A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

O Dia Prodigioso





Peça de teatro protagonizada pelos elementos da academia, apresentada no dia 10 de junho. É a história de um militar chamado para a Guerra Colonial e as angústia de uma família. 

terça-feira, 24 de junho de 2014

S. João Baptista, o primeiro patrono de Paço dos Negros.

Sendo hoje o dia de S. João Baptista, e sendo ele o patrono da capela do Paço Real da Ribeira de Muge, parece-nos ser o dia ideal para apresentar este tema no empreendimento anual que fizemos sobre o paço. Tendo a religião uma forte presença no dia-a-dia do séc. XVI, e sendo os monarcas portugueses extremamente religiosos, faz todo o sentido que a construção de um paço previsse a existência de um templo religioso.
  

São João Baptista, no altar-mor da Igreja Paroquial de Almeirim.
Escultura atribuída a Machado de Castro.

O primeiro capelão que temos conhecimento foi o frade franciscano da Ordem Terceira, Diogo Pacheco, datando de 1532 o pedido ao papa por D. João III para que este servisse na “capelania da capela dos meus paços da Ribeira de Muge”. Este pedido menciona que o rei estava “de sua bondade bem enformado e por os vezinhos dali d’aredor estarem dele e de seu serviço contentes”. Poderá esta afirmação querer dizer que este religioso já exercia o cargo, tratando-se o pedido apenas de uma oficialização?

A 2 de setembro de 1551 foi nomeado para o cargo de capelão António Valente, clérigo de missa, residente em Santarém. Este teria de dizer missa na “capela dos Paços da ribeira de Muja” aos “domingos e festas do ano somente, e todas as outras missas que nela for obrigado a dizer, dirá nesta vila de Almeirim”. Não tinha este obrigação de viver no paço, e tinha como ordenado seis mil reais, três moios de trigo, um tonel de vinho e quatrocentos reais para palha. A nomeação de António Valente foi em substituição de Frei Pedro Mora, que falecera. Teria existido algum outro capelão entre este Frei Pedro Mora e Diogo Pacheco?


Edifício conhecido como “Escolas Velhas”, onde existiu a Igreja do Divino Espírito Santo da Ordem Terceira de S. Francisco.

Sabemos que em Almeirim existia, desde 1527, uma Igreja e um Hospital dedicados a Nossa Senhora da Conceição, ligados à Igreja do Divino Espírito Santo, sede da Ordem Terceira de Francisco. Não seria estranho se Diogo Pacheco estivesse ligado a esta instituição, sendo por isso normal a sua nomeação para capelão da capela do paço em 1532. Já Frei Pedro de Mora, é mencionado num recibo de uma tença em 1525 como prior do Convento de Nossa Senhora da Serra. Quanto a António Valente, podemos levantar algumas interrogações. Seria também um frade do Convento da Serra? Ou a ausência da sua designação como “frei”, relevaria que pertencia ao clero regular? Com efeito, a sua nomeação diz que era “clérigo de missa, morador da vila de Santarém”, não aludindo a qualquer casa monástica ou conventual.

O que é facto é que a partir do dia de S. João Baptista (24 de junho) de 1560, passava a capela do Paço Real da Ribeira de Muge para os frades. O Alvará menciona que tal acontece por falecimento do capelão, António Valente. Passavam estes a receber o mesmo valor em géneros e dinheiro que recebia António Valente, mediante uma certidão do almoxarife do paço, em como efetuavam os serviços para os quais eram nomeados. Estabelece-se a partir daqui uma relação entre estas duas casas, que falamos aqui.


Pórtico do Convento da Serra, único vestígio arquitetónico subsistente desta casa conventual no lugar onde ela se ergueu.

Os documentos encontrados por Evangelista (2011) aludem a duas capelas neste espaço. Uma, de invocação de S. João Baptista (mencionada em 1758 e 1764) e a Real Capela de Nossa Senhora da Graça (aludida em 1749). O autor aventa que a primeira capela seria de utilização pública, para as celebrações religiosas e que aí assistiriam não só os residentes no paço como também as populações que vivessem nas cercanias (o que pode ser corroborado pelo facto de o pedido de súplica para Diogo Pacheco mencionar que a população estava contente com ele). A outra seria de uso privativo dos monarcas, e as cerimónias aí realizadas seriam de validos próximos a estes. Noutros documentos aparece apenas a referência à “capela [ou ermida] de Paço dos Negros” ou então “Real Capela de Paço dos Negros”, sendo que, com a ausência de invocação, se deduz que a adjetivação de “real” se refere à Capela de Nossa Senhora da Graça.

