca precisou de outra designação que não aquela, por ser o único da sua tipologia na zona. 

Uma construção efémera (laborou cerca de 30 anos), que foi imortalizada na mente da comunidade com uma placa toponímica, mas cuja imagem era completamente desconhecida. Trazê-la ao presente, no Dia dos Moinhos Abertos de 2015, foi sem sombra de dúvida um dos melhores momentos da vivência cultural da Academia Itinerarium XIV da Ribeira de Muge. Nada nos deixa mais feliz que ter acontecido precisamente no ano em que a TIMS comemora cinquenta anos de existência! O último paragrafo do artigo sintetiza precisamente este  indescritível sentimento: 

"This discovery was, without a shadow of a doubt, the best gift that a group of citizens with love to their homeland and dedicated to its history and culture could have received. Nothing makes us more proud than that this discovery was made on TIMS's 50 years commemoration."

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Conversa entre amigos sobre o Natal da nossa terra e as nossas memórias

Conversa entre amigos sobre o Natal da nossa terra e as nossas memórias 

E ainda «Versos - o Romanceiro da Ribeira de Muge»"



É este o mote para a última iniciativa de 2015 da Academia Itinerarium XIV. A realizar no próximo dia 20 de dezembro, às 15.00h, no Paço Real da Ribeira de Muge (Paço dos Negros - Almeirim). Um pouco ao estilo de uma conversa sobre "o antigamente", como se passava o Natal aqui, algumas estórias caricatas que aconteciam no Dia de Natal, entrelaçada com poesia e narrativas recolhidas junto das pessoas que aqui viveram e vivem. Algumas destas serão contadas pelos próprios protagonistas ou autores. 

Mas como o espírito natalício impele a que haja um dar e um receber, pretende-se que quem nos visite fique não só a conhecer o Natal da Ribeira de Muge, mas também que nos dê a conhecer como era o seu Natal antigamente e como é hoje. Assim, o convite é que venham também partilhar o vosso Natal com todos nós. 

Dentro deste espírito de informalidade e de conversa, será apresentado o livro "Versos - O Romanceiro da Ribeira de Muge", da autoria de Manuel Evangelista, que reúne poesia e narrativas populares recolhidas pelo autor ao longo de vários anos que se dedicou ( e continua a dedicar) a estudar a cultura popular da Ribeira de Muge. 

A Academia Itinerarium XIV é constituída por um grupo de cidadãos de Paço dos Negros, e tem como objetivo a promoção da divulgação do património, história e etnografia deste local. 

terça-feira, 17 de novembro de 2015

"Versos" O Romanceiro da Ribeira de Muge.

No prelo. A sair antes do Natal. Uma eterna gratidão às mulheres que no-lo deram.

Índice
IN MEMORIAM  7
AS PRIMEIRAS PESQUISAS     9
ROMANCEIRO DA RIBEIRA DE MUGE, UM LEGADO CULTURAL     12
HISTÓRIA, TRANSMISSÃO DO ROMANCEIRO, E TRANSMISSÃO DA NOTÍCIA COMO ARTE   19
A DESCOBERTA DE ASPECTOS GENUÍNOS DA CULTURA LOCAL. O “PRIVILÉGIO DE REGRESSAR À IDADE MÉDIA”.       22
ESTRUTURAÇÃO E OBJECTIVOS DESTE ESTUDO  25
OS MESTRES   27
A CATEGORIZAÇÃO DO ROMANCEIRO     29
AGRADECIMENTOS      30

