A Ribeira de Muge fica situada na orla de um dos maiores desertos humanos de Portugal, a floresta de Entre-Muge-e-Sorraia. Esta região pode exibir ainda hoje uma cultura com traços característicos muito próprios, mormente a rude cultura dos pastores, cabreiros e dos negros que aqui habitaram. São estas especificidades que a Academia persegue, "subindo ao povo", como nos diz o grande Pedro Homem de Melo, recolhe, estuda e divulga.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Paço real e o Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Atestando o que outros documentos já nos tinham revelado, como de que o Paço foi construído para "desenfado" do rei, de que o próprio escolheu e "divisou" o local, de que os escaravos eram "escravos do rei", também a capela foi mantida pela Casa Real durante mais de trezentos anos.


«O Prior e Religiosos do Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Por se haver perdido o alvará de que este assento faz menção se passou outro com “salva”? o dito prior e religiosos que vai registado no livro próprio da rainha nossa senhora a pág. 284 como dele se verá.

retirado

(RGM, 1, 192v)

E hoje, o que é que os (ir) responsáveis fazem por este monumento?

O Paço real e o Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Atestando o que outros documentos já nos tinham revelado, como de que o Paço foi construído para "desenfado" do rei, de que o próprio escolheu e "divisou" o local, de que os escaravos eram "escravos do rei", também a capela foi mantida pela Casa Real durante mais de trezentos anos.


«O Prior e Religiosos do Convento de Nª Sª da Serra de Almeirim

Por se haver perdido o alvará de que este assento faz menção se passou outro com “salva”? o dito prior e religiosos que vai registado no livro próprio da rainha nossa senhora a pág. 284 como dele se verá.

Houve Magestade por bem fazer mercê ao Prior e religiosos de Nª Sª da Serra junto de Almeirim de 25$ooo rs para compra de um macho para nele irem os religiosos do dito mosteiro aos Paços de Muja dizer na capela deles as missas que neles se dizem todos os domingos e dias santos de cada um ano por tenção dos srs reis seus antecessores que a instituíram e lhe serão pagos pelo almoxarifado das Jugadas da vila de Santarém do dinheiro que lhe ficar por despender o qual macho lhe costuma dar para o dito efeito e com certidões de como lhe morreu e que para isso tenham que apresentar no Conselho da Fazenda se mandará dar os ditos 25$000 rs para a compra de outro de que lhe faz. Passado alvará em 13 de Junho de 1658.
Assinatura indecifrada»

(RGM, 1, 192v)

E hoje, o que é que os (ir) responsáveis fazem por este monumento?

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Academia da Ribeira de Muge - Tu dantes era linda...

Não passes com ela à minha rua

Letra de Carlos Conde e música de Miguel Ramos – 1968 (da Internet)

Ao fim de tantos anos de ser tua
Amaste outra, casaste, foste ingrato;
Vi-te passar com ela à minha rua,
E abracei-me a chorar ao teu retrato!

Podia insultar-te quando te vi,
Ferida neste amor supremo e farto,
Mas vinguei-me a chorar, chorei por ti
Por entre as persianas do meu quarto!

Casaste, sê feliz, Deus te proteja,
Não te desejo mal, e tanto assim,
Que não tenho ciúme, nem inveja,
Como a tua mulher teve de mim!

Mas olha, meu amor, eu não me importa,
Antes que fosses dela eu já fui tua,
Podes sempre bater à minha porta,
Mas não passes com ela à minha rua!


Compare com a letra e música recolhidas em Paço dos Negros, junto de uma mulher nascida em 1924. Pelo tema tratado, uns desamores e ciúmes à mistura, será esta canção, (mais rude, tal como o povo), a parente mais velha dessa outra muito divulgada a partir de meados do século XX, na rádio? Contudo esta canção, segundo a nossa informante, era cantada já nos anos 30.

Tu dantes eras linda agora és feia,
Perdeste toda a beleza e toda a graça,
Devia-te ter ódio, mas não tenho,
Ainda tenho pena da desgraça.

Tu assim que chegaste à tua casa,
Apenas foste dizer mal de mim,
Nunca tive ciúmes nem inveja,
Como a tua mulher teve de mim.

Paciência meu amor, eu não me importa,
Namoraste outra casaste, foste um ingrato,
Foste passar com ela à minha porta,
Eu abracei-me a chorar ao teu retrato.

Paciência meu amor, eu não me importa,
Primeiro que fosses dela eu já fui tua,
Podes passar sozinho à minha porta,
Mas não passes é com ela à minha rua.

Podes passar por mim quando quiseres,
Que eu contigo nunca mais faço as pazes,
Podes amar centenas de mulheres,
Que eu para mim nunca mais quero rapazes.



quinta-feira, 17 de junho de 2010

O Convento de Nossa Senhora da Serra de Almeirim

Dois documentos nos falam da doação deste mosteiro aos frades dominicanos de Santarém, em 1501.