Tendo presente esta linha de pensamento, pode inferir-se que o edifício que chegou aos nossos dias no complexo do paço será a Capela de S. João Baptista, pela feição que tem, marcadamente pública, isto é, aberta a todos. Ficou registada a memória de ainda ter funcionado, ainda que esporadicamente, em ofícios religiosos, até à segunda metade do séc. XIX. Desta forma, podemos levantar a questão: onde ficaria a Real Capela de Nossa Senhora da Graça? Dela já se perdeu a memória. Sendo uma capela de cariz privativo e particular (quem sabe, até pouco mais que um pequeno aposento adornado com um oratório, ainda que ricamente decorado), ficaria na parte residencial do paço, precisamente aquela que desapareceu e que aludimos aqui


Reconstituição do interior do paço, com o enquadramento da capela.
Aguarela de Maria Nélia Castelo.

A Capela de São João Baptista é um edifício de uma só nave, com telhado de duas águas. Estaria inserida no alpendre existente na frente daquela parte do paço, que arrancando da parede do pórtico, faria um L no pátio. Na fachada principal tem uma janela gradeada, alinhada com a porta. A porta tem a soleira em cantaria, ainda que sem decorações de relevo, ou pelo menos estas não chegaram aos nossos dias. O edifício tem ainda à direita da porta um contraforte arredondado. Teria sido adicionado aquando da demolição do alpendre, para reforço da estabilidade do edifício? Antes de ter sido rebocada, era visível acima da porta um buraco. Há memórias que acima da porta da capela existia uma pomba em pedra. Seria uma invocação do Espírito Santo, nesta capela? Ou seria o buraco simplesmente originário do arranque de uma trave do alpendre?


Interior da Capela de S. João Baptista, em 2009.

 Exterior da capela, em 2006. É visível o buraco por cima da porta.

A capela foi dessacralizada no final do séc. XIX ou início do séc. XX. Sabemos que teve anos a fio a função de celeiro do moinho, sendo que, por essa razão, levou entaipada a porta da frente e passou a ser utilizada a porta das traseiras. Não sabemos se essa mesma porta foi apenas rasgada nessa altura, ou se já existia. Parece contudo estranho que, sendo rasgada nessa altura, levasse uma abóbada em tijoleira como tem. De estranhar igualmente o nicho existente junto a esta porta, entaipado, mas abobadado.


Capela em 2002, onde é visível a porta entaipada. 


Fachada traseira da capela, em 2006. Porta possivelmente rasgada no início do séc. XX. É visível o nicho entaipado à direita.


Nicho entaipado, após ter sido rebocado.

Bibliografia
(1532). Carta de D. João III ao Doutor Brás Neto. Pag. 716-720, 2013. XI, 8-19.
CASTELO, Maria Nélia (2012). O Palácio Manuelino da Ribeira de Muge, trabalho de âmbito académico do seminário em Itinerários e Paradigmas Monumentais.
CLÁUDIO, António (2005). “As Escolas Velhas”, Conhecer Almeirim, vol. 2. S/l: Ed. Câmara Municipal de Almeirim.
EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.



sábado, 14 de junho de 2014

Portugal em Guerra(s)





Segunda parte da iniciativa:



- Manuel Ferreira, com poesia da sua autoria, sobre a sua vida militar.



- "Adeus minha querida amada", por Manuel Evangelista, declamado. 



- "A Guerra Mundial", por Zézinha e Cilita, cantada. É a única música temos sobre a 2.ª Guerra Mundial.



- "A Noiva", declamada pelo coro da Academia.

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Portugal em guerras





Primeira parte do evento "Portugal em Guerra(s)", com os seguintes temas:



- Aldeia de Marianos (declamado, por Zézinha)

- António Domingos (cantado, por Maria Claudina)

- Nove de Abril, Meu Amor (declamado, por Samuel)

- D. Inês (cantado pelo coro da Academia)



Os três primeiros temas dizem respeito à primeira Guerra Mundial. O quarto é um tema do romanceiro medieval, trabalhado pela academia. 

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Comunicado - Cultura Popular de Paço dos Negros – Portugal em Guerra(s)