PARTE I – ROMANCES VELHOS  31
A NAU CATRINETA     34
DONA INFANTA (A BELA INFANTA, ETC.)     35
O ANEL DE SETE PEDRAS (A DONA INFANTA, BELA INFANTA, RICOLINA, ETC.) – versão 2  36
O LENCINHO (O ANEL DE OIRO, DONA INFANTA, BELA INFANTA, ETC.) versão 3    38
CLARALINDA (A BELA INFANTA) – versão 4  39
A NOIVA (CONDE DIRLOS, O REGRESSO DO NAVEGANTE, A NOIVA ARRAIANA, MENINA DA MANTILHA NOVA, CONDE FLORES, ETC.)  40
A NOIVA – versão 2  42
NOIVA – versão 3    43
A NOIVA – versão 4  44
A CONQUISTA DE LISBOA      45
D. MARQUES (D. MARCOS, D. LEONOR, A DONZELA QUE VAI À GUERRA, ETC.)       46
D. MARQUES – versão 2      49
JULIANA (O VENENO DE MORIANA, D. AUSENIA, D. JORGE, ETC.)   51
D. INÊS (BRAVO FRANCO, D. FRANCO, GALLO FRANCO, RICO FRANCO, ETC.) 52
MARIANA (CONDE DE MONTALVAR, CONDE CLAROS, ALBANINHA, D. LISARDA, ETC.)   54
MARIANA – versão 2  56
SILVANA (DELGADINHA, SILVANINHA, ETC.)  58
ADELINA (SILVANA, SILVANINHA, ETC.) – versão 2 60
CONDE DA ALEMANHA (CONDE ALARCOS, CONDE ALBERTO, ETC.)      61
CONDE DA ALEMANHA – Versão 2      63
LAURALINDA (CLARA LINDA, FILOMENA, D. ALDA, ETC.)     64
FREI JOÃO (A MORENA, FILOMENA, MORENINHA, ETC.)       65
FREI JOÃO – versão 2       67
O SOLDADINHO NOVO   68
O SOLDADINHO (BERNAL FRANCÊS, A AMADA DEFUNTA, A APARIÇÃO, ETC.) – versão 2      69
O SOLDADINHO – versão 3    70
A PASTORINHA 71
SANTA IRIA (IRIA A FIDALGA, SANTA HELENA, ETC) 72
DONA IRIA – versão 2       74
O CEGO (MINETA, O FALSO CEGO, ROMANCE DE ANINHAS, ETC.) – versão 3 75
O CEGO PANTOMINEIRO (O FALSO CEGO, O CEGO, O CEGUINHO, ETC.) – versão 4   76
A CONDESSA (A VISCONDESSA, CONDESSA DE ARAGÃO, ETC.)  77

ROMANCEIRO ANTIGO   79
QUINTA-FEIRA DE ASCENSÃO   81
ROSALINA     82
ROSALINA – versão 2 83
ROSALINA – versão 3 84
ROSALINA – versão 4 84
ONDE VAIS TU CRIANCINHA?   85
ONDE VAIS TU CRIANCINHA? – versão 2     86
A MULHER SOBERBA (ROMANCE DO HOMEM RICO, A MULHER AVARENTA, ETC.)  87
NUNCA TE DAREI PERDÃO      88
NUNCA TE DAREI PERDÃO – versão 2  88
PERDÃO EMÍLIA 89
UM SINAL NO CÉU     90
ROSITA (MORTE DE PARTO, BRANCA ROSA, ETC.)     90
A ROSA (BRANCA ROSA, ETC.) – versão 2   91
POMBA SEM FEL, (BELA AURORA A DOENTE, ROMANCE DOS DOIS NAMORADOS, ETC.)   93
SILVA DO VALE 94
UMA ALMA DO OUTRO MUNDO    95
CERTO DIA FUI À CAÇA (LINDO CANÁRIO, A FILHA DO REI, ETC.)  96
Ó VIRGINA Ó VIRGININHA     97
O BAILE DA MALDIÇÃO 99
ALBERTINA ERA A FILHA DO REI      100

ROMANCEIRO RELIGIOSO (SACROS E DEVOTOS) 101
O BOM JESUS DA AURORA      103
JUBILOSO SANTO ANTÓNIO     104
ORAÇÃO DE S. LÁZARO 105
ORAÇÃO DE S. CUSTÓDIO (DO ANJO CUSTÓDIO) 105
QUINTA-FEIRA DE ENDOENÇAS  107
VALHA-ME DEUS (A DEVOTA DA ERMIDA)      108
Ó MINHA TRISTE NOITE ESCURA (ORAÇÃO DO DIA DO JUIZO)  110
MAGNIFA DE NOSSA SENHORA   111
ORAÇÃO DAS SETE SEXTAS-FEIRAS     112
ORAÇÃO ÀS ALMAS     113
AS DOZE EXCELÊNCIAS (versão 1)    114
AS DOZE EXCELÊNCIAS* (versão 2)   115
Ó BOM JESUS  116
SANTA BÁRBARA E S. JEROLMO 116
“VERSO” DE SANTO ANTÓNIO   117
O SINAL DO CRISTÃO  118