Original, Ch. D. Manuel I, Liv. 37, fol. 40.





Transcrição do original, LN, Liv. 11 da Estremadura, fol. 151, rolo 997. (trecho).



«Ao mosteiro de S. Domingos mercê da casa de Nossa Senhora da Serra de junto com Almeirim com todas suas pertenças e ornamentos e cousas que nela estão.


D. Manuel e etc., a todos quantos esta carta virem fazemos saber que confiando nós como a casa de Nossa Senhora da Serra de junto de Almeirim pudesse ser melhor provida e nela as cousas do serviço de Nosso Senhor pudessem ser melhor feitas e acerca delas pudesse haver quem melhor e mais combinadamente as tivesse e administrasse determinamos fazer da dita casa esmola ao mosteiro da Ordem de S. Domingos da nossa vila de Santarém. Porém por esta presente carta por fazermos graça e mercê ao prior e frades do convento do dito mosteiro e lhe fazemos pura e irrevogável doação deste dia para todo o sempre da dita casa de Nossa Senhora da Serra com todo o seu assento e com todas as cousas e ornamentos e quaisquer outros que até o presente nela estão e tínhamos dado para serviço da dita casa e assim inteiramente como nela todo o que a ela é decretado e ordenado nos pertence e por qualquer maneira que ao diante nos pertencer possa com obrigação que o dito prior e frades e convento do dito mosteiro que são obrigados para todo o sempre ter continuadamente na dita casa para serviço dela e para os ofícios divinos e cousas do serviço de Nosso Senhor três frades dos quais um ao menos seja de missa e que cada dia se diga uma missa ao menos de qualquer devoção santo ou santa que eles mais quiserem porque nesta parte não queremos que tenham obrigação alguma …/… Dante em a nossa cidade de Lisboa a 20? dias do mês de Abril, do ano do nascimento do nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quinhentos e um.»

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Contos do Rei Preto

Para quem não pode ler n"O Almeirinense".

O Rei Preto e o Moinho dos Frades
bronzes do Benim

Em meados do século XVI, os frades de Nª Sª da Serra de Almeirim vinham à Capela do Paço da ribeira de Muge rezar missa. Pelo seu zelo em cuidar das almas, o rei veio a dar-lhes em esmola o assento de uns moinhos na Ribeira de Muge.
O Rei Preto, homem preto da capela, já entradote nos anos, mas que mestre era em artes várias, logo que soube da real mercê aos frades, ofereceu-se para os ensinar na arte da moagem. Em troca, os frades prometeram levá-lo ao convento e o ensinariam a bem rezar o latim.
Os frades eram gulosos e, de moinhos, o que mais queriam era a farinha feita em doces bolos.
O Rei Preto, nos seus preparos da capela, passava agora os dias a rezar no seu latim, Jeju! Crasalam! Pato Nosso!:

Jeju! Crasalam! Pato Nosso! - Pater noster, qui es in caelis,
Santo paceto ranho tu - Sanctificetur nomen tuum,
E siguo valente tu - Flat voluntas tua
E sinco sego salva tera. - sicut in coelo et in terra.
Pão nosso quanto dão - Panen nostrum quotidianum
Da noves caro he - da nobis hodie
debrite nose de brita noses - et dimite nobis debita nostra
Ja libro nosso gallo. - sed libera nos a malo.
Ámen, Jeju, Jeju, Jeju.

Entretanto os freires quando pensaram que já eram mestres esqueceram-se do Rei Preto. No moinho nem vê-lo queriam agora. Que era malcriado, preto velho não aprende línguas, que se ocupasse da capela. Tinha até a única virtude de lhes estragar as meditações, diziam.
Os frades revezavam-se na tarefa de moer o pão. Era uma oportunidade de passarem a noite em meditação, a ver escorrer a alva farinha. Todos os dias, ao nascer do sol, aparecia no moinho um irmão para substituir o que lá ficara de noite.
Os monges, românticos e sonhadores, embasbacados que estavam com a beleza e a alvura da branca farinha, era tal qual como liam nos livros, nem viam o pó doentio que aquela arte acarretava; ficavam horas em meditação, a respirar o pó da farinha, e a dar graças ao Criador.
Os fregueses esses esperavam, esperavam, até que resolviam ir pela farinha a outro moinho. Breve não tiveram os frades outra solução, senão arrendar os assentos de moinho.
Sobre a regulação da água, pouco os interessou aprender do que o Rei Preto lhes ensinou. Conseguiram captar apenas, comparando com a farinha nos gulosos bolos, que a água nos rodízios sa arte de muto cência, sa de passá no quelha com conta, peso e medida.
Ora, o Rei Preto, rebelde, revoltado que era, ao sentir-se desconsiderado pensou logo em vingar-se, de modo a que os frades viessem a reconhecer a sua real autoridade na arte de moer o pão.
Então, uma fria noite de inverno foi à represa e deitou fora a adufa de madeira que regulava a água.
Sem controlo na água, o rodízio deu em rodopiar com uma velocidade tal que estragava a farinha e as mós já faiscavam lume.
O frade ao acordar da sua contemplação, atrapalhado, vai a correr à represa e, recordando-se de que a água devia passar na calha com conta, peso e medida, corre a buscar um alqueire e sentou-se dentro da levada. Quando o frade substituto chegou, estava ele em meditação, enregelado, a medir a água com o alqueire da farinha.

Nota: Conto recolhido da tradição em Paço dos Negros; foi usada linguagem de Gil Vicente, em “O Clérigo da Beira”, por sua vez recolhida junto de Fernando Frade, homem preto da capela de S. João Baptista de Paço dos Negros.



segunda-feira, 14 de junho de 2010

Recolhas da Academia da Ribeira de Muge


Nos anos 40 do século passado, o grande Manuel Certeza, fazia sucesso por toda esta ribeira de Muge.




Manuel Certeza

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Rituais de trabalho

A partir dos 10 anos, no desejo de passar ao rol das mulheres, de não serem “cortadas” no preço, as raparigas sujeitavam-se ao ritual da aguadeira.


Dois casos que tiveram sortes diversas. Quanto vale uma boa cantiga!


terça-feira, 8 de junho de 2010

Na senda dos negros benins da Ribeira de Muge

As relações com o Benim vinham-se desenvolvendo desde o final do século xv. Nos anos de 1514-16, houve um incrento destas relações, documentadas que estão.

Entre a data da escrita da longa Carta em que o rei D. Manuel, de Almeirim, escreve ao oba de Benim, acusando a recepção do seu embaixador: ATT-Fragmentos, Maço 9:

«Poderoso e nobre Rei do Benin. Nós Dom Manuel, por graça de Deus Rei de Portugal, e dos Algarves, dáquém e dalém mar, em África, Senhor de Guiné, e da conquista, navegação, comércio de Etiópia, Arábia, Pérsia, e da Índia. Vos fazemos saber que ouvimos Dom Jorge, vosso embaixador, em todo o que de vossa parte nos falou, e muito nos prouve com sua vinda a nós.../... Por que quando virmos que nas coisas de cristandade vos pondes como bom e fiel cristão, não haverá coisa em nossos Reinos com que não folgaremos de vos aproveitar, assim de armas, como bombardas e todas as outras coisas da guerra, para contra vossos inimigos, de que temos tantas como vos dirá Dom Jorge vosso embaixador. As quais agora vos não enviamos, como ele nos requereu…/…Scripta ê Allmeirim, a XX dias do mes de novenbro de 1514.
Rey»

... E a assinatura de D. Jorge, fidalgo e embaixador do Benim, em como recebe os vestidos ofertados pelo rei, decorre mais de um mês. Um mês que certamente se demorou por Almeirim, e Paço da Ribeira. (CC, 1, maço16, doc.118):

«Rui Leite mandamos vos que deis a D. Jorge embaixador del-rei do Benim um capuz pelote e calças de pano vermelho de preço de duzentos réis côvado e um gibão de chamelote dalguma cor e um barrete vermelho todo feito e tirado da costura e outro tal vestido dai a dom António seu companheiro que com ele veio e dai-lhe os ditos vestidos sem esperardes por a folha ordenada e despacham nos logo porque se hão de partir e por este alvará com seus conteúdos mandamos a vós tabeliães que vo-lo levem em conta. Feito em Almeirim a 21 de Novembro o secretário a escrevi de 514 anos.

Receberam os ditos D. Jorge e D. António de Rui Leite os vestidos acima contidos feitos e tirados da costura e seus barretes de 180 réis receberam em Lisboa a 23 de Dezembro de 514.

[ass]: Dom  Jorge e Dom António                       Jorge Correia»


domingo, 6 de junho de 2010

A Coutada da Ribeira de Muge

Documento de criação da "Coutada Nova de Almeirim".
Foi criada tal como o Paço, "para desenfadamento" do rei D. Manuel I.

Criada em 1514, a 8 de Fevereiro.  Diogo Rodrigues, primeiro almoxarife de Paço, foi nomeado, oficialmente a 9 de Fevereiro.


LN, LIV.12 DA ESTREMADURA, FOL. 11, ROLO 1008.
(apagados temas laterais, em photoshop).




Marco encontado na estrema da Coutada da ribeira de Muge, cumeada da ribeira dos Grous, fronteira da freguesia de Raposa com a freguesia de S. José da Lamarosa.


sexta-feira, 4 de junho de 2010

O Aiveca

Um caso acontecido nas charnecas entre Paço dos Negros e a Lamarosa de Coruche, em meados de século XX.
As mulheres, mais uma vez, logo cantaram a desdita de uma rapariga. (canta Vitorina Frazão-Raposa).