A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Um contributo para o desenvolvimento sustentado da Ribeira de Muge

Em boa hora começam a surgir estudos sérios e científicos sobre a Ribeira de Muge. É o caso do presente trabalho inserido na tese de Mestrado da Universidade de Coimbra, Curso de Gestão e Programação do Património Cultural, do nosso conterrâneo Samuel Tomé.
Trata-se de um trabalho muito completo sobre os moinhos desta ribeira, sua história desde o século xv, minucioso enquadramento nas diversas tipologias e uma visão interessante de como este riquíssimo património pode ser factor de desenvolvimento económico.

Está o Autor e também a Ribeira de Muge de parabéns.

capa samuel

sábado, 24 de novembro de 2012

Paço dos Negros, a Tacubis das Tábuas de Ptolomeu - uma forte hipótese

  1 ptolomeu


Fazendo uma análise relacional das coordenadas de Ptolomeu, Tacubis com os valores de 6º, 20´; 40º, 45´. De Scalabis, 15´a sul e 20´para leste. De Ebora, 55´ a norte e 40´ para oeste, assenta Tacubis muito próximo do local da Paço dos Negros actual.
Évora com as coordenadas 39º,50´ de latitude norte, Santarém 41º,00´ (40º, 55´ em Saa), Tacubis 40º,45´: Dista Évora de Santarém, por estrada, cerca de 120 km. Paço dos Negros dista 100 km de Évora e 20 de Santarém. Ambas as distâncias confirmam uma relação correcta das coordenadas, pois atestam a conformidade de a cada grau de latitude corresponder cerca de 110 km. O que não acontece em relação à região de Abrantes.
Mário Saa que afirma a via XIV do Itinerarium assentando na ribeira de Muge, teria considerado correctamente Tacubis a sudeste de Scalabis. Parece-nos, todavia, que o principal erro de Saa reside em ter considerado, contra todas as evidências, e segundo os mais respeitados estudiosos do tema, Scalabis em Tomar. (ver mapa, pág. 31).
(do Livro Paço dos Negros da Ribeira de Muge-A Tacubis Romana)

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domingo, 18 de novembro de 2012

O pão

A propósito de uma questão de trânsito em Almeirim, aliás (não) resolvida do modo mais sábio e saboroso.

Segundo o sociólogo alemão, Norbert Elias, o pão revela toda a cultura de um povo. Diz ele que, entrando numa padaria, fica-se a conhecer o seu presente, mas também todo o seu passado.

Desde sempre o pão na nossa cultura se reveste de uma dignidade própria. Quem não se lembra de ver os nossos pais e avós (ou não o pratica) que, ao cair ao chão um pedaço de pão o apanhavam e, beijando-o, o aproveitavam. De terem o cuidado de nunca deixarem o pão virado de costas.

A própria etimologia da palavra pão nos revela a dignidade e riqueza associadas às palavras estruturantes da sociedade, como pai, pátria, patrão, padeiro, padrinho, papa, etc.

O sociólogo Fernand Braudel, por sua vez, distingue o processo evolutivo da humanidade, em três grandes civilizações, cada uma delas associada basicamente a uma espécie de cereal, durante milénios, que considera plantas de civilização: A asiática ligada ao arroz, a ameríndia ligada à cultura do milho e a europeia que nasceu no Crescente Fértil, herdeira da cultura do trigo, a que associa o que considera o superior desenvolvimento da sociedade ocidental pelas propriedades alimentares deste cereal.

Hoje a sociedade é essencialmente prática e funcional, o simbólico não é percebido ou não tem lugar, pelo que podem parecer, estas divagações, não aplicáveis nos dias que correm.

Mas não é assim. O simbolismo do pão continua presente na nossa cultura.

Vêm estas considerações a propósito do tratamento diferenciado que a nossa sociedade continua a dar a locais onde o pão (e seus derivados) é rei e senhor.

Experimente o meu caro visitante deste blogue passar em Almeirim, pela rua Condessa da Junqueira e veja em frente à padaria ali existente os carros estacionados em cima dos passeios, o trânsito não raro parado, enquanto os seus proprietários se abastecem de um aromático pão quentinho, ou se deliciam com um saboroso bolo e um cafezinho, com toda a compreensão da sociedade.

Pão acabado de cozer. Foto desse ritual, há 4 anos, em casa da senhora do meio, que faria agora 100 anos.

pão

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Contos de Entre-Muge-E-Sorraia.

A todos os amigos que gostam destas coisas da cultura popular, quero agradecer o apoio que deram ao livro Histórias Ferroviárias.

Terminada esta tarefa (falta apenas entregar meia dúzia), é preciso passar a outra etapa.

 

Alguém disse que a cultura local, sendo genuína, é o que há de mais universal.

Por isso, quero comunicar que ainda antes do Natal vai sair o livro Contos de Entre-Muge-E- Sorraia.