PARTE II – ROMANCEIRO LOCAL       119
ANTÓNIO DOMINGOS    121
Ó MILITAR Ó GALUCHO 122
MANEL BRAZ   123
DAVID CRAVINAS (JOÃO DO GUARDA)   125
O AIVECA     126
MANUEL FAUSTINO     127
INÁCIO DO MOINHO    128
HUMBERTO PADEIRO    129
FLORENTINA   130
FLAUZINO RABECA     131
DEONILDE TACHA      132
FOI NA BARRAGEM DA PIPA    134
ZÉ LIMA FAZENDEIRO  135
VERSO DA …-… 136
FOI NUM RANCHO DE FAZENDEIRAS     137
DIA DA ESPIGA 139
MARIA DA CONCEIÇÃO  140
O CEGONHO    141
ALDEIA DE MARIANOS  142
ADEUS MINHA QUERIDA AMADA  142
ZÉ MOIRA     143
O LADRÃO DA COMPORTA       144
OS DE ALMEIRIM JÁ LEVARAM QUE CONTAR    144
O ACIDENTE DO TURIM 146

PARTE III – “VERSOS” VINDOS DE OUTRAS REGIÕES DO PAÍS 147
O SÁBIO E O BARQUEIRO      151
POMBINHO CORREIO    151
ANA ROBERTA  152
O ROUBO      154
MARIA DA PAZ 155
MULHER DA VIDA      156
Ó CRIADA TU MAL SABES (A CRIADA E O PATRÃO)    157
AURORA DA CONCEIÇÃO 159
“VERSO” DE UM CÃO FIEL     160
A ROSINHA COSTUREIRA       160
AUGUSTO NÃO PENSASTE BEM   163
ANTÓNIO VEIO DE VIAGEM     163
UM RAPAZ QUE ERA TROPA     164
LINDA ISAURA 165
A DONA MARIA ALICE  166
MARIA ADELINA DE ALDEGAS   166
NUMA ALDEIA ALENTEJANA     167
Ó MANUEL, MANUEL    168
OH “EMILHA”  169
A TECEDEIRA VIOLINDA       170
UM RAPAZ DE QUINZE ANOS    171
UM GAROTITO DE DEZ ANOS    172
MARIA ALBERTINA     173
A PERPÉTUA DA CALÇADA      174
ALICE ANGÉLICA      174
PEQUENA ABANDONADA  175
MENINA QUE VAI PASSANDO    176
O MEU VIZINHO ALBANO       176
JOAQUIM DA PORTELA  177
BALDONINHA   177
LUCIANA      178
CARMA  179
“VERSO” DA ÍNDIA    180
ALBERTINA    180
A ROSITA E O FERNANDO      181
ADEUS MINHA MÃE QUERIDA    182
NOVE DE ABRIL MEU AMOR - BATALHA DE LA LYS     183
AS 48 ESTAÇÕES      184
A MORTE DE D. PEDRO V      185
UM PRETO GRANDE ESTEIO     186
NUMA ALDEIA UMA POBREZINHA 186
UM VELHO DE BOM TEMPO      187
ERA UMA VEZ UM MARRECO     188
O CABREIRITO (OU MENINA QUE ESTÁS À JANELA, ETC.)     188
O NOIVADO    190
A FORMIGA E A NEVE  191

BIBLIOGRAFIA 193

terça-feira, 10 de novembro de 2015

VALORIZAR O NOSSO APTRIMÓNIO

Com a devida vénia ao blogue de Samuel Tomé:

Samuel Tomé levou neste fim de semana o Moinho do Fidalgo ao III Encontro Nacional de Molinologia
Moinhos de Portugal com Samuel Tome
12 h
Samuel José Rodrigues Tomé
Moinho do Fidalgo - História, Tecnologia e valorização de um engenho centenário
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Evangelista Manuel

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Evangelista Manuel Um trabalho hercúleo o teu, sem dúvida. Na foto pode ver-se a capela de S. João Baptista, e, em baixo, o estado do moinho do Fidalgo, em Paço dos Negros, Almeirim, em 2003. Simplesmente não se vê, coberto de canas que está. Parabéns Samuel. Continua. E parabéns à Academia que tem lutado para que o nosso património seja reabilitado.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Nossa Senhora do Rosário nos assentos paroquiais de Santo António da Raposa na primeira metade do séc. XVIII

Na Paróquia de Santo António da Raposa, cujo primeiro livro de assentos paroquiais media o período de 1706-1741, aparece como madrinha de batismo quatro vezes Nossa Senhora do Rosário (num total de 289 batismos registados). Contudo, antes de tentarmos perceber esta devoção das gentes que aqui viviam, há que tentar perceber melhor o culto mariano no geral e a Nossa Senhora do Rosário em particular naquela época.


Nossa Senhora do Rosário – Imagem na Igreja de S. Domingos, Lisboa
Devemos ter presente que o Convento da Serra, que existiu na Paróquia de Santo António da Raposa, era habitado por frades dominicanos (ver aqui)

Tendo como ponto de partida um artigo de Carlos Alberto Ferreira Almeida, intitulado “O Culto a Nossa Senhora, no Porto, na época moderna”, podemos melhor perceber a devoção mariana neste hiato temporal. Com efeito, o culto da Mãe de Cristo acentuou-se a partir do final da Idade Média, deixando a designação de “Santa Maria” para “Nossa Senhora”, assumindo nesta última forma as mais variadas causas, conforme as invocações, substituindo os santos patronos dessa mesma causa (ex: Nossa Senhora do Leite substitui S. Mamede para a amamentação, Nossa Senhora da Saúde substitui S. Roque e S. Sebastião para a peste, Nossa Senhora da Ajuda substitui S. Pedro para as comunidades piscatórias, Nossa Senhora da Vitória substitui S. Jorge para as causas militares). Contudo, num pequeno espaço podia existir mais que um culto a Nossa Senhora, com invocações diferentes. Por exemplo, na Paróquia de Campanhã, segundo as Informações Paroquiais de 1758, existiam seis capelas dedicadas a Nossa Senhora, sob a invocação de Nossa Senhora da Graça, da Vida, do Rosário, da Conceição, do Pilar e dos Anjos.

O culto a Nossa Senhora do Rosário, do Carmo, da Silva e da Boa-Morte vêm substituir o patronato de S. Miguel na defesa-guarda dos túmulos e almas. Crê-se que Nossa Senhora assiste aos julgamentos dos seus devotos, intercedendo pelos mesmos, colocando a sua touca ou rosários no prato da balança dos méritos. É durante a época moderna que se origina o hábito dos mortos levarem um rosário para a sepultura e que este passe a ser recitado nos velórios. Não devemos esquecer que, além do apadrinhamento de Nossa Senhora do Rosário patente nos registos paroquiais de Santo António da Raposa, foi ainda encontrada no espaço do paço, segundo Evangelista (2015) uma medalha de Nossa Senhora da Boa Morte, com a data de 1732 gravada, o que atesta a devoção neste local a Nossa Senhora sob a causa da morte e julgamento no além. 

Medalha de Nossa Senhora da Boa Morte, encontrada no Paço Real da Ribeira de Muge.
Foto de Manuel Evangelista.

Segundo Almeida (1979), torna-se prática ao longo dos séculos XVII e XVIII, na configuração das igrejas, serem dados os dois altares laterais ao altar-mor (os com mais destaque na igreja) a Cristo Cruxificado (por norma à direita) e a Nossa Senhora, sendo mais comum nas invocações de Nossa Senhora Dolorosa e Nossa Senhora do Rosário. Na Igreja Paroquial de Santo António da Raposa, e apesar da sua diminuta dimensão, podemos constatar que apesar de não existirem altares laterais, há duas bases para santos que ladeiam o altar principal. Enquanto que Cristo Cruxificado está, neste caso, no altar principal, com o sacrário. No lado encontramos Santo António (Padroeiro da igreja e da Paróquia) e no lado esquerdo Nossa Senhora de Fátima. Teria aqui estado, antes dos fenómenos da Cova da Iria, Nossa Senhora do Rosário?


Altar Principal da Igreja Paroquial de Santo António da Raposa.
Vê-se, a ladear o mesmo, as imagens de Nossa Senhora de Fátima e de Santo António.

Como já referimos, os batismos apadrinhados por Nossa Senhora do Rosário são no total quatro. O primeiro data de 11 de março de 1728, de um menino chamado Manuel, filho de Lúcia Maria (moça solteira), moradora no Casal do Moinho de Vale Flores (já na Paróquia do Espírito Santo de Vale Cavalos).

A 19 de novembro de 1732 volta a ser invocada Nossa Senhora do Rosário para apadrinhar José, o segundo e último filho de Francisco Oliveira e Domingas Dias, moradores em Pero Pez. Esta criança morrerá menos de um ano depois a 30 de setembro de 1733. Em 2 de fevereiro de 1733, Nossa Senhora do Rosário é madrinha de batismo de Anastácio, também segundo filho (em seis) de José Gonçalves e Josefa Maria, moradores no Passo dos Negros. Para além de serem estas duas crianças segundos filhos (ou pelo menos os segundos de que há assento paroquial), foi ainda mencionado no seu registo que o apadrinhamento de Nossa Senhora do Rosário de deve à devoção dos pais.

O quarto e último assento, datado de 5 de fevereiro de 1737, menciona que Nossa Senhora do Rosário apadrinha o batismo de João, terceiro filho (de quatro) de Inácio Santiago e Josefa Maria, moradores nos Paços dos Negros. Esta criança irá morrer a 8 de agosto do mesmo ano, cinco meses após o batismo.

Deixando de parte agora o caminho dos factos, poderemos entrar em algumas conjeturas e levantar interrogações pertinentes, a nosso ver, para o culto de Nossa Senhora do Rosário pelas gentes da Ribeira de Muge. Assim:

- Apesar da devoção, seria este apadrinhamento “santo” um meio de procurar o auxílio divino para a criança? Com efeito duas das crianças morrem pouco tempo depois do batismo. Estariam já aquando do batismo doentes e prever-se uma morte no médio prazo? Seriam os conhecimentos médicos suficientes já para prolongar por meses a vida de um recém-nascido? Apesar não existir registos de óbitos dos outros dois, podemos considerar que poderiam melhor da maleita e escapar, ou o seu sepultamento ter sido noutra paróquia.

- Por outro lado, a invocação de Nossa Senhora do Rosário como madrinha de batismo pode ser o meio de obter graças divinas para a criança que está a ser limpa do pecado original, quando a sua condição de nascimento não é a mais favorável? Com efeito, a primeira criança foi concebida fora do casamento, enquanto que as restantes três não são primogénitos (tanto o filho de Francisco Oliveira como o de José Gonçalves tinham uma irmã mais velha, o de Inácio Santiago tinha uma irmã e um irmão).

- Porquê Nossa Senhora do Rosário? Além dos motivos aludidos anteriormente, da sua grande devoção nesta época, como também já foi mencionado atrás, existia um convento na paróquia, o Convento Dominicano de Nossa Senhora da Serra. Encontramos em Lisboa, precisamente na Igreja de S. Domingos (integrante do antigo convento dominicano da capital) uma imagem da Virgem do Rosário. Sabemos que na Igreja de Santo António da Raposa existiu uma imagem de Nossa Senhora do Rosário (roubada aquando de um assalto em fevereiro de 2002). Terá ela vindo no Convento da Serra? Terão os frades influenciado este culto nas populações?

Imagem de Nossa Senhora do Rosário na Igreja de Santo António da Raposa
Fotografia recolhida por Manuel Evangelista

- Por fim, Almeida (1979), afirma que na Igreja da Foz do Douro (Porto), havia dois altares à Virgem do Rosário, cada um com a sua própria confraria. A celebração de uma festividade era a 15 de agosto, e a segunda no primeiro domingo de outubro. Esta última, segundo as Informações Paroquiais, era a festividade “dos pretos”. Seria este um culto do povo negro, que bem sabemos ter aqui uma forte presença.
  
Bibliografia e outras fontes:
(1706-1741). Livro dos defuntos, dos baptizados e dos casados – Raposa (Sto. António).
ALMEIDA, Calos Alberto Ferreira (1979). “O Culto a Nossa Senhora, no Porto, na época moderna”, Revista de História, vol. 2. Porto: Centro de História da Universidade do Porto.

EVANGELISTA, Manuel (2015). A Capela de S. João Baptista. S/l: ed. de autor. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O senso comum como ciência, ou puro embuste ao mais alto nível?

Muito se tem discutido sobre a presença de marcos miliários junto a Alpiarça. Outros dizem entre Almeirim e Alpiarça. Os mais ousados decerto bem informados, decerto bebem do fino, talvez escondendo algo ao mundo científico, avançam com a frase: “recentemente identificados”). já que foram descobertos recentemente, eu gostaria de ver os ditos. Será isto senso comum como ciência, ou puro embuste ao mais alto nível?

Conferir o doc. abaixo:
…os marcos miliários recentemente identificados, pertencentes à via romana que ligava Lisboa a Mérida…
Brasão de Almeirim
Brasão de Almeirim
[GEOGRAFIA  E LOCALIZAÇÃO
Almeirim é uma cidade portuguesa pertencente ao Distrito de Santarém, com cerca de 10 520 habitantes.
Desde 2002 que está integrada na região estatística (NUTS II) do Alentejo e na sub-região estatística (NUTS III) da Lezíria do Tejo; continua, no entanto, a fazer parte da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, que manteve a designação da antiga NUTS II com o mesmo nome.
Pertencia ainda à antiga província do Ribatejo, hoje porém sem qualquer significado político-administrativo, mas constante nos discursos de auto e hetero-identificação.
É sede de um município com 221,80 km² de área e 22 766 habitantes (2006), subdividido em 4 freguesias.
O município é limitado a norte pelo município de Alpiarça, a leste e nordeste pela Chamusca, a sul por Coruche e Salvaterra de Magos, a oeste pelo Cartaxo e a noroeste por Santarém.]

Eis o que nos diz André de Resende no seu Livro “Antiguidades da Lusitânia”, O LIVRO ONDE TODOS DIZEM BEBER. Tradução de Raul M. Rosado Fernandes:
…Por outro lado, o caminho a partir de Santarém, sobranceiro ao ópido de Almeirim, era conduzido pelas nascentes do rio Alpiarça. [no original, per Alpiarsae fluvii initia ducebatur]. Em qualquer lado se vêm grosseiros fragmentos de colunas, das quais nada havia a transcrever.

Depois, apesar de ter encontrado no caminho quatro colunas caídas, apenas pude ler numa delas o seguinte:
«O imperador César Gaio Júlio vero, nobre general vencedor cinco vezes, com o poder tribunício, cônsul, procônsul, Pai da Pátria…».

Mil passos depois estão tombadas três colunas:
«O imperador César, divino Trajano Augusto, Germânico, Pontífice Máximo, duas vezes com o poder tribunício, restaurou onze».
A segunda estava partida e apenas tinha no fim estas letras:
«Restaurador da cidade de Roma».
[Na terceira]:
«Ao Imperador César Cláudio Tácito, Pio, Feliz, Invicto, Augusto, Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, procônsul…»

Mil passos depois e estavam três colunas, duas caídas, com letras desgastadas pelo tempo, e uma de pé que tem o seguinte:
«Ao Imperador César Marco Cláudio Tácito, Pio, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria…»

Mil passos a seguir estão duas colunas tombadas e no fim de uma delas apenas podem ser lidas as palavras:
«Cônsul pela quarta vez, procônsul, refez».

Mil passos adiante, junto à encruzilhada a que chamam Mestas, estão quatro colunas caídas. Três têm inscrições inutilizadas, mas numa lê-se:
«O Imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximiano, Pio, Feliz, Invencível, Augusto, Pontífice Máximo, Pai da Pátria, no segundo poder tribunício, cônsul, Pai da Pátria, ters vezes com o poder tribunício, cônsul Germânico Máximo, Dácico Máximo, e Gaio Júlio Vero Máximo, nobilíssimo César, Príncipe da Juventude, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, quarto filho do imperador César Gaio Marco Júlio Vero Maximino, Pio, Feliz, Augusto, Germânico Máximo, Dácico Máximo, Sarmático Máximo, Valentíssimo».

Do original, livro terceiro, eis a transcrição da última coluna:


Vemos que Resende localiza os miliários encontrados, NUM TROÇO DE 5 MILHAS, à distância de uma milha uns dos outros, nas nascentes "do Alpiarça", e o último em Mestas, [concelho de Abrantes].

Perguntamos: Valerá a pena ter medo de discutir estes temas, continuando iludir a ciência e a laborar em possíveis erros, e omitindo a verdade? Em troca de quê?


* negritos do autor.

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Vamos apoiar um projecto

Eis um projecto que deveria ser imediatamente estudado e colocada a possibilidade de a Câmara de Almeirim apoiar, quiçá cedendo os seus terrenos (da Junta de Fazendas), mediante estudo, pois trata-se de uma oportunidade de desenvolver toda esta região da Ribeira de Muge. Existem 500 ha de terrenos que queriam delapidar com construção maciça de uma prisão, e invasão desinteressante. Penso que este será um projecto que trará diariamente muito turismo cultural. (Não conheço o Joaquim Fitas, mas como li que tem 10 ha de terreno, o que são 10 ha para um projecto deste interesse concelhio? Penso que deve ser a câmara a contactá-lo, de modo a fazer este estudo, e não ficar à espera que as pessoas se sujeitem com pedintes que não são, mas cidadãos com direitos e deveres).



Dromedários, mochos, cangurus, falcões, gazelas, zebras, cisnes, veados. Esta é apenas uma pequena...

terça-feira, 11 de agosto de 2015

COMUNICADO: Academia Itinerarium XIV entrega carta aberta ao Executivo da Câmara Municipal de Almeirim


COMUNICADO

Academia Itinerarium XIV entrega carta aberta ao Executivo da Câmara Municipal de Almeirim

A Academia Itinerarium XIV entregou hoje ao executivo da Câmara Municipal de Almeirim uma carta aberta (reproduzida abaixo) onde exprime as suas preocupações com o estado de conservação do Paço Real da Ribeira de Muge (em Paço dos Negros – Almeirim).

Certa que este não é o melhor momento, do ponto de vista financeiro, para empreender o projeto de dignificação cultural que este espaço merece, está a academia crente que se não se tomarem algumas medidas de conservação preventiva, o conjunto existente corre sérios riscos, podendo ruir ainda mais, e não chegar ao “momento” em que exista oportunidade de o valorizar.
As principais preocupações expostas dizem respeito aos pavimentos de tijoleira, arranques de paredes e cantarias de portas existentes em zonas já desaparecidas, assim como o portal e pontes pedonais sobre a Vala do Pomar.

A academia termina a sua carta mostrando toda a disponibilidade para colaborar com o município na valorização do Paço Real da Ribeira de Muge.

Paço dos Negros, 11 de agosto de 2015


A Academia Itinerarium XIV é formada por um grupo de cidadãos da Ribeira de Muge, e tem como objetivo da valorização do património histórico, arqueológico, molinológico, etnográfico e popular das comunidades que vivem junto à Ribeira de Muge. Adotou o nome da via romana que passaria nesta zona – O Itinerarium XIV. Tem desenvolvido vários momentos culturais, nomeadamente com os 500 anos do Paço Real da Ribeira de Muge (em 2011 e 2014), participação na iniciativa de âmbito nacional “Dia dos Moinhos Abertos” (em 2014 e 2015), e já trouxe três vezes a Paço dos Negros Deana Barroqueiro (autoria do romance histórico “D. Sebastião e o Vidente”, com passagens no Paço Real da Ribeira de Muge). Para além disto, vai publicando no seu blog os mais variados artigos de opinião e de investigação dos seus elementos sobre a cultura da sua comunidade.