Decorreu no dia 10 de Junho no Paço Real da Ribeira de Muge (Paço dos Negros – Almeirim) a iniciativa “Portugal em Guerra(s)”, que pretendeu assinalar os 100 anos do início da 1.ª Guerra Mundial e os 40 anos do final da Guerra Colonial. Nesta iniciativa, promovida pela Academia Itinerarium XIV, foi dado a conhecer as músicas e a poesia popular, recolhidas às pessoas mais idosas onde transparecem marcas culturais que os conflitos bélicos deixaram nesta comunidade rural ao longo do séc. XX.
Para além disto foram ainda protagonizados dois momentos teatrais, nomeadamente o Monólogo “Tempos de Fome” (que retrata a miséria e a fome no Portugal entre guerras) e a peça de teatro “O dia prodigioso” (que abordou a chamada para a Guerra Colonial de um rapaz). Foi ainda lido um excerto de “D. Sebastião e o Vidente”, de Deana Barroqueiro, passado no Paço Real da Ribeira de Muge, assim como declamados alguns sonetos do poeta Almeirinense Francisco Henriques, do seu livro “Cântico à Minha Terra”. Foi o público ainda brindado com a presença da escritora Sílvia Raposeira, que nos declamou alguns poemas da sua autoria.
A plateia esteve atenta e aplaudiu entusiasticamente o programa apresentado. Estiveram presentes variadas pessoas que vieram de fora, de propósito para assistir a esta programação cultural. Com esta manifestação a Academia sente-se essencialmente motivada para seguir os objectivos a que se propõe: defender e divulgar a cultura e o património das comunidades que vivem em torno da Ribeira de Muge (Paço dos Negros, Marianos, Raposa, entre outros).
A academia manifesta ainda o seu agradecimento a Sílvia Raposeira, por ter aceitado associar-se à Academia nesta iniciativa. 
Maria Claudina interpretando "António Domingos", uma música sobre um soldado daqui que morreu na 1.ª Guerra Mundial. 
Coro da Academia
Manuel Ferreira, declamando um poema da sua autoria, acerca da sua vida militar.
Monólogo "Tempos de Fome", interpretado por Catarina Fidalgo.
Sílvia Raposeira, declamando poesia da sua autoria.
Aquilino Fidalgo apresentando excerto de “D. Sebastião e o Vidente”
Aquilino e Samuel – Poema “Treme Tudo”
Abaixo: Peça de teatro "O Dia Prodigioso"

Algum do público que esteve presente.



segunda-feira, 9 de junho de 2014

O Dia Prodigioso - Sinopse

No início dos anos 60 eclodiu uma revolta em Angola, colónia portuguesa, reformulada com o estético nome de “província ultramarina” pelo então governo do Estado Novo. Esta alastrou a duas outras frentes. Moçambique e Guiné juntam-se a Angola na rebelião pelo desejo de autonomia dos seus territórios. Estala então a chamada “Guerra Colonial”, em que milhares de jovens portugueses foram chamados a por a sua vida em risco, em nome da manutenção do Império Português, quando todos os países europeus já tinham dado a independência às suas colónias. Quantos fugiram? Quantos se esconderam? Quantos foram? Quantos voltaram? Todos aguardam um dia – o Dia Prodigioso – em que a guerra terminaria. Em que poderiam voltar a dormir descansados, sem o fantasma dos filhos que iriam para a guerra. Esta é a história de um rapaz que se escondeu, de que ninguém fala, e que tem como ponto de partida alguns factos reais. 
Soldados portugueses num comício do MPLA em 1974

Amanhã, a partir das 17.30 no Paço Real da Ribeira de Muge. Não se esqueça de marcar presença!

segunda-feira, 2 de junho de 2014

COMUNICADO – Portugal em Guerra(s) - Iniciativa Cultura


COMUNICADO – Portugal em Guerra(s)

Neste ano que se assinalam os 100 anos do início da Primeira Guerra Mundial, assim como os 40 anos do fim da Guerra Colonial, a Academia Itinerarium XIV empreendeu para o próximo dia 10 de junho, feriado nacional, uma iniciativa cultural a que chamou “Portugal em Guerra(s)”. Esta iniciativa terá lugar no Paço Real da Ribeira de Muge, em Paço dos Negros (Almeirim), e terá início as 17.30h.

Aqui serão assinaladas as efemérides aludidas, com declamação e um coro de músicas que fazem parte do Cancioneiro da Ribeira de Muge, assim como dois momentos teatrais, inspirados em factos reais: o monólogo “Tempos de Fome”, que remete para o tempo da fome entre as duas guerras mundiais, e a peça “O Dia Prodigioso”, sobre um rapaz chamado para a Guerra Colonial.

Para além disso, será igualmente celebrado este dia com a história do paço e os 40 anos da revolução de abril através da declamação de prosa e poesia de vários autores, nomeadamente Sílvia Raposeira, que será a convidada de honra para este evento, e que irá declamar alguns poemas da sua autoria.
Soldado da 1.ª Guerra Mundial, natural da Ribeira de Muge, em França. (1918).


Rapariga da Ribeira de Muge a ler carta do namorado, que estava na Guerra Colonial. (1965)

Soldados portugueses, entre os quais um natural da Ribeira de Muge, no primeiro comício do MPLA em Henrique Carvalho, Angola. (1974).


A Academia Itinerarium XIV é constituída por grupo de cidadãos ligados à Ribeira de Muge, que têm como objetivo estudar, defender e divulgar o património deste local, nas suas várias vertentes (histórico, etnográfico, arqueológico, molinológico, entre outros). Sílvia Raposeira é professora de inglês e editou recentemente o seu primeiro livro, o romance “O Ciclo da Esperança”.


Academia Itinerarium XIV:
- Email: academia.xiv@gmail.com