Trata-se de um livro de contos populares, recolhidos entre as gentes rudes deste recanto do nosso país, região de caseiros, cabreiros, porqueiros, a que Mário Saa chamou “o maior deserto humano de Portugal”, o triângulo Almeirim, Coruche, Ponte de Sor, que abraçam toda uma cultura rude mas fabulosa: contos simples e rudes mas cheios de uma sabedoria ancestral, contos jocosos, maravilhosos, fábulas mitológicas, humorísticas, morais.

São contos situados geograficamente, mas que na realidade vão beber ao imaginário da humanidade inteira; porém, algum valor se o tem, provém de se tratar de uma (re)criação local: contos nos quais as gentes, os animais autóctones, os lobos, as raposas, as cegonhas, os burros, os sapos…, são omnipresentes. Região tão genuína ainda que, até a toponímia, como nenhuma outra, vive do nome dos animais.

A edição é muito limitada, é de colecção, 75 exemplares, pois o que me interessa é a publicação, o registo da cultura desta minha terra e da minha gente, com dignidade, sem pedir favores que são sempre tolhedores do progresso e da liberdade criativa. O preço é de 5 euros.

 

Índice DO LIVRO

PREFÁCIO 7

O REAL CAVALO MOUFÃO 9

OS OITO TOSTÕES 11

DÁ A MOSCA NOS HOMENS 13

O JUÍZO, O VENTO E O ORVALHO 15

PORQUE É ETERNO O POUCO-JUÍZO 16

AMIGOS, AMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE! 19

UM PADRINHO NA BEIRA 20

OS GALEGOS, OS BARRÕES, OS BIMBOS, OS CARAMELOS E OS GAIBÉUS 21

OS CIENTISTAS E O BURRO SABICHÃO 23

A CASA DA ALORNA. QUEM LÁ VAI… 24

O PEIXE AZUL 28

O PINTO DAS ANDARILHAS DE PAU 31

A VELHA DA CABAÇA 33

O BURRO, A FOICE E O GALO 34

O PRÍNCIPE RAMOS-VERDES 38

OS DOIS IRMÃOS E A PRINCESA 42

A PRINCESA E O CABREIRO 44

O JOÃO DAS PATETICES 46

SÓ UM SALAMIM 48

O MAIO GRANDE 50

O EMPRÉSTIMO 53

A FLAUTA MÁGICA 54

A VELHA E O SAPATEIRO 56

O ZÉ MATIAS 58

O APOSTADOR 59

O ZÉ MOCHO 60

A BURRA CARREGA-SE ATÉ CAIR 61

O GALO 62

O RATO, A RÃ E O BESOURO 63

O MAL DA FRUTA 64

JÁ VIRAM ISTO? 65

A GRAVATA 66

OS VELHOS ZANGADOS OU O GATO NABULALÁ 67

AS LUVAS DE PELE DE OURIÇO 68

A MANTA REPARTIDA 70

O LAVRADOR E AS FIGUEIRAS-DO-INFERNO 72

A CASA GRANDE DEMAIS 73

UMA TROVOADA SANTA 75

A RACHINHA 77

A PRAGA 79

A REVOLUÇÃO EM ALMEIRIM 80

AS ALMAS DO OUTRO MUNDO 81

ERA SERVIÇO QUE SE HAVERA DE FAZER… 83

AS APARÊNCIAS ILUDEM 85

O COMPADRE RICO E O COMPADRE POBRE 86

OS POBRES RICALHAÇOS 88

A GUITARRA 89

A PELE DA BURRA 91

O BORRIFINHO E O BORRIFALHO 93

O CAÇARRETA 95

OS BICHINHOS BILROS 97

DOMINGOS OVELHA 99

O PADRE SARRAZOLA 100

PASSARINHO TRIGUEIRO 101

O PATRÃO DIZ QUE VÁ, JÁ, JÁ 102

A ALMINHA PERDIDA 103

O BACALHAU ESTRAGADO 104

AS VIZINHAS, OS CARAPAUS E O GATO 105

O REI DE BOA BOCA 107

O REI, O PADRE E A GALINHA 109

O REI E O PRISIONEIRO 110

OS FIGOS DO REI 111

A CIGARRA BANDARRA E A FORMIGA RABIGA 112

A RAPOSINHA GAITEIRA 113

O PORCO E O BURRO 114

DEZOITO POR CIMA DO MOIO! OU A LEBRE E O SAPO 115

O RATO E A RÃ 118

O HOMEM E O LOBO 119

VOZES DE BURRO 120

A RAPOSA E O BURRO 121

A RAPOSA RABICHA E O CÃO 122

O MELRO E A RAPOSA 123

A RAPOSA E O LOBO 125

O LOBO E A RAPOSA 128

O LEÃO E A VACA 129

UM BAILE NO CÉU, OU A RAPOSA E A CEGONHA 130

O CARNEIRO E O GATO 132

O BURRO, O CÃO, O GATO E O GALO. 134

O GALO E A RAPOSA 136

A RAPOSA E O MOCHO 137

O LOBO E O CORDEIRO 138

A RAPOSA, O SARDINHEIRO E O LOBO 139

LISTA DE INFORMANTES 140

Capa do livro

capa de Contos de entre muge e sorraia

 